opinião
N.91
aparecimento e desenvolvimento futuro, anos mais tarde, dos centros comerciais, tendo como âncora principal o hi- permercado. Na verdade, o segundo grande momento na evolução da distribuição em Portugal aconteceu com o aparecimento, em 1985, do conceito hipermercado, com a abertura da primeira loja Continente, em Matosinhos, a que, na altura, num edito - rial que escrevi para a revista Distribuição Hoje, considerei corresponder à descoberta do fogo no comércio português. Com o hipermercado, alargou-se significativamente a oferta de produtos debaixo do mesmo teto, abrangendo a generalidade dos produtos não alimentares, introduziram-se novos processos de gestão operacionais, comerciais, admi - nistrativos e informáticos, que trouxeram inovação, mais efi - cácia, aumento de valor, sobretudo, mais e melhor serviço ao cliente, que aderiu, entusiasticamente, a este formato. Entretanto, a partir de 1985, surgiram também os primei - ros grandes centros comerciais, promovidos e/ou projetados por empresas especializadas do imobiliário comercial, com uma oferta diversificada de marcas, produtos e serviços. Es - tes grandes centros comerciais necessitavam do hipermerca- do como sua âncora principal e fundamental, para reforçar o necessário tráfego de clientes e, por sua vez, o hipermercado necessitava de estar integrado num grande espaço comercial, com oferta diversificada e complementar de produtos e ser - viços, aumentando ainda mais a sua capacidade de atração. A concretização desta integração, centro comercial com hiper - mercado, que teve e tem em Portugal um dos seus maiores expoentes, foi um facto com enormes repercussões no desen- volvimento da distribuição, que mostrou bem a sua grande capacidade de inovar e de se renovar, de arriscar e avançar sempre no caminho do progresso, arrastando consigo novos empreendedores, novas marcas, produtos e serviços. No ano anterior, em 1984, o grupo Pão de Açúcar tinha lançado o primeiro projeto de marca própria com a designa - ção de “Produtos Brancos”, correspondendo a uma primeira geração de MDD, facto que podemos considerar outro mo - mento marcante e, de certa forma, revolucionário, quer nas relações entre produtores e distribuidores, quer na alteração de comportamentos de consumo, como atualmente a quota de mercado das MDD de quase 50% tão bem evidencia. Outro grande momento na evolução da distribuição no nosso país foi a constituição da Codipor – Associação Portu - guesa de Codificação Comercial, que lançou os códigos de barras, em Portugal, com a bandeira 360 e hoje é a GS1. Ora, uns anos antes, em 1982, era eu um miúdo de 25 anos a de - sempenhar as minhas primeiras funções profissionais como secretário-geral da ANS, quando me apercebi, através da lei- tura da revista francesa LSA, da existência de um sistema de codificação comercial designado por Gencod. Entusiasmado com o potencial revolucionário do processo, sugeri numa das reuniões de direção da associação que também nós, em Portugal, deveríamos criar e lançar um sistema de codifica - ção de código de barras para simplificação das operações de
passagem de caixa e criação de inventários permanentes. Ao meu lado, o então presidente da ANS, Dr. Figueiredo Vasco, deu-me duas palmadinhas nas costas e disse-me: “o senhor é um sonhador… mas se quiser avance!”. E eu avancei. Após muitos contactos e reuniões, constituímos a Codipor, elege- mos os primeiros corpos sociais, filiámo-nos na EAN e demos o primeiro passo desta aventura que este ano completa 40 anos. O papel pioneiro da Codipor na sua transversalidade e natureza cooptitiva foi determinante na criação de condições de aprofundamento das relações produção/distribuição, no aperfeiçoamento da maior eficácia de processos, no aumento do nível de sofisticação da oferta comercial e na melhoria das condições gerais de consumo e de vida dos portugueses. Nesta linha de inovação permanente, nos anos 90, deu - -se também o aparecimento do primeiro cartão cliente ou de fidelização e, pouco tempo depois, foi lançado o primeiro cartão de pagamento, de débito e crédito, de uma cadeia de distribuição, complemento importante na oferta global de serviços ao cliente e na formação de valor acrescentado. Já não sei quem foi que um dia escreveu que as pessoas imaturas pensam que cada escolha que fazem aporta ganhos, ao contrário das pessoas maduras, que sabem que cada es- colha que fazem acarreta perdas. Mas, se alguma coisa na minha vida aprendi, foi que todos os dias ganhamos e todos os dias perdemos muitas coisas. Seria demasiado longo o in- ventário que faríamos de tudo o que a vida já nos deu e já nos tirou, numa espécie de ondas ou marés que tanto nos trazem coisas inesperadas e boas como, de seguida, no-las levam, de novo e irremediavelmente para longe e que nunca mais voltaremos a ver, sentir ou viver. Acaso, fado ou destino já chamámos muitos nomes a este contínuo e misterioso vai e vem que a vida encerra e que sempre nos surpreende, ain- da que nem sempre pela positiva. Mas, de uma maneira ou de outra, somos sempre nós, e só nós, os responsáveis por tudo o que nos acontece e esta é a grande verdade que muitos se recusam a aceitar. De facto, quando estamos apenas inte- ressados em algo, fazemos o que for mais conveniente, mas quando estamos verdadeiramente comprometidos, fazemos o que for preciso e este desigual nível motivacional faz toda a diferença, depois, quando analisamos os resultados das nos - sas ações. Para o bem e para o mal, um “jurássico”, como eu, teve o privilégio de acompanhar de forma direta e testemunhal esta evolução da distribuição, que também foi, é e continuará a ser marcada por uma sucessão inesgotável de inovações e mudanças, de erros e acertos, de avanços e recuos, em que as empresas e nós, consumidores, ora perdemos, ora ganhamos coisas, num longo e infindável inventário de coisas achadas e perdidas. Assim é, também, a distribuição.
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