GRANDE CONSUMO
É muito interessante olhar para trás e, num exercício de ficção de marketing, pensar no que teríamos mudado há 20 anos no que respeita à inovação, se soubéssemos o que sabemos ago - ra. A primeira coisa que nos vem à cabeça é uma sensação de oportunidade perdida, porque sabíamos muito mais do que poderíamos pensar, mas não prestámos muita atenção, sendo precisamente o que se passa hoje em dia. O mundo do grande consumo é muito estável por defini - ção. Comer e beber são necessidades tão básicas que estão bastante desligadas de variáveis macro, como a economia. Obviamente que se alcançou um mínimo que foi ultrapassado em grande medida nos países ocidentais. Assim, não vamos comer ou beber um pouco mais ou um pouco menos pelo fac- to de a economia crescer ou diminuir um pouco. Do mesmo modo, as necessidades que satisfazemos, as razões pelas quais compramos um produto ou outro também não variam muito. É por isso que o prazer, a conveniência e a saúde foram, são e serão os principais drivers que movem o mercado. Claro que há muitas coisas que mudam, não me interpre - tem mal. Temos mudanças na forma como consumimos, por exemplo. Nos últimos anos, assistimos a uma evolução impor - tante no que consideramos saudável, passando da subtração ou adição de ingredientes para conceitos muito mais holísti - cos e complexos, como naturalidade, pegada ecológica, eco... Vimos como o consumo nos lares se está a tornar cada vez mais desestruturado, com cada vez menos membros da famí - lia a comer ao mesmo tempo, pratos individuais, mais petiscos ou consumo em frente à televisão ou ao tablet e, claro, tudo isto é pontuado por modas mais ou menos passageiras, como a adição de vitaminas e ómega 3 a tudo, a demonização de in - gredientes como o óleo de colza ou o movimento plant -based. A forma como fazemos compras também mudou, impul - sionada pelas alterações na estrutura dos retalhistas. Compra - mos mais pela proximidade, mais em retalhistas organizados, o que nos leva a fazer compras em menos locais, com menos frequência, mas com os carrinhos mais cheios. Estamos tam- bém muito mais informados e podemos comparar mais facil- mente. E, claro, houve também mudanças na oferta devido às evoluções tecnológicas que nos permitem embalar, conservar, cozinhar, texturizar, aromatizar de diferentes formas. Todas estas mudanças são importantes e os fabricantes esforçam-se por detetá-las e cobri-las com o lançamento de mais e mais produtos. Isso é muito claro. O que eu quis dizer com coisas que não mudam são os fundamentos que explicam o sucesso de uma inovação. Para simplificar, mencionarei os dois mais importantes: o facto de o produto ser visto como novo e relevante e de estar disponí- vel nas lojas. E isso, que é o mais importante para o sucesso, não mudou. O problema é que, enquanto indústria, não nos temos saído muito bem. Há cada vez menos inovação, por - que a inovação tem cada vez menos êxito. Como temos medo de falhar, arriscamos pouco na ideia e apoiamo-la pouco. E a distribuição acredita cada vez menos em nós e o consumidor
opinião 20 anos de inovação: o que é que não sabíamos em 2005? Sabíamos muito, mas não fizemos caso CÉSAR VALENCOSO Consumer Insights Director Iberia Kantar Worldpanel
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