GRANDE CONSUMO
Impacto transformador Gonçalo Hall não tem dúvidas de que Portugal pre - cisa deste mercado. Tal como não tem dúvidas de que também precisa de uma estratégia para o seu desenvolvimento e integração. Sendo pragmático, afirma que os nómadas trazem muito dinheiro para a economia real, agem como consumidores locais e preferem viajar nas épocas baixas e médias. “O Algarve tem muito potencial para este público na época baixa, mas apenas Albufeira apresentou um projeto mu- nicipal na região, em que oferece um espaço de coworking gratuito em frente à praia, eventos e integração através de gestoras de comunidade” , especifica. O diretor executivo da Startup Portugal recorda que os nómadas digitais são trabalhadores altamen - te qualificados, além de 25% ter a sua própria em - presa, acabando por contribuir com o seu conheci- mento para o desenvolvimento local. A experiência mostrou-lhe que, quando bem integrados, os nóma- das digitais são uma força de inovação, de desenvol - vimento tecnológico e até de atração de população. “Na Madeira, a presença dos nómadas inspirou muitos madeirenses jovens a voltar com o seu trabalho remoto e a integrar a comunidade” , partilha, dando conta de que, além disso, se assistiu ao aumento significativo de criação de empresas tecnológicas. “Vimos também muitos negócios neste nicho a aparecerem na ilha, desde espaços de coworking, coliving, até cafés de especialida- de e outros serviços que não existiam antes” , descreve, concluindo que “existe espaço para fazer muito mais com uma melhor integração dos nómadas no ecossistema português de startups que é tão falado atualmente” . E é precisamente sobre este ecossistema que se debruça o diretor executivo da Startup Portugal, para deixar a certeza de que as startups desempe- nham um papel essencial como motores de inova- ção e agentes de disrupção tecnológica em econo - mias mais tradicionais, como a portuguesa. Afinal,
“estas empresas trazem novas ideias, métodos, processos e tecnologias, contribuindo para a modernização de sec- tores estabelecidos e para a diversificação da economia” . E dá como exemplo a Delta Cafés, que “tem integrado ativamente soluções inovadoras provenientes do ecossis- tema empreendedor” . Essa colaboração – menciona – não apenas modernizou os seus produtos e proces - sos, mas também reforçou a sua competitividade em mercados globais. Porém, António Dias Martins chama a atenção para um outro impacto das startups no tecido em- presarial e que vai muito além da tecnologia. É que estas empresas nativas digitais “promovem novas cul- turas organizacionais e atraem talento qualificado para o país” . É um aspeto, muitas vezes, descurado, mas que tem dado frutos. “Empresas tradicionais que abra- çam esta ligação ao ecossistema empreendedor têm obser- vado retornos significativos, seja na forma de inovação e otimização de custos, no desenvolvimento de produtos mais alinhados com as expectativas dos consumidores e mesmo na cultura organizacional” , evidencia. O ecossistema inovador do país “tem o potencial de transformar sectores inteiros, desde o retalho à agri - cultura, desde que continuemos a promover políticas que favoreçam a colaboração entre startups e empresas con- solidadas” , acentua o presidente da DNA, reforçan - do a ideia de que este é um modelo de crescimento sustentável que posiciona Portugal como um player relevante na economia global. Quer o presidente da DNA, quer o diretor exe- cutivo da Startup Portugal comungam da perspeti- va de que este é um movimento que veio para ficar. Gonçalo Hall afirma isso mesmo, até porque a per - centagem de trabalhadores remotos que escolhe ser nómada ainda é muito pequena, prevendo-se que cresça, mesmo que seja por um período de três a quatro anos. Está-se, pois, perante um fenómeno du- radouro e “com uma tendência enorme de crescimento” . Também António Dias Martins acredita que Por - tugal se está a consolidar como hub atrativo para a inovação e o empreendedorismo. E avança com números que o atestam: em 2023, verificou-se um aumento de 16% no número de startups face ao ano anterior, para um total de 4.176. Não obstante, en - tende que há alertas que não podem ser ignorados, nomeadamente os sinais internacionais de instabi- lidade económica e geopolítica e a crescente com- petição por capital no mercado global. “Estes fatores mostram que, embora o movimento empreendedor em Portugal seja resiliente, necessitamos de manter políticas consistentes e estratégias claras para atrair e reter talento e capital” , reflete, preconizando que “manter o foco no apoio à criação de inovação, através de instrumentos como a Lei das Startups, regimes fiscais competitivos e iniciativas de internacionalização, é essencial para que este fenómeno seja não apenas duradouro, mas sustentá- vel e transformador para a economia portuguesa” .
“Os nómadas já estão um pouco por todo o território, com destaque para a Madeira, que lançou aquele que foi o melhor projeto de atração deste mercado”
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