Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

Retornar ao sumário

intelectual como constratransferência e na transformação em acção como enactment ” (Steiner 2006b: 326). Na Europa, como nas Américas, a maioria dos psicanalistas acabou por considerar os enactments como inevitáveis, como aconteceu anteriormente com a transferência e contratransferência. No entanto, ao contrário da vasta gama de opiniões nas Américas acerca da utilidade, necessidade e modo de trabalhar com os enactments , a maior parte dos analistas europeus, tomando-os essencialmente como uma falha da função analítica contentora do psicanalista, considera a sua ocorrência útil apenas se e quando o analista toma consciência deles, é capaz de interpretá-los e elaborá-los dentro do processo analítico. A “empatia enactiva” de Gibeault (2014), a “empatia sensorial” de De Marchi (2000) e Zanocco (2006) e a “experiência agida partilhada”de Gofrind-Haber e Haber (2002) são exemplos de conceitos relacionados com o enactment , com ênfase no acesso e trabalho analítico dos dados pré- verbais, pré-representados e pré-simbólicos. Embora não se situem na tendência dominante, estes conceitos enriquecem o diálogo europeu e global sobre o enactment e fenómenos co- relacionados.

V. CONCLUSÃO

Quando a díade analítica se desestabiliza dramaticamente ( enactment agudo), isso pode indicar que um enactment anteriormente crónico foi desfeito, tornando-se agora activo dentro da análise. É necessário ao analista tomar consciência deste estado, tentar compreender e depois interpretar o que ocorreu. O campo analítico pode ser destruído se tal for ignorado ou se o enactment crónico regressar. Além disso, o ou a analista pode identificar mais aspectos de enactments crónicos ou potencialmente agudos desenvolvendo um “novo olhar” quando escreve o material, pensa novamente sobre ele ou o discute com outros analistas. Os enactments trazem consigo significados desenvolvimentais e dinâmicos potencialmente importantes. Escutar e trabalhar com enactments , compreendendo-os e interpretando-os, pode minimizar a ocorrência de expressões somáticas não-simbolizadas na vida quotidiana do ou da paciente. Proceder deste modo pode aliviar o fardo existente sobre os relacionamentos e investimentos actuais da vida dos pacientes, um fardo que foi imposto pelos eventos e acontecimentos da infância e juventude, não-esquecidos e simultaneamente não- relembrados – incluindo aqueles que foram transmitidos transgeracionalmente. Os analistas podem também apreender melhor, a partir de uma posição de compreensão empática, aquilo por que o paciente passou, aprofundando e alargando assim o alcance transformador e emocionalmente significativo da experiência psicanalítica para os pacientes; e expandindo também o próprio envolvimento multidimensional do analista no processo psicanalítico. Embora prevaleça a visão, nas culturas psicanalíticas dos três continentes, de que os enactments tem de ser compreendidos e em última análise interpretados, torna-se muito

125

Made with FlippingBook - Online catalogs