Grande Consumo N.º 91

entrevista

N.91

Com 45 vindimas no currículo, como olha para a evolução do sector vinícola nacional, particularmente no Alentejo? Quais foram os momentos mais mar- cantes desta jornada? É algo de extraordinário e motivo de grande orgulho, especialmente porque tive oportunidade de fazer parte de todo este percurso que os vinhos alenteja - nos e portugueses têm percorrido. O Alentejo, uma região especial para mim, era completamente desconhecido, tanto cá dentro como internacionalmente. Hoje, é uma região de prestígio, reconhecida em todo o mundo. Esse cresci - mento teve origem em fatores como a emergência de novos investimentos, a crescente aposta na tecnologia, a plantação de castas autóctones, a adaptação a novos mercados e, claro, o investimento qualitativo no produto. Quais foram os momentos mais marcantes desta jornada? O início é sempre especial. Durante a década de 1980, fui consultor de várias adegas e cooperativas nacionais. Foi uma época marcante. Posso dizer que re - volucionei, de alguma forma, o modo de fazer e até um certo modo de pensar. Quando cheguei ao Alentejo, a região representava 2% da quota de mercado nacional, não havia vinhos do Alentejo nas cartas dos restaurantes. Trouxe co - nhecimentos e técnicas que não se usavam, nem ousavam, até então, tal como a instalação do primeiro grupo de frio para trabalhar vinhos brancos, que per - mitiu preservar melhor os aromas e criar vinhos mais equilibrados e agradá- veis ao paladar moderno. Ou o início de vinhos tintos com um perfil diferente, de fruta madura, atraente e gulosa, que captou os consumidores. Seguiram-me os anos 90, um período de transformação. Foi quando os vi - nhos portugueses, especialmente os do Alentejo, começaram a ganhar visibi - lidade, prémios em competições internacionais e reconhecimento da crítica especializada, o que abriu portas para novos mercados e valorizou a imagem do vinho português. A recuperação de castas como Trincadeira, Aragonez e Ali - cante Bouschet, entre outras, foi essencial para criar uma identidade única. Os vinhos do Alentejo tornaram-se um reflexo da nossa terra e da nossa cultura, algo que sempre defendi e que hoje é amplamente reconhecido. Outro marco muito especial foi o lançamento da marca Marquês de Borba, título nobiliárquico de um primo, e do vinho Marquês de Borba Reserva, muito em particular, um dos maiores orgulhos da minha carreira. O que motivou a escolha de Estremoz como ponto de partida? O que viu naque- la região que os outros ainda não tinham visto? A escolha de Estremoz resultou de uma combinação de fatores racionais e emocionais. Sempre acreditei que os grandes vinhos nascem de um profundo respeito pela terra e Estremoz apresentou-se como um lugar com um enorme potencial inexplorado. É um lugar que tem alma e eu queria que os nossos vi - nhos refletissem essa essência. Estremoz oferece uma diversidade de solos única, incluindo argilo-calcá - rios e xistosos, que permitem trabalhar diferentes castas e estilos de vinhos. Uma das coisas que me chamou a atenção foi o comportamento excecional João Portugal Ramos é um dos nomes mais emblemáticos do mundo dos vi- nhos em Portugal. Considerado o “Pai dos Vinhos do Alentejo”, celebrou 45 vindimas e um legado que transformou o sector vitivinícola nacional, colo- cando a região alentejana entre as mais respeitadas a nível mundial. Aos 70 anos, o enólogo continua a liderar um projeto marcado pela inovação, sus- tentabilidade e respeito pelo terroir , agora com a garantia de continuidade assegurada pelos filhos: Filipa Portugal Ramos, responsável pela direção de marketing, e João Maria Portugal Ramos, enólogo e membro da comissão exe - cutiva do grupo. Juntos, João e os filhos têm desenhado um futuro promissor, onde tradição e inovação se fundem para manter viva a arte de criar néctares que emocionam gerações.

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