Grande Consumo N.º 91

GRANDE CONSUMO

À semelhança da sociedade, nas últimas duas décadas, o sector do consumo tem passado por uma transformação significativa: as mudanças das preferências dos consumido - res, um mercado onde global e local aprenderam a coabitar, a ascensão das redes sociais e de novos canais de venda ou a pandemia são alguns dos fatores determinantes para esta transformação. Durante várias décadas, até aos anos 2010, os grandes intervenientes no sector dos bens de consumo experimen- taram um período de crescimento sólido e lucrativo, benefi - ciando de uma demografia favorável nos mercados desenvol - vidos e de uma expansão, frequentemente pouco desafiada, à medida que a globalização facilitava a entrada nos mercados emergentes. Neste período, as preferências dos consumidores eram mais consolidadas, o que permitia às empresas com grande capacidade de escala tirar o máximo partido dos benefícios do mercado de consumo de massa. A publicidade em massa, através de meios como a televisão e a imprensa tradicional, e os canais de distribuição em massa, numa altura em que os retalhistas aumentavam a dimensão e a cobertura nacional, eram fórmulas muito eficazes para chegar aos consumidores. A partir de meados da década de 2010, as redes sociais e os canais D2C ( direct-to-consumer ) começaram a ganhar maior aceitação, fragmentando os canais de vendas tradicionais de lojas físicas. A redução das barreiras à entrada no mercado facilitou bastante que marcas pequenas e locais entrassem no mercado. Embora o crescimento do sector como um todo permanecesse positivo, as grandes empresas de produtos de consumo enfrentaram mais desafios. Ao mesmo tempo, a pu - blicidade nas redes sociais começou a permitir mensagens muito mais direcionadas, ligando esses produtos pequenos e locais aos seus públicos-alvo específicos. Como resultado, as expectativas dos consumidores por produtos personalizados, com marcas e propostas adaptadas às suas necessidades es - pecíficas, aumentaram drasticamente durante este período. A publicidade nos meios de comunicação de massa do passa - do já não era suficiente por si só. A pandemia de Covid-19 - e a consequente impossibilida- de de fazer as compras de forma presencial - foi também um ponto de viragem muito significativo nos hábitos de compra. Muitos consumidores viram-se na necessidade de reforçar a confiança nas compras online e nas entregas e todos vemos, ainda nos dias de hoje, nas grandes cidades, o grande volume de estafetas nas suas bicicletas, trotinetas e motorizadas, a levar encomendas – comida e bens de consumo – às casas ou aos locais de trabalho dos consumidores. Sobre o estado dos hábitos de consumo nos dias de hoje, há dois estudos recentes da Bain & Company, cujas principais conclusões parece-me interessante partilhar: No “Relatório de Bens de Consumo 2025”, que lançámos em fevereiro, damos nota de que as vendas globais de bens de consumo abrandaram o crescimento em 2024: subiram 7,5%

opinião Duas décadas de mudança dos hábitos de consumo LEAH JOHNS Head of the Global Consumer Lab da Bain & Company

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