Uma comemoração da identidade da Fábrica Cerâmica de Valadares ao longo de mais de nove décadas.
Valadares — Desde 25 Abril 1921
Fabrica Cerâmica de Valadares
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Título Fábrica Cerâmica de Valadares Centenário
Autor Marta Meleiro
2021, Vila Nova de Gaia
Esta publicação é editada no âmbito da comemoração do centenário da Fábrica Cerâmica de Valadares.
Design gráfico e paginação Marta Meleiro Textos Marta Meleiro & Et al Impressão e acabamentos Gráfica Maiadouro
1ª Edição Tiragem 1000 exemplares Depósito legal 481 975/21 Data de impressã o Abril 2021
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» Legado, p.5 Prefácio, p.7 Nota prévia, p.9
Fábrica Cerâmica de Valadares, p.14
Produção artística, p.34 Produção industrial, p.48 Expansão fabril, p.58 Produtos Valadares, p.86 Fundação Arch, p.102 Epílogo, p.106 Bibliografia e Fontes, p.110 «
Fabrica Cerâmica de Valadares
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Legado
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Legado
Há coisas na vida que a justificam e chegar aos 100 anos é uma delas. Qualquer um de nós anseia por viver momentos inesquecíveis ou de grande significado, poder partilhá-los e sentir que contribuímos para que a história se faça. No final de um dia, de um ano, de uma vida, afinal, retemos as memórias que nos marcam e que nos fazem avançar. Com dor, com alegria, mas sempre com o sentir de que estamos vivos e de que desempenhamos um papel, mesmo sem consciência do seu significado. Falo na primeira pessoa, privilégio de muitos que me poderiam acompanhar neste momento e que viveram e sofreram por um ideal que nos captou, sem esforço, para valores e símbolos insuspeitos de uma entidade que não é o que parece, a Valadares. Não vos falo do nome de uma empresa, nem dos produtos e edifícios ou até do espaço e das pessoas que lhe deram forma e contexto. Não é lugar para a métrica, para dizer se é grande ou pequena e menos ainda para medir a história, cuja memória se alimenta de novos acontecimentos. Falo do espírito, da alma, que se transmite a quem entra e adere à força das suas paredes, à verdade dos seus colaboradores e à magia do processo de fabrico. É impossível ficar indiferente a quem entra. Impossível ser esquecida para quem sai. 100 anos fizeram-se assim. Gerações ensinaram gerações, transmitindo os valores que se construíram em muitas dificuldades e muitos sucessos. Formaram-se homens e mulheres, que emprestando o seu trabalho, adquiriram, sem exceção, o orgulho em pertencer a algo com forte identidade e que consideravam seu. Um bocadinho seu. Sim, todos tiveram a oportunidade de se sentirem realizados e confiantes no dia em que percebiam como o seu trabalho contava, e como haviam vencido as suas batalhas até esse momento. Nunca mais seriam os mesmos com tamanha alma preenchida e uma causa para defender, a Valadares. Este é o legado de que nos orgulhamos e que hoje queremos continuar. É grande o privilégio de podermos dar vida a muitas memórias de quem fez a Valadares e estamos cá para os honrar e nunca esquecer. E alimentar o espírito que nos mantêm ligados a algo que é maior que cada um de nós. O Futuro espera-nos.
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O Legado, por Henrique Barros
Fabrica Cerâmica de Valadares
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Prefácio
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Prefacio
À semelhança de outras empresas no panorama nacional, a Fábrica Cerâmica de Valadares apresenta como característica peculiar a relação com o local onde foi fundada em abril de 1921. Ao longo de cem anos de existência, os seus produtos têm transportado um pouco por toda a parte, por Portugal e pelo estrangeiro, o nome da freguesia de Valadares - estabelecendo-se, deste modo, uma relação identitária entre os produtos da fábrica Valadares e os habitantes da localidade, atuando muitos deles como trabalhadores operários na mesma. “Nos séculos XVIII e XIX, existiam nada menos do que 18 fábricas de cerâmica em Gaia. A maioria destas continuaram a existir até ao primeiro quartel do século XX, às quais se veio juntar a de Valadares - que não se encontra mencionada em nenhum trabalho literário ou estudo sobre a cerâmica em Portugal, ou, mais concretamente, no Norte de Portugal.” (VILA, Romero) A imagem que a Valadares conquistou na sociedade portuguesa, e não apenas no panorama do mercado do Norte, resulta de um esforço de industrialização e variadas adaptações a uma indústria há muito explorada e que demonstrava o seu declínio - sendo a fábrica da Rua da Estação, das 18 fábricas conhecidas na região de Gaia, a única a sobreviver. Os administradores da fábrica responderam a esta fragilidade criando espaço para o lançamento de novos produtos até então não explorados pelas empresas nacionais do mesmo sector, como foi o caso das louças sanitárias. Com a passagem dos anos, a Valadares soube adaptar-se às exigências do mercado e, a pouco e pouco, foi abandonando a produção artística e seguiu um rumo cada vez mais industrializado.
Este livro é um exercício de comemoração da Identidade e da Memória inerentes à Cerâmica Portuguesa, com especial valorização do trabalho realizado pela Fábrica Cerâmica de Valadares ao longo de mais de nove décadas. Foi escrito com o fim de o perpetuar pela voz de quem pertenceu e ajudou a construir o império Valadares e é dedicado a todos os que compreendem o valor e significado que esta empresa representou a nível nacional. Pretende proporcionar-se uma desenvolvida e pormenorizada história dos diferentes períodos que marcaram os seus anos de laboração, não descurando a abordagem ao processo de fabrico e de embalamento. «»
Fabrica Cerâmica de Valadares
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Nota prévia
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Nota prévia
A palavra “cerâmica” deriva do termo gre - go “Keramike”, que significa argila. Trata - -se de um recurso natural que nos permite elaborar toda a espécie de objectos, com barros de qualquer classe, decorados ou não. A argila torna-se muito plástica e fácil de moldar quando humedecida, adquirin - do dureza ao secar ou por efeito da cozedu - ra (Durão, 2011). Sabemos que a cerâmica está presente na cultura dos povos desde a antiguidade e que as propriedades do barro são explora - das há cerca de 10.000 anos. A descober - ta de que a argila plástica, com a acção do fogo, se tornava num material resistente e durável veio alterar o tipo de vida dos po - vos, obrigando o Homem a desenvolver novas formas de a trabalhar. Deste modo, é possível estabelecer uma relação entre a evolução do Homem e a forma como este trabalhou os materiais cerâmicos (Silva, 1990). Portugal contém as argilas mais ricas da Europa, sendo que esta matéria-prima é encontrada de forma bastante abundante, especialmente nas regiões Norte e Centro (Moutinho, S. e Velosa, A., 2017). Durante muitos anos, a cerâmica em Por - tugal caracterizou-se por uma produção artesanal, desde a recolha da matéria-pri - ma até à fase de cozedura. A conformação das peças era feita manualmente na roda de oleiro, sendo as mesmas posteriormente
pintadas à mão e por fim cozidas num for - no a lenha. A produção artesanal deu poste - riormente lugar à produção industrial, que surgiu no sentido de dar resposta às neces - sidades da época, aperfeiçoando a qualida - de e quantidade de produção. Apesar das olarias terem dado lugar a muitas fábricas, é importante salientar que a industrializa - ção não conduziu ao término do artesana - to, já que muitas fábricas foram apenas vas - tas oficinas que produziam de acordo com a sua potencialidade. Segundo a informação presente no docu - mento "A Cerâmica Portuense - Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas" , a fun - dação das fábricas divide-se por três perío - dos: o período pombalino, o período liberal e o perído industrial. No período pombalino (séc. XVIII), um conjunto de empresas em fase inicial usu - fruiu de alguma forma de privilégios de tipo mercantilista e das proibições de en - trada de louça que não fosse da China ou Índia. Sublinha-se a localização geográfica destas primeiras indústrias cerâmicas, ali - nhadas nas duas margens do Douro - pri - meiro do lado do Porto, depois em Gaia, localizadas sobre o Rio. O privilégio dado à proximidade com o Rio é explicado facil - mente pelas dificuldades de transporte por terra, tanto das matérias-primas como dos produtos finais. Neste período, a noção de fábrica tem um significado muito relativo, pois geralmente
tratava-se de um edifício, por vezes de três ou quatro andares, que também era casa de habitação do proprietário, distribuindo-se a produção pelos andares inferiores com ca - racterísticas oficinais. Foram quatro as grandes unidades para - digmáticas deste período: as fábricas de Massarelos, Miragaia, Cavaquinho e Vale de Piedade. Algumas destas fábricas man - tiveram-se em actividade até ao séc. XX, demonstrando longevidade e capacidade de adaptação aos períodos mais difíceis - como são exemplo as Invasões Francesas e as suas sequelas, e os decretos de 1808 e 1810 que abriram os portos do Brasil aos In - gleses e retiraram o mercado ultramarino aos produtos metropolitanos. As transformações ocorridas na época li - beral conduziram à extinção da Junta do Comércio e ao fim da concessão de privi - légios e exclusivos, levando as fábricas a viver uma situação altamente concorren - cial. Muitas fábricas deste período vive - ram de forma mais dura as contingências do mercado, desaparecendo na voragem da concorrência. As unidades surgiram com pequenos capitais e em deficientes condições de instalação, aproveitando espaços desocupados - desde capelas ou conventos em ruínas a casas de habitação.
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Os edifícios eram determinados pelas ex - pressivas condicionantes económicas. A tecnologia dominante era ainda a da fase anterior - sustentada essencialmente pelo trabalho braçal, embora já se verificasse a entrada de alguns mecanismos, como por exemplo a máquina Clayton na Fábrica de Vale de Piedade. Apresentavam neste pe - ríodo uma tentativa de regularização, atra - vés da criação de uma pauta para a fixação de preços mínimos. A exportação decaiu susbstancialmente. Por fim, o período in - dustrial (decorrido no séc. XIX), em que a situação de concorrência deste século originou por si só alguma selecção neste sector. As unidades sobreviventes e as que surgiram posteriormente adoptaram com - portamentos de maior eficácia, proporcio - nando a emergência de unidades de grande dimensão e com preocupações de apetre - chamento técnico, de forma a responder às exigências de mercado e da concorrência internacional, oferecendo simultaneamen - te um maior nível qualitativo de produção. Os edifícios eram completamente distin - tos da residência dos proprietários, que por vezes moravam em zonas afastadas e onde o automóvel venceria as distâncias que antes se mostravam uma problemáti - ca. A razão social destas firmas evoluiu da sociedade comanditária para as novas for - mas permitidas pela legislação comercial, particularmente a sociedade por quotas a partir de 1901, generalizando depois para sociedade anónima. Porém, o que marcaria
profundamente as fábricas do sector seria a opção por segmentos de mercado, cla - ramente especializados e susceptíveis de produção em série. A construção civil foi o principal sector impulsionador das fábri - cas desta época, que respondiam essencial - mente à procura gerada pelo crescimento urbano. Não é por isso de estranhar que o direccionamento da sua produção se orien - tasse essencialmente para os materiais de construção (telha e tijolo) e de decoração exterior (Soeiro, T.; Alves, J.; Lacerda, S.; Oliveira, J., 1995). No entanto, era assegu - rado um mercado complementar de arte - factos domésticos, que chegou a dar mos - tras de grande qualidade e a conquistar um substancial espaço geográfico para o seu consumo. Com o tempo, a produção do - tou-se de um melhoramento de materiais e técnicas, acompanhado por uma concen - tração operária especializada e crescente. O séc. XX foi um período marcante no de - senvolvimento e crescimento do sector da cerâmica, consequência da revolução industrial ter tido um reflexo tardio na sociedade portuguesa. O surgimento de novas unidades fabris, e com elas o avanço tecnológico, a maior capacidade de produ - ção e a conjuntura económica propícia à exportação foram factores que permitiram que este sector contribuísse positivamente para a balança comercial do nosso país.
1 • Margens de Vila Nova de Gaia, ao longe vemos a chaminé da fábrica das Devesas em funcionamento.
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História da sua fundação
Desde 1921 —
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Fabrica Cerâmica de Valadares
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Nos séculos XVII e XIX, em que a produção fabril era verdadeiramente caracterizada pela profusão das suas peças e pelo esmero no colorido das mesmas, existiam nada menos do que 18 fábricas de cerâmica em Gaia, como apresentado no Boletim Amigos de Gaia. A maioria destas continuou a existir até ao primeiro quartel do séc. XX, às quais se veio juntar a Valadares - que não se encontra mencionada em nenhum trabalho literário ou estudo sobre a cerâmica em Portugal, ou, mais concretamente, no Norte de Portugal. Em Vila Nova de Gaia, a indústria de cerâmica, a mais fascinante de todas as artes industriais que são derivadas do trabalho humano, representa o mais alto expoente das qualidades e talento das suas gentes e riqueza do seu solo. Desde longas e imemoriais épocas o fabrico de louça e azulejo foi das modalidades mais florescentes do esforço e engenho dos seus artífices, como atestam as notáveis teorias de fabricantes, artífices e escultores de Gaia ou a Gaia vinculados. «»
Associação Cultural Amigos de Gaia Boletim Amigos de Gaia, Nº XLIX
2 • Projecto para o alçado principal da unidade fabril e fotografia da fachada da Cerâmica de Valadares.
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Historia da sua fundacao
Associacao Cultural Amigos de Gaia ~
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» Neste ano de 1979, a 14 de Fevereiro,
o progressivo bloco fabril cerâmico que é a actual Fábrica Cerâmica de Valadares, comemorou o trigésimo aniversário da sua nova fase industrial e, nos nossos dias, é o maior ou o mais evoluído e o mais moderno centro de produção em louça sanitária e azulejos sobejamente conhecido em Portugal e no estrangeiro. «
— Boletim Amigos de Gaia, N º XLIX —
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A sociedade fabril por quotas sob a denominação “Fábrica Cerâmica de Valadares, Limitada” foi constituída nos terrenos pertencentes aos dois sócios Artur Gonçalves da Silva e António Teixeira de Oliveira que, pelas palavras da escritura, faziam parte das suas quotas de capital, no montante de dois mil e duzentos escudos e concretamente referiam-se: Pertencia à maioria da população que se dedi- cava à indústria cerâmica nas grandes fábri - cas Cerâmica das Devesas e Carvalhinho. No dia 25 de Abril do ano 1921, seis homens do Norte de Portugal e uma firma constituíram-se em comandita no cartório do notário José de Oliveira Mourão, na Rua Mouzinho da Silveira, da cidade do Porto. São eles: Artur Gonçalves da Silva, industrial, António Teixeira de Oliveira, industrial, Joaquim António Alves, negociante, Manuel Carlos Moreira Alves, negociante, Joaquim António da Silva, capitalista, António Domingues Esteves, mestre de obras e representante da firma Saul D. Esteves & Irmão e Artur Venceslau da Rocha, industrial. «» 25 Abril 1921 Livro nº 9338 fls. 25 De todos estes, somente um - Artur Venceslau da Rocha, natural de Coimbrões, considerado o centro barrista do concelho - era entendido da arte barreira ou cerâmica.
Domingues Simões, do sul com caminho, do nascente com António José de Oliveira e do poente com a estrada descrita no livro B……….. e de uma leira inculta denominada Safeias de Baixo, sita no mesmo lugar da Estação, a confrontar do nascente com herdeiros de Manuel Moreira da Silva, do norte com Maria Rodrigues de Jesus, a sul com caminho, prédio este que não se acha ainda descrito na respectiva conservatória, sendo hoje ambos esses prédios livres e alodiais.
Ibidem
O seu capital social era de 140.000$00, assim conseguido: 5.000$00 do sócio Artur Venceslau da Rocha; 10.000$00 da Firma Saul D. Esteves & Irmão; 25.000$00 dos sócios Artur Gonçalves da Silva, António Teixeira de Oliveira, Joaquim António Alves, Manuel Carlos Moreira Alves e Joaquim António da Silva. A quota de Artur da Rocha achava-se realizada em 10% em dinheiro, devendo os 90% restantes ser pagos na mesma espécie no prazo de quatro anos a contar da data da escritura; cada uma das quotas dos sócios Artur Gonçalves da Silva e António Teixeira de Oliveira encontrava- se realizada da seguinte forma: 50% ou seja 12.500$00, sendo 1.100$00 em mobiliário e 11.400$00 em dinheiro. Assim, dos sócios Saul D. Esteves & Irmão, e Joaquim da Silva, os restantes 50% das quotas deveriam ser pagos em dinheiro no ano de 1921 e à medida que as necessidades sociais o exigissem. A Direção da fábrica era desempenhada por dois sócios da Firma nos dois primeiros anos, ficando um com a parte comercial e outro com a parte técnica.
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a uma tapada denominada da Estrada ou dos Alves, sita no lugar de Campolinho ou da Estação da freguesia de Valadares, concelho de Gaia, a confrontar do norte com José
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A empresa teve um desenvolvimento rápido, pois em menos de um ano foi necessário recorrer a um novo sócio que entrou com a quantia de 8.000$00, elevando o capital da fábrica para 148.000$00. Este sócio chamava-se João de Oliveira Quito, residente em Oliveira do Douro. A fábrica ficaria assim com oito sócios e com algumas dezenas de operários para o seu desenvolvimento industrial. De acordo entre todos …….. reforçam o capital da sociedade que era de cento e quarenta contos e se acha inteiramente realizado, com a quantia de oito contos, ficando assim o capital social elevado a cento e quarenta e oito contos, e que este aumento é realizado pela subscrição de oito contos que para ele faz o segundo outorgante… o qual assim entra para a sociedade como novo sócio, tendo já pago em dinheiro a importância dessa subscrição. «»
Daqui para diante, a empresa caminharia num gradual e sólido progresso, com os seus altos e baixos, numa fase mais artística e industrial, como o demonstra a notável produção de louça decorativa (de fantasia, como a denominava o seu catálogo), nunca deixando o fabrico de tijolos de tubos de grés, como declara o Art. 3º dos seus estatutos. O capital social subiu, entretanto, para 2.000.000$00, integralmente subscrito e realizado dividido em 20.000 secções de 100$00. A 11 de Junho de 1925 os estatutos sofreram algumas alterações, conforme a escritura elaborada no cartório de Leal Júnior, em Gaia, no livro Nº423, folhas 40 a 42, contudo o capital continuava a ser o mesmo.
1 Março 1922 Livro nº 940 — 8 fls. 65
Passados dois anos, no dia 28 abril de 1924, a sociedade iniciou uma nova fase económica e social. Transformou-se de sociedade de quotas em sociedade anónima de responsabilidade limitada, mas sempre com a denominação de Fábrica Cerâmica de Valadares. Que reduzindo pois à presente escritura a sua deliberação transformam a dita sociedade por quotas, de responsabilidade limitada em sociedade anónima de responsabilidade limitada cujos os estatutos são………… «»
3 • Plantas correspondentes ao piso inferior e piso superior do principal e mais antigo edifício da unidade fabril.
28 Abril 1924 Livro nº 39— b fls. 43
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Poucos meses após a fundação da unidade fabril foi enviado um requerimento à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia para a concessão de licença para construção de uma linha férrea interna, que atravessaria parte do interior da fábrica e que serviria como ligação aos caminhos-de-ferro da Estação de Valadares. Na época as indústrias aproveitavam a proximidade com o caminho-de-ferro como uma oportunidade de escoamento do seu produto mais rápido, como é exemplo a Fábrica Cerâmica e de Fundição das Devezas.
O caminho de ferro foi sem dúvida o elemento mais importante da chamada Revolução Industrial, tornando- se num dos seus protagonistas principais, permitindo o transporte das matérias primas para as fábricas de forma rápida e eficaz, levando os produtos acabados a pessoas, a regiões distantes e aos países onde eram mais necessários. «» História com Histórias. O caminho de ferro.
4 • Planta topográfica a que se refere o requerimento
de construção de linha férrea.
Próxima página • Requerimento de licença para atravessar caminho público para a construção de linha férrea.
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Historia da sua fundacao
Gaya, 9 de Novembro de 1921 Francisco d’Oliveira «»
A fábrica Cerâmica de Valadares Lda, requer licença para atravessar o caminho publico junto à mesma fábrica, assentar uma linha ferrea para serviços de vagonetes para um terreno fronteiro que possui, e como indica a tinta azul da planta junta, pelo que: dá o valor à presente servidão de cincoenta escudos, o máximo.
Servidão para instalar uma linha férrea. Arquivo Municipal Sophia de Mello Breyner
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3 de Dezembro de 1930
Laborava na sua fase de produção de louça decorativa que a tornou conhecida em todo o país e até no estrangeiro, sobre um certo abalo económico. Em escritura realizada no Cartório de Artur da Silva Lino, no Porto, na folha 63 do livro Nº 56-B, o capital fica reduzido a 1.600.000$00. Os períodos legais dos administradores e responsáveis passam de dois anos para três e o ano social coincide com o civil de 1 de janeiro a 31 de Dezembro.
30 de Junho de 1932
A quebra seria de novo acentuada com a reforma dos seus estatutos. Conforme escritura lavrada no mesmo Cartório, eram representantes da sociedade: Adelino Nunes Pereira, António Teixeira de Oliveira e Joaquim António Moreira Alves, reduzindo o capital para 400.000$00 com 16.000 ações de 25$00 cada uma.
04 de Outubro de 1949
Continuou na sua laboração artística e industrial conforme o seu objetivo social, tendo-se deparado com novos horizontes na sua posição financeira e rumo fabril. Nasceria uma nova época de exploração e vitalidade cerâmicas que a transformaram no grande conjunto fabril que ganhou reputação a nível nacional e se tornou num marco da cidade de Vila Nova de Gaia. Assim, em escritura feita no Cartório Notarial de Francisco Maria de Sousa, os estatutos foram inteiramente reformados, continuando a
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Historia da sua fundacao
09 de Janeiro de 1976
Fábrica com a mesma denominação “Fábrica Cerâmica de Valadares, Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada”, com sede em Valadares, Vila Nova de Gaia, e o capital passou de 400.000$00 para 3.000.000$00. Desta data em diante, a empresa viu-se num largo caminho de progresso social e expansão das suas instalações fabris.
A 9 de Janeiro de 1976, no mesmo Cartório de Lisboa, por escritura no Livro Nº 63-G, folhas 40 a 43, o capital aumentou de 144.000.000$00 para 160.000.000$00, tendo as ações sido valorizadas em 10.000$00 cada. Neste capital de vigência financeira e expansão industrial, a Fábrica Cerâmica de Valadares apresenta-se como uma empresa de elevado valor nacional e de projeção internacional devido ao seu produto cerâmico que, na sua especialidade única, se dedica ao fabrico de azulejo e louça sanitária e outros materiais de construção. Sempre se caracterizou como empresa de impoluta dignidade industrial e honestidade comercial e técnica.
27 de Novembro de 1963
A 27 de Novembro de 1963 em Lisboa, no Cartório 20º de Dr. Carlos Maria Chagas, foram reformados alguns dos artigos dos seus estatutos e o capital social aumentou para 16.000.000$00. Mas, de facto, só passados mais de quatro meses, por escritura de 3 de Maio de 1964, no mesmo Cartório, se acrescentaria ao capital 7.600.000$00, ficando na verdade elevado para 8.000.000$00 e as ações valorizadas em 500$00 cada. Em 19 de Dezembro de 1972, alterou-se de facto o capital de 8.000.000$00 para 16.000.000$00, em escritura feita no 6º Cartório do Porto, de António Augusto Veloso Martins.
30 de Outubro de 1973
Na fase de vertiginosa poupança industrial e financeira, a Fábrica Cerâmica de Valadares cresceu sólida devido à consciente e eficaz direção dos seus responsáveis e administradores, alterando em 30 de outubro de 1973 por uma ou mais vezes o seu capital até 40.000.000$00, segundo escritura no Cartório 20º de Lisboa, Livro Nº 51-E, folhas 84 e 85.
6 • Anúncio aos tubos e acessórios em grés
da Cerâmica Valadares. Gazeta dos caminhos de ferro.
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» Na fase de vertiginosa poupança industrial e financeira, a Fábrica Cerâmica de Valadares cresceu sólida devido à consciente e eficaz direcção dos seus responsáveis e administradores, alterando em 30 de Outubro de 1973 por uma ou mais vezes o seu capital até 40.000.000S00 «
— Boletim Amigos de Gaia, N º XLIX —
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Historia da sua fundacao
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A freguesia desenvolveu-se graças à fábrica de Valadares. Passaram por cá várias gerações e a Valadares movimentava esta zona. A área edificada era de 9 hectares, mas a sua totalidade seria uma área de 17 hectares. Esses 8 hectares não seriam para construir novas fábricas, mas sim fazer habitações para os funcionários notando-se aqui a consciência social da administração Valadares.
Manuel António, Testemunho Oral
Fabrica Cerâmica de Valadares
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Peças perfeitamente modeladas, até à pintura e aos mais ínfimos pormenores do acabamento. Não se faz melhor, sendo que é, de facto, muito difícil igualar o que ali se patenteia ao público portuense. Mas além de peças vasadas em estilo próprio, há que admirar também as do saboroso estilo antigo. (...) O desenho é impecável de correcção e a escolha dos tons - o grande segredo desta indústria - é feita com grande espírito artístico, de modo a obter conjuntos de beleza verdadeiramente encantadores.
“As louças artísticas das Fábricas Cerâmicas de Valadares e Soares dos Reis de Vila Nova de Gaia” Em Jornal de Notícias, 23 de Maio de 1945
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Produção artística
Anos 30 — 40
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Fabrica Cerâmica de Valadares
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«» Primeiro de Janeiro
Desde o início da sua existência a Fábrica Cerâmica de Valadares não deixou de laborar a bem das indústrias barreira e cerâmica portuguesas, sempre numa produção variada e ascendente, melhorando as suas peças e os seus artigos. Sabe-se que em artigos de barro vermelho produzia uma numerosa variedade de tijolos maciços e refractários, vasados, curvas para chaminés ou poços, para platibandas, ornados para jardins, lares, torreões, ornados ou lisos, adobos, peças refratárias de todos os formatos para estufas, muflas, caldeiras, fornos, gasogênios, qualquer variedade de telha marselhesa, «nortenha», peninsular, bebé, telha de escama, agueiros; meias telhas, cumes, calões, cruzetas, ornatos e capacetes para chaminés, fornos de cozer pão e vasos: em grés; tubos, curvas, cruzes, funis lisos com cortes, forquilhas, ramais, calções, botas, garfos, sifões de todas as espécies, emendas, telhões, cotovelos, passadores, tampas, bacias cónicas e botijas; azulejos variados e louça sanitária. «»
Uma notável e surpreendente colecção de faianças, produção das consideradas Fábrica Cerâmica de Valadares e Fábrica de Cerâmica Soares dos Reis, Lda - duas modelares e importantes organizações que, naquela especialidade, acreditam honrosamente a indústria nacional.
Associação Cultural Amigos de Gaia Boletim Amigos de Gaia, Nº XLIX
Quando começou a fabricar louça de faiança, e durante mais de uma vintena de anos, enveredou na linha da fama e posição das numerosas e antigas fábricas de Gaia que sempre primaram pela sua requintada apresentação, variedade das suas peças e execução de pintura e desenho. O seu produto de louça, "que os seus catálogos chamam de fantasia e, vulgarmente, pelo apreço dos seus peritos, é denominada louça decorativa", teve na sua orientação um elevado grau de qualidade.
Uma exposição de preciosas “Louças Artísticas” em faiança 21 de Maio de 1945
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7 • Jarrão oriental com pintura renascença
Fabrica Cerâmica de Valadares
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As dezenas de operários com que começou a sua laboração foram gradual e qualificativamente aumentando ano após ano, sabendo-se que no ano de 1947, próximo da fase em que se tornaria no grande grupo de produção cerâmica em louça sanitária e azulejo que actualmente é considerado, se tornou o maior e o primeiro na quantidade de produção a nível da sua qualidade, no país.
Eram mais de 286 faianças pintadas
principalmente a azul em fundo branco, com desenhos bem escolhidos e concebidos, em modelos primorosos de confecção esmerada.
Associação Cultural Amigos de Gaia Boletim Amigos de Gaia, Nº XLIX
Sabe-se que no ano de 1948 trabalhavam na fábrica cento e setenta e um operários, que se distribuíam em oitenta e quatro operários maiores, quatro operários menores, cinquenta e cinco operárias maiores, duas operárias menores, vinte e quatro mulheres do pessoal eventual e dois homens contratados eventual e variavelmente. Neste período foi desenvolvida, principalmente, a fabricação de várias e artísticas peças que alcançaram uma posição de relevo na louça de faiança decorativa e de fantasia, tanto no país como no estrangeiro, devido à sua característica preparação e execução.
Associação Cultural Amigos de Gaia Boletim Amigos de Gaia, Nº XLIX
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Mostrava-se assim ao mundo a extraordinária sensibilidade artística dos nossos cerâmicos e fabricantes de louça de faiança. Peças que iam desde canecas e pratos domésticos a jarras, candelabros e miniaturas bem confecionadas e ornamentadas com belíssimos desenhos a traços azuis e policromados. Eram também concebidos alguns pratos de parede rendilhados de folha de acanto e com fundo de cenas infantis e de paisagem, ao gosto da época, bem como grandes jarras de boca de sino que faziam parte dos solares e casas de nobreza antiga socialmente preponderantes. Chegaram a encontrar-se espécimes de rara apresentação numa exposição de cerâmica nos Estados Unidos, numa época de apagada posição nacional.
8 • Jarrões da Fábrica de Cerâmica Valadares.
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Producao artistica
Fabrica Cerâmica de Valadares
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Aqui se descrevem todas as peças que "um antigo e raro catálogo do decénio de novecentos e quarenta divulga ao comércio e ao público" , nele contendo todos os espécimes de louça decorativa da fábrica e que por peculiar classificação intitulava de Louça de Fantasia .
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Jarras e jarrões
Jarra com bojo e duas asas, jarra asas curvas, jarras asas direitas, jarra com três asas, jarra com duas asas, ânfora, jarra-cabaça, jarra funil, jarra-luva, jarra-talha com asas, jarrinho, jarrinha, jarra antiga, jarra boca de sino, jarra ânfora, jarra japonesa, jarra com tampa, jarra quadrada com bojo, jarra túlipa com base, jarra túlipa com gomos, jarra-vaso com asas, jarra miniatura, jarra quadrada; Jarrão tipo italiano, jarrão com asas e tampa, jarrão com asas, sem tampa e com peanha, jarrão sem asas e sem tampa, jarrão sem asas e sem tampa e com peanha, jarrão com tampa e peanha, jarrão oriental com tampa e peanha, jarrão oitavado. Canecas com bojo, caneca leiteira, caneca baixa, caneca alta, caneca esguia, caneca com tampa; Garrafa com seis cálices, garrafa-perfumador, garrafa com asa, garrafa cónica, garrafa com copo e prato. Taça, taça-frutas rendilhada, taça canelada oval, taça para fruta com arco, taça com tampa, taça recortada, taça oval rendada com ou sem pé, taça redonda com ou sem pé, travessa oval. Prato rendado oval, prato rendado, prato canelado, prato decorativa, prato com dizeres, prato rendilhado, prato recortado, prato redondo, prato de carnes frias, prato de parede, prato rendado ao centro, prato redondo com abertos, prato oitavado rendado, prato de carnes frias (covilhetes).
Canecas e Garrafas Taças e Travessas Pratos
9 • Mostruário de pratos e castiçais que a fábrica de Valadares produzia.
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Producao artistica
Fabrica Cerâmica de Valadares
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10 • Dupla página do catálogo
da 1ª Exposição de Cerâmica de Vila Nova de Gaia.
Fabrica Cerâmica de Valadares
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Producao artistica
Cachepots D. João V, vasinho com dizeres, vasinho colorido, floreira redonda aos gomos, com crivo, floreira-cachepot, cesta oitavada sem asa e com asa, vaso-pote. Condessa (cesta), petiza sentada (pisa papéis), Japonesa (estatueta), cabeça de mulher, tamanquinho, cão, bota com ratos. Panela com três pernas, candeia com bojo, candeeiro, caixa-pó de arroz, bengaleiro, paliteiro triangular, candelabro, alfineteira, galheteiro completo, galheteiro, galheteiro patos, tabuleiro, trouxa-bombons, candelabro de mesa (5 velas), cremeira, centro de mesa, biscoiteira redonda, biscoiteira oitavada, licoreiro (cálices cónicos ou baixos), serviço de jantar e de chá em miniatura, galheteiro em miniatura, fogareiro em miniatura, candelabro em miniatura, candeia em miniatura e miniaturas diversas. Existiam, portanto, imensas variedades cuja existência atualmente é ignorada e aqui se apresenta como realidade histórica. Já se fizeram exposições de cerâmica no Porto e em outras cidades, porém nunca esteve presente algum espécime desta fábrica, “ quer apresentado nas suas vitrinas, suspenso em algum suporte de parede ou posto sobre alguma mesa” . A Fábrica Cerâmica de Valadares, cuja existência não é tão apagada como se supõe, teve um período famoso na produção de louça decorativa, confecionada por notáveis e prestigiosos artistas como A. Cinatti, Artur Venceslau da Rocha, Carlos Branco, António Braga, entre outros. Caixa quadrilonga, caixa coração com flor ou sem flor, caixa quadrilonga com pés, caixa redonda com pés, caixa redonda baixa ou bojuda, caixa formato galinha, caixa redonda com três pés, caixa convexa, caixa de formato pirâmide, cinzeiro rústico com chaminé, cinzeiro redondo, cinzeiro quadrado, cinzeiro quadrilongo, cinzeiro redondo com caixa.
Decorativos
Utilitários
11 • Maquete da Torre de Belém, construída
12 • Cartão de agradecimento referente à exposição de “Louças Artísticas” em faiança, inaugurada a maio de 1945 na Agência de Publicações. com materiais da fábrica Valadares, exposta a maio de 1923 no antigo Palácio de Cristal do Porto.
Fabrica Cerâmica de Valadares
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Fabrica Cerâmica de Valadares
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A cerâmica de Porto e Gaia têm importância relevante na indústria nacional, quer pela qualidade das pastas e pelo brilho quer pela variedade e pelas formas das peças fabricadas. A produtos de construção tem-se especializado a fábrica de Valadares (fundada em 1921) desde alguns anos, contudo, tem produzido já louça doméstica e já obras de feição decorativa.
Carlos de Passos Em Ceramica Portugueza
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Produção industrial
Anos 30 —
03
Fabrica Cerâmica de Valadares
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14 • Projecto para o alçado principal da unidade fabril e fotografia da fachada da Cerâmica de Valadares. 13 • Publicidade aos produtos de construção Valadares, referindo ser “a maior fábrica nacional de cerâmica para construção”.
Fabrica Cerâmica de Valadares
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15 • Fornos da Fábrica de Cerâmica Valadares . 1950.
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Producao industrial
A produção fabril que era constituída por “artigos de barro vermelho, de grés, de louça sanitária e decorativa, azulejo e refratários” (expressão extraída de um relatório antigo) teve um ligeiro declínio nos últimos anos do decénio de quarenta. Assim, o relatório apresentado no ano de 1948 (mas que foi apreciado no ano de 1947) afirmava:
Assim, para mais alto rumo da indústria cerâmica e mais longa produção, efetuava-se, a 6 de Janeiro de 1949, o contrato do Senhor José Isidoro de Almeida Pinheiro e do Senhor Augusto Serras como novos acionistas na entrega de 13.500 ações. Com este contrato a fábrica enveredou os destinos industriais e financeiros por novos caminhos, conhecendo uma grande época de desenvolvimento fabril e venda dos seus produtos, bem como uma ampla e mais desafogada expansão das suas instalações.
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não é preciso ser grande industrial para se apreciar o que representa um ano de trabalho, em que se manteve o pessoal com todos os encargos e em que a produção se fez por única forma, muito onerosa por não atingir o limite de custo indispensável para ser remuneradora dentro dos legais preços de venda
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Nos fornos trabalharíamos três a enfornar, um a descarregar, um forneiro e dois a escolher, o que hoje é feito por duas pessoas. Passei cá muitos natais e passagens de ano, a colocar louça dentro das vagonas. Isto era uma família. O que um trazia não era só para ele, era para todos. Camilo Dias Testemunho Oral
Associação Cultural Amigos de Gaia Boletim Amigos de Gaia, Nº XLIX
Sentiu-se a necessidade de dar novo impulso à laboração da fábrica e substituir os velhos mecanismos e sistemas de trabalho. Por isso, o mesmo relatório acrescentava:
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hoje, só os grandes estabelecimentos mecanizados de forma a substituir o operário quanto possível podem ter vida desafogada e a nossa fábrica, não sendo das maiores, tem, quanto a nós, capacidade de transformar em condições, de dar ao capital, em breve e seguidamente, uma compensação condigna, criando ao mesmo tempo reservas que nos permitam de futuro acompanhar o desenvolvimento da indústria
Ibidem
Fabrica Cerâmica de Valadares
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16 • Garrafas de grés
com o selo da Fábrica de Cerâmica Valadares. 1950.
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Producao industrial
As peças em grés são produzidas sobretudo para encana- mento de água, gás e no caso da Valadares - privilegiada pela sua proximidade com a indústria vinícola presente nas margens gaienses do rio Douro, onde se localiza a maior parte das caves do vinho do Porto-, são também encontra- dos vestígios de garrafas em grés que armazenavam o vi- nho para posterior comercialização e exportação. O artigo “Grés, vinho e imigração: arqueologia de uma produção vitivinícola, São Paulo, 1920-1950” , de Rafael de Abreu e Souza, apresenta os resultados das escavações realizadas no sítio arqueológico Chácara Cayres, localizado no município de São Bernardo do Campo, São Paulo. O sítio representa uma antiga quinta familiar da primeira metade do séc. XX na qual foi construída uma adega para produção de vinho artesanal. A análise dos artefactos associados às estruturas que compunham a adega, com especial destaque às garrafas de grés, permitiu expor algumas possibilidades para a arqueologia histórica da cidade de São Paulo, da imigração e da reutilização de garrafas de outros produtores.
Na amostra gerada pelo resgate o grés compõe 14% da coleção, sendo que o segundo material mais abundante é de proveniência portuguesa, mais especificamente do norte de Portugal, área de tradicional indústria cerâmica e produção vinícola.
A análise mostrou existirem quatro tipologias de garrafa: bojuda ( fabricadas pela Fábrica Campos, Filhos, em Aveiro, Portugal), cilíndrica (fabricada para conter vinho verde, pela Fábrica Cerâmica Madalena, em Vila Nova de Gaia, Portugal), com ombro anguloso (fabricada pela Cerâmica Valadares, em Vila Nova de Gaia, Portugal) e com ombro arredondado (também fabricada pela Campos, Filhos), sendo o primeiro tipo o mais abundante. «»
Grés, vinho e imigração: arqueologia de uma produção vitivinícola, São Paulo 1920-1950
O uso de garrafas de grés de origem portuguesa, em geral de datação anterior ao início da produção de vinho na adega da Chácara Cayres, sugere processos de durabilidade e de conservação dos artefatos. (...) No presente exemplo, garrafas portuguesas de grés produzidas no séc. XX (quiçá no final do séc. XIX) foram consumidas e reutilizadas durante os anos 1930 e 1940 na região de São Paulo. «»
Grés, vinho e imigração: arqueologia de uma produção vitivinícola, São Paulo 1920-1950
Fabrica Cerâmica de Valadares
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As marcas nas garrafas remetem às fábricas de cerâmica que as produziam e, como já foi referido neste livro, a Cerâmica Valadares , aquando da sua fundação em abril de 1921, dedicou a sua produção inicial ao fabrico de tijolos e telhas, passando mais tarde a fabricar peças em grés cerâmico - como as que podemos encontrar no artigo de Rafael de Abreu e Souza -, antes de passar à produção das louças decorativas, azulejos e louças sanitárias. Através de uma recolha de correspondência datada de 1923 e existente entre a Fábrica de Cerâmica Valadares e outras entidades, foi possível confirmar que este tipo de fabrico teve principal importância para o arranque da unidade fabril, uma vez que a menção à sua produção fazia parte dos cabeçalhos dos seus papéis de carta - o qual permitiu acrescentar outros artigos cerâmicos ao seu espólio, como os produtos dedicados à construção civil e outras indústrias, botijas e tubos.
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Segundo consulta à própria fábrica, a produção de garrafas de grés teve fim em algum momento entre 1940 e 1945. Rafael Souza Grés, vinho e imigração: arqueologia de uma produção vitivinícola. São Paulo, 1920-1950
17 • Garrafas de grés no interior da adega. 18 • Carimbo da Valadares presente nas garrafas de grés.
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19 • Correspondência entre a Fábrica de Cerâmica Valadares e Taveira Laidley & Cª Lda.
Fabrica Cerâmica de Valadares
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O nome diz tudo, fomos os pioneiros. A Valadares foi a primeira fábrica a fazer sanitário em Portugal, as primeiras formulações de sanitários datam de 49-50. Portanto, nós por volta dos anos 50 já faríamos experiências de sanitário, efectivando um contrato de fornecimento de know-how com a Richard Ginori, empresa italiana que nos ensinou a fazer sanitário, por volta de 1955. A cerâmica de Valadares é conhecida a nível internacional e é um dos grandes pólos industriais do país, pelo número de pessoas que chegou a empregar e pela qualidade dos seus trabalhos.
Eng. Rocha Ferreira Testemunho Oral
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Expansão fabril
Anos 50 — 80
04
Fabrica Cerâmica de Valadares
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20 • Anúncio presente no jornal “O Gaiense”, de 1 de abril de 1963.
21 • Vista aérea Fábrica de Cerâmica Valadares, com área total de 170.000m2 e mais de um milhar de trabalhadores.
Fabrica Cerâmica de Valadares
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«» Nós eramos muito transversais, fazíamos todo o processo. Comprávamos as matérias-primas para as transformar e fazer as peças. Mas também fazíamos as ferramentas, fazíamos os cunhos das prensas, tínhamos uma oficina de serralharia onde trabalhavam lá trinta a trinta e cinco pessoas, que apoiavam o resto da fábrica.
A 17 de Julho de 1959 a Fábrica de Cerâmica de Valadares inicia a sua extensão de território com o requerimento feito à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, pedindo que lhe concedesse licença para construção, pelo prazo de 12 meses, na mesma freguesia. Esse pedido de construção diz respeito ao projeto de ampliação das suas instalações fabris, pretendendo a Fábrica de Cerâmica Valadares levar a efeito a construção de uma nova unidade, a “Fábrica do Sanitário” .
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Na implantação desta nova unidade, condicionada a um terreno existente e por si exíguo para a série de novas instalações a construir futuramente e a apresentar dentro em bréve à aprovação dessa Exma. Câmara, achou-se por bem o recuo de parte da fachada poente dada a necessidade de facilitar a manobra de carga e descarga de materiais a conduzir por veículos que penetrarão no corpo destinado "armazém de louças" atravéz de cais de encôsto, recuo êsse da ordem dos 2,50mt., a partir do actual alinhamento. A norte, dado o desconhecimento de novos alinhamentos para uma artéria pela qual o trânsito era nulo, e baseados numa planta topográfica já pouco recente (1956), data em que se iniciou contactos com firmas estrangeiras especializadas na montagem de fábricas deste género, começou-se a estruturar a nova unidade baseada nos "esquemas tipo" por elas fornecidos, motivo porque no Projecto agora apresentado se ocupou, até ao limite do actual alinhamento, o terreno onde se pretende instalar a nova "Fábrica de Sanitário".
Arquivo Municipal Sophia de Mello Breyner Processo POP nº 6464
A estrutura foi o resultado de um estudo que satisfizesse o mais economicamente possível as determinantes de um programa, distribuído conforme indicam as plantas. Neste caso, o pretendido foi conseguido através de materiais com menores cuidados de conservação e de mais fácil mão-de-obra. Assim, verificou-se a vantagem de arrumar de maneira diferente os núcleos que constituem esta nova unidade fabril, sem esquecer os condicionamentos e demais regulamentos considerados na elaboração da memória descritiva do projeto.
Eng. Rocha Ferreira Testemunho Oral
22 • Planta topográfica para a construção da Fábrica do Sanitário. Julho de 1959.
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