opinião
N.91
Mas a realidade revela que a disponibilidade de produto na prateleira é o mais importante do retalho, já que se no “momento da verdade” o shopper não encontra o que busca, todos perdem. Perde a marca quando se compra outra marca, perde o retalhista quando se vai a outra loja e perdem todos quando nada se compra e se adia a compra. Os números mostram-nos que, após duas a três ruturas do mesmo produto essencial, o consumidor muda de loja e leva consigo todo o cabaz de compra, dificilmente regressando. E isto não é uma estória da carochinha, é, talvez, a maior das estórias de terror. A utilização de imagens reconhecidas por Generative AI e com a devida privacidade pode ainda ajudar a resolver os problemas com etiquetas de preços, seja a sua inexistência na prateleira, seja a sua não conformidade com os preços que passam na caixa de saída das lojas. O mesmo se passa com as promoções, como saber se estamos realmente a implementar e oferecer as promoções que estão em folheto e definidas? As mais recentes soluções de Store Intelligence permitem recolher imagens em loja através de câmaras fixas ou de câmaras de telemóveis, reconhecer produtos, etique- tas e preços, comparando com o que devia estar a acontecer. Comparar com o sortido de cada loja, com os planogramas de cada loja, com os preços e promoções definidos para cada loja. E o que se ganha com tudo isto? De forma imediata, reduzem-se as ruturas, aumentando vendas e margem, mas também se ganha em termos de eficiência operacional e de experiência de compra. As lojas tornam-se mais eficien - tes, as equipas de loja focam-se no que é importante, os consumidores encontram mais facilmente o que necessitam e há menos reclamações… como se o Génio da Lâmpada nos tivesse concedido o desejo da perfeição. E o que tem Store Intelligence a ver com Generative AI? Tudo!!! Apenas será possível o sucesso se os modelos usarem dados verosímeis e de confiança, se o automatismo se substituir a manualismos e se a quantidade de decisões for priorizada para que o que se resolve amanhã seja diferente do que já se resolveu hoje. Quem me conhece sabe que sou um fanático por Gestão por Categorias, mas a verdade é que os últimos anos têm mostrado que a quantidade de dados a trabalhar e a falta de capacidade analítica são dois dos principais obstáculos para a sua concretização. É neste contexto, a par da necessidade de localização e de personalização, que a Generative AI pode ser a pedra de toque para levar a Gestão por Categorias para outro nível e fazer cumprir o seu papel de diálogo entre re - talhistas e fabricantes, sempre com o consumidor no centro de todas as decisões. Os desafios de adoção e implementação da Generative AI pelos retalhistas são múltiplos e desafiantes, apesar do entusiasmo com a tecnologia e dos resultados iniciais das primeiras fases dos pilotos e projetos que se vão implemen - tando. Sim, pilotos e projetos, porque a adoção ainda está
no início e falar de adoção generalizada é, essa sim, uma verdadeira estória da carochinha.
O desafio vem a seguir ao entusiasmo inicial, com a ne - cessidade de responder aos riscos inerentes à Generative AI, a necessidade de repensar os modelos de negócio atuais e a forma de relacionamento com fornecedores e clientes, mas também a forma de organização interna, com particular nas capacidades e formação de toda a força de trabalho. A sua implementação irá obrigar à necessidade de equacionar as políticas de qualidade de dados e de privaci- dade, de superar a tradicional falta de recursos no retalho e a sua falta de orientação para a tomada de decisões baseada em dados, mas igualmente a forma como os investimentos em tecnologia são pensados e a busca de retorno imediato. Quando as tecnologias têm de ser internalizadas e obri - gam a repensar a organização, a miopia do curto prazo irá certamente ficar-se pelo desejo e dar lugar a uma queda no caldeirão, tal como aconteceu ao João Ratão. A transformação necessária à adoção da tecnologia é radical, mas terá de ser feita passo a passo, à velocidade de cada empresa, dos seus consumidores e das suas equipas. Claramente, será preciso mais do que um desejo concedido pelo Génio da Lâmpada para que se chegue a bom porto e nem todos o conseguirão, por muita força com que a esfreguem. É que não basta esfregar a lâmpada e esperar por um milagre, os milagres dão muito trabalho e exigem muito investimento e dedicação! A decisão da Generative AI ser uma estória da carochi - nha ou um real desejo concedido pelo Génio da Lâmpada está nas mãos de uma tríade que juntará a capacidade de inovação e implementação das startups tecnológicas, da vontade de acreditar e da capacidade de investir por parte dos retalhistas e, acima de tudo, da aceitação e adoção por parte dos consumidores. É que sem consumidores a aderir, a tecnologia é apenas uma ideia sem aplicação prática. É o consumidor que tem a palavra final!
Quem quer casar com a Carochinha, que é rica e boniti- nha?
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