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N.91
terra, com aproveitamento natural. “A produção de biogás pode ter um papel muito relevante na transição energética da economia portuguesa, enquanto transfor- ma desperdício em riqueza para as explorações agríco- las” . Mais do que uma tendência, transformar resí - duos em recursos é uma necessidade. Um estudo da Fundação Ellen MacArthur revela que a adoção de práticas circulares na indústria agroalimentar pode reduzir as emissões de gases com efeito de es - tufa em até 45% até 2030. Porém, e para que funcio - ne, deverá assentar numa abordagem empresarial, política, governamental e científica integrada, que considere todos os fatores inerentes às característi - cas únicas da cadeia de valor alimentar. Pedro Queiroz é assertivo neste aspeto. “Estar a impor às empresas metas que visam apenas objetivos políticos, e para as quais não há ainda soluções na área da investigação e desenvolvimento, que permita alcançar soluções inovadoras, é profundamente despropositado e errático” . É nesse sentido que Ondina Afonso destaca o su - cesso de iniciativas como o vinagre de Maçã de Al - cobaça Continente Seleção, que, fruto de uma par - ceria entre organizações de produtores, indústria e retalho, permite aproveitar anualmente 50 tonela - das de maçã fora de calibre e sem valor comercial. De facto, a indústria alimentar tem estado aten- ta a esta temática e os projetos mobilizadores do sector abordam sistematicamente a circularidade, tentando encontrar soluções inovadoras para valo - rização dos subprodutos e permitindo a redução de resíduos, sob as mais variadas abordagens. Atual- mente, a PortugalFoods encontra-se a dinamizar, em conjunto com o Inovcluster e a Câmara do Co- mércio e Indústria de Ponta Delgada, o Roteiro para a Descarbonização do Sector Agroalimentar, o que facilitará a transição para uma economia neutra em carbono e circular, de forma a capacitar as empre- sas para a adoção dos processos e tecnologias que potenciem a descarbonização. “Este roteiro, que será um instrumento orientador, com informação de soluções concretas que permitam às empresas otimizar a sua ati - vidade ao nível da digitalização, da energia e da circula- ridade, terá sequência em 2025 com ações de capacitação para a implementação” , detalha Deolinda Silva. “É hora dos decisores políticos colocarem este sector permanentemente na agenda, como estratégico para o país, e não apenas quando as crises surgem”
que o sector se torne mais resiliente” , detalha João Pon - tes, senior partner da ERA. De igual forma, a IA também tem impactado toda a cadeia de abastecimento. “Através de mode- los preditivos, as empresas e indústrias agroalimentares conseguem antecipar a procura e tendências de consumo, evitando ruturas de stock e minimizando custos de ar- mazenamento, logística e transporte” , prossegue João Pontes, destacando ainda a maior eficiência nas operações de rastreabilidade. Rastreabilidade esta que não é apenas uma fer - ramenta de controlo, mas uma garantia de susten- tabilidade para consumidores cada vez mais exi - gentes. O relatório “Agricultural Outlook 2022-31” da Organização das Nações Unidas para Alimen - tação e Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) destaca que a Europa enfrenta desafios únicos: por um lado, produzir de forma sustentável, enquanto responde às novas exigências dos consumidores. A adoção de blockchain e IA nas cadeias de abaste- cimento pode, de facto, reduzir desperdícios – a McKinsey estima uma redução de 15% - e aumentar a confiança dos consumidores. “ O blockchain permite fazer a rastreabilidade de cada etapa da cadeia, desde a origem das matérias-primas até ao consumidor final, ga - rantindo autenticidade, segurança e redução de fraudes. Esta tecnologia é especialmente útil na certificação de produtos sustentáveis ou de origem controlada” , destaca Christelle Domingos. Não obstante, os custos de implementação eleva - dos ainda são uma barreira para muitas empresas, um alerta que é dado por Pedro Queiroz e confir - mado pelas ações de auscultação e caracterização do sector também feitas pela PortugalFoods. “Perce- be-se que, apesar de existirem empresas com um grau de maturidade tecnológico mais elevado, a grande maioria está ainda numa fase de aprendizagem sobre estas temá- ticas” , salienta Deolinda Silva, que, falando em con- creto da inteligência artificial e do blockchain , nota que ambos “acarretam investimento elevados, pelo que, apesar das empresas reconhecerem as vantagens da sua utilização, como por exemplo na questão da fraude e na segurança alimentar, há, ainda, um longo caminho a percorrer” . Economia circular: um pilar do futuro Por outro lado, com a sustentabilidade a revelar-se uma preocupação crescente entre os consumido - res, que valorizam cada vez mais produtos que ado - tam práticas sustentáveis e transparentes, transfor- mar resíduos em recursos é o caminho. Até porque, sublinha Luís Mira, “o modo de produção agrícola re- presenta, na sua génese, um ciclo natural, que constitui um exemplo de economia circular em si mesmo” . O secretário-geral da CAP menciona, por exem- plo, o potencial da produção de biogás a partir das matérias orgânicas da pecuária, com os resíduos dessa produção energética a serem devolvidos à
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