Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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II. ANTECEDENTES EM FREUD

Os conceitos contemporâneos de enactment radicam todos em conceitos que Freud sistematizou. Já desde o tratamento de Ana O. por Breuer (Breuer 1893) – o primeiro conluio descrito na literatura psicanalítica – Freud (1895) se preocupava com acções que ocorriam à medida que o ou a paciente revelava os seus problemas ao analista. A Transferência (1905) foi a primeira dessas descobertas (o caso Dora), em que a estrutura de fantasias do paciente é projectada sobre o analista. Embora o tenha descrito primeiro na sua auto-análise em 1899 (A Interpretação dos Sonhos), em 1910 Freud deu ao complexo de Édipo maior proeminência, demonstrando como as crianças se relacionavam sexualmente com os seus pais de acordo com padrões repetidos depois na vida adulta, agora com o analista como substituto paterno. Seguiu- se a Contratransferência (1910), referindo-se à “influência do paciente sobre os seus sentimentos inconscientes” (1910, p.130). A descoberta seguinte foi o a cting out (1914) (embora Freud já o tivesse mencionado antes, considerando o término prematuro do tratamento de Dora como uma vingança da parte dela em relação ao próprio Freud, sendo este um objecto substituto para os desejos de punição que ela sentia para com Herr K.). Outra das bases do termo contemporâneo enactment veio do valor que Freud deu à importância da compulsão de repetição (1914). Este conceito descrevia como os traumas se repetiam no tratamento e na vida. Freud escreveu: “ Ele o reproduz n ã o como lembran ç a, mas como a çã o; repete-o , sem, naturalmente, saber que o est á repetindo ( … ) n ã o pode fugir a esta compuls ã o à repeti çã o; e, no final, compreendemos que esta é a sua maneira de recordar …” (1914, pp. 91-92) Em 1923, o desenvolvimento da teoria estrutural levou a que se focassem mais os mecanismos de defesa e sua relação com o ego. As defesas que se tornariam centrais para o conceito de enactment eram a projecção, a introjecção e a reprojecção. Em suma, os conceitos actuais de enactment incorporam muitos conceitos freudianos, embora também, evidentemente, vão mais além.

III. DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO

Em inglês, o verbo to enact está ligado ao verbo to act. Um dos significados deste verbo é o de representar um papel dramático ou teatral. O termo to enact , juntamente com o substantivo correspondente enactment , pode encontrar-se, de uma forma pouco precisa, tanto na literatura psicanalítica clássica como contemporânea e refere-se a externalizações dramáticas do mundo interno do paciente, tanto numa sessão como na vida quotidiana. O termo re-enactment tem o mesmo significado. No seu artigo seminal “On Countertransference Enactments”, Jacobs (1986) descreve

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