Grande Consumo N.º 91

GRANDE CONSUMO

Agora não. Tenho à minha volta um hiper, um super, um dis- count , uma loja de proximidade e, consoante a minha missão de compra, vou eleger um formato diferente. Como é que o boom do comércio eletrónico influenciou o sec - tor do retalho e quais foram os momentos-chave dessa evolu- ção? No passado, prevíamos que o e-commerc e iria crescer muito. E cresceu, só que não nas áreas alimentares. Vemos o consumi - dor português a comprar online viagens e bilhetes para concer- tos, mas na área alimentar não há esta penetração. Aquando da pandemia, havia a noção de que o e-commerce iria disparar. Mas agora está a estabilizar novamente. Volto à questão da oferta. A verdade é que não temos mui - tos mais players do que no passado. É certo que as plataformas agregadoras de entregas vieram mudar um pouco o panora- ma, mas, em termos de lojas online , nem todos os retalhistas em Portugal as têm. Penso que, quando houver mais players a entrar no e-commerce , este vai ganhar mais importância. Neste momento, ainda é uma importância relativamente baixa, mas faz parte da estratégia dos retalhistas. Como é que o perfil do consumidor português mudou ao lon - go destes 20 anos? Há 20 anos, o consumidor estava muito sujeito à oferta e à in - fluência do próprio retalhista na sua decisão de compra. A in - formação de que dispunha era a que a insígnia lhe passava. Hoje, é muito diferente. Temos um consumidor informado, que procura informação sobre os alimentos, sobre os produtos que vai comprar, procura opiniões e é influenciado pelas redes sociais. E estamos ainda a subestimar a influência que as redes sociais têm em determinadas decisões de compra alimentares. Isto é uma mudança muito significativa na forma do consu - midor pensar e que exige adaptação por parte do retalho. O consumidor é um omnishopper , pelo que o retalho tem de estar presente em todos os pontos de contacto que tem com as lojas. Como é que as mudanças na demografia e nos estilos de vida impactaram o consumo, desde a redução do tamanho das fa- mílias até ao envelhecimento da população? A Nielsen tem um painel lares que permite acompanhar as compras feitas pelas famílias portuguesas, por tipologia de família e por faixas etárias. Gosto muito destas análises, por- que mostram padrões de consumo completamente diferentes. Por exemplo, a alimentação saudável preocupa a todos. Só que a alimentação saudável para um jovem de 25 anos não tem nada a ver com alimentação saudável para um sénior de mais 65 anos. Na população mais idosa, vemos muitas compras de frutas, legumes, peixe fresco, carne, tudo muito natural e pou- cos produtos processados. Nos mais jovens, vamos ver mais produtos vegan ou com proteínas. Esse consumo diferenciado também faz parte da informação que é vital para os retalhistas. O que aprendemos com a pandemia de Covid-19 sobre a resi- liência do sector do retalho e os novos padrões de consumo? Aprendemos que a capacidade de reagir rapidamente a qual- quer mudança no contexto é fundamental. Mostrou que é pre - ciso estar sempre em cima do comportamento do consumidor e tentar antecipar, o mais possível, as mudanças nos hábitos.

“As marcas próprias representam hoje mais de 45% das vendas em valor, sendo que em volume essa percentagem é superior. Mas passaram por várias fases. Uma das aprendizagens destes 20 anos é que as marcas próprias não são só um fenómeno do consumidor. A verdade é que, a partir de 2008, o retalho passou a oferecer muito mais marca própria, a sua disponibilidade cresceu exponencialmente. Como tal, o consumidor foi atrás da oferta”

24

Made with FlippingBook - professional solution for displaying marketing and sales documents online