mercado
N.91
O ano de 2005 foi um ponto de viragem em várias frentes: económica, política, cultural e tecnoló- gica. O mundo enfrentou tragédias, presenciou despedidas de figuras icónicas, viu emergir novas lideranças e assistiu ao nascimento de platafor- mas que viriam a transformar o quotidiano de mi- lhões. Enquanto a economia mundial beneficiava do crescimento das emergentes, especialmente a China e a Índia, Portugal, por sua vez, navegava num mar de dificuldades económicas, com bai - xo crescimento e elevado défice orçamental, mas também lançava projetos estruturais que molda- riam o futuro. O ano de 2005 foi marcado por um ambiente de crescimento económico global moderado, mas com desafios significativos, como a alta dos preços do petróleo, a valorização do euro face ao dólar, crises financeiras nalgumas regiões e um cenário de tran - sição na economia portuguesa. O crescimento económico mundial manteve- -se sólido, atingindo cerca de 4,4%, impulsionado pelas economias emergentes. A China continuou a sua ascensão económica, com um crescimento impressionante de 11,4%, consolidando-se como a grande fábrica do mundo e um motor do comércio global, mas também houve tensões devido ao dum- ping de produtos têxteis, aço e eletrónica. A Índia manteve igualmente um crescimento forte, na or- dem dos 9%, beneficiando da expansão do sector tecnológico e dos serviços. Nos Estados Unidos, a economia expandiu-se 3,5%, sustentada pelo consumo interno e pelo boom imobiliário. Mas nem tudo eram boas notícias. A alta do preço do petróleo – que ultrapassou os 70 dólares por barril em agosto, impulsionado pela crescente procura da China e da Índia e pelo impac - to do Furacão Katrina na produção petrolífera do Golfo do México – pressionou governos e empresas, agravando a inflação. A valorização do dólar foi outro fator determi - nante. No início de 2005, o euro estava em torno de 1,35 dólares, mas a moeda americana recuperou no final desse ano, impulsionada pela subida das taxas de juro pela Reserva Federal dos Estados Unidos da América, uma medida para conter a inflação e o superaquecimento do sector imobiliário. O Ban - co Central Europeu (BCE), liderado por Jean-Claude Trichet, manteve as taxas de juro baixas durante grande parte do ano (2%), para estimular o cresci- mento, mas aumentou-as para 2,25% em dezembro, numa tentativa de travar a inflação. Na Zona Euro, registou-se um crescimento mo- desto de 1,2%, refletindo as dificuldades estruturais das principais economias do bloco, como França e Alemanha. A primeira enfrentou, em outubro e no- vembro, os protestos violentos às portas de Paris, devido à discriminação social e racial nos bairros
periféricos. A segunda viu a ascensão de Angela Merkel, que a 22 de novembro se tornou na primei - ra mulher chanceler do país, iniciando um longo período de liderança que duraria até 2021. Num ano turbulento para a União Europeia, a re - jeição da Constituição Europeia em referendos em França e na Holanda gerou incerteza nos mercados financeiros, que tiveram desempenhos mistos. Nos Estados Unidos, o S&P 500 valorizou 3%, enquanto o Dow Jones caiu 0,61%. Na Europa, o DAX alemão e o CAC 40 francês tiveram valorizações expressi - vas de 27% e 23,4%, respetivamente. O mercado de crédito imobiliário dos Estados Unidos continuou a crescer rapidamente, prenunciando a crise finan - ceira de 2008. As tragédias também marcaram 2005. O ano que iniciou no rescaldo do tsunami na Indonésia ficou marcado pelo Furacão Katrina, que a 29 de agosto devastou Nova Orleães e causou 1.800 mortos, com a resposta do governo de George W. Bush a gerar críticas ferozes. Em Londres, os atentados de 7 de julho abalaram a capital britânica e o mundo, fa- zendo mais de 50 mortos e centenas de feridos. Já no Paquistão, a 8 de novembro, um terramoto de 7,6 graus ceifou mais de 86 mil vidas e deixou milhões de desalojados. Portugal entre crises e reformas Em Portugal, o crescimento económico foi anémi- co, fixando-se nos 0,9%, muito abaixo da média eu - ropeia. O desemprego subiu para 7,6%, refletindo a crise industrial e a deslocalização de empresas para o leste europeu e a Ásia. O encerramento da fábrica da Opel na Azambuja foi um dos casos mais emble - máticos, afetando mais de 1.200 trabalhadores. Os sectores têxtil e do calçado também sofreram com a forte concorrência chinesa e dificuldades na adap - tação ao mercado global. A 20 de fevereiro, José Sócrates venceu as elei- ções legislativas, com 45% dos votos, e assumiu a liderança do governo. Enfrentou um défice público elevado de 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e implementou medidas de austeridade, como o au- mento do IVA de 19% para 21%, o congelamento de salários na função pública e as reformas na Segu - rança Social, visando garantir a sustentabilidade do sistema de pensões. A aposta em infraestruturas tornou-se central. Foram lançados projetos, como a Autoestrada Transmontana, e medidas de simplificação ad - ministrativa, como o Cartão de Cidadão. O sector tecnológico registou um crescimento significativo, com novos investimentos em parques empresariais e centros de inovação, e o energético teve incenti - vos para renováveis, face ao aumento das tarifas elétricas.
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