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Nota prévia
A palavra “cerâmica” deriva do termo gre - go “Keramike”, que significa argila. Trata - -se de um recurso natural que nos permite elaborar toda a espécie de objectos, com barros de qualquer classe, decorados ou não. A argila torna-se muito plástica e fácil de moldar quando humedecida, adquirin - do dureza ao secar ou por efeito da cozedu - ra (Durão, 2011). Sabemos que a cerâmica está presente na cultura dos povos desde a antiguidade e que as propriedades do barro são explora - das há cerca de 10.000 anos. A descober - ta de que a argila plástica, com a acção do fogo, se tornava num material resistente e durável veio alterar o tipo de vida dos po - vos, obrigando o Homem a desenvolver novas formas de a trabalhar. Deste modo, é possível estabelecer uma relação entre a evolução do Homem e a forma como este trabalhou os materiais cerâmicos (Silva, 1990). Portugal contém as argilas mais ricas da Europa, sendo que esta matéria-prima é encontrada de forma bastante abundante, especialmente nas regiões Norte e Centro (Moutinho, S. e Velosa, A., 2017). Durante muitos anos, a cerâmica em Por - tugal caracterizou-se por uma produção artesanal, desde a recolha da matéria-pri - ma até à fase de cozedura. A conformação das peças era feita manualmente na roda de oleiro, sendo as mesmas posteriormente
pintadas à mão e por fim cozidas num for - no a lenha. A produção artesanal deu poste - riormente lugar à produção industrial, que surgiu no sentido de dar resposta às neces - sidades da época, aperfeiçoando a qualida - de e quantidade de produção. Apesar das olarias terem dado lugar a muitas fábricas, é importante salientar que a industrializa - ção não conduziu ao término do artesana - to, já que muitas fábricas foram apenas vas - tas oficinas que produziam de acordo com a sua potencialidade. Segundo a informação presente no docu - mento "A Cerâmica Portuense - Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas" , a fun - dação das fábricas divide-se por três perío - dos: o período pombalino, o período liberal e o perído industrial. No período pombalino (séc. XVIII), um conjunto de empresas em fase inicial usu - fruiu de alguma forma de privilégios de tipo mercantilista e das proibições de en - trada de louça que não fosse da China ou Índia. Sublinha-se a localização geográfica destas primeiras indústrias cerâmicas, ali - nhadas nas duas margens do Douro - pri - meiro do lado do Porto, depois em Gaia, localizadas sobre o Rio. O privilégio dado à proximidade com o Rio é explicado facil - mente pelas dificuldades de transporte por terra, tanto das matérias-primas como dos produtos finais. Neste período, a noção de fábrica tem um significado muito relativo, pois geralmente
tratava-se de um edifício, por vezes de três ou quatro andares, que também era casa de habitação do proprietário, distribuindo-se a produção pelos andares inferiores com ca - racterísticas oficinais. Foram quatro as grandes unidades para - digmáticas deste período: as fábricas de Massarelos, Miragaia, Cavaquinho e Vale de Piedade. Algumas destas fábricas man - tiveram-se em actividade até ao séc. XX, demonstrando longevidade e capacidade de adaptação aos períodos mais difíceis - como são exemplo as Invasões Francesas e as suas sequelas, e os decretos de 1808 e 1810 que abriram os portos do Brasil aos In - gleses e retiraram o mercado ultramarino aos produtos metropolitanos. As transformações ocorridas na época li - beral conduziram à extinção da Junta do Comércio e ao fim da concessão de privi - légios e exclusivos, levando as fábricas a viver uma situação altamente concorren - cial. Muitas fábricas deste período vive - ram de forma mais dura as contingências do mercado, desaparecendo na voragem da concorrência. As unidades surgiram com pequenos capitais e em deficientes condições de instalação, aproveitando espaços desocupados - desde capelas ou conventos em ruínas a casas de habitação.
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