Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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p. 193). Têm sido principalmente escritores pós-freudianos os que teorizaram sobre o princípio do "negativo" como uma suposição básica em todos os escritos de Freud. Bion (“capacidade negativa”), Lacan (a palavra como ausência da coisa), Green (“o trabalho do negativo”), Zaltzman (“o impulso anarquista”) e outros, reconheceram que o inconsciente não é apenas uma presença oculta/lutando por representação, mas é igualmente constituído por poderosas formas de ausência, atribuições tanto protetoras quanto destrutivas. O conteúdo do Ego do Modelo Estrutural/Segunda Topografia de 1923 é principalmente pré-consciente, mas uma porção significativa sua é dinamicamente inconsciente. Essa noção também tem precursores na (primeira) teoria Topográfica, quando, no artigo de 1915 “O Inconsciente”, Freud já havia observado que “Grande parte desse pré- consciente origina-se no inconsciente” (Freud, 1915c, p. 219). Em uma elaboração, Freud notou pensamentos que, ele referiu, como tendo todos os sinais de terem sido formados inconscientemente, porém "são altamente organizados, livres de autocontradição, tendo usado todas as aquisições do sistema Cs, dificilmente distinguindo-se, a nosso ver, das formações daquele sistema” (ibid, p. 218). Aqui, mesmo antes da teoria Estrutural de 1923, Freud apresentou um pensamento formado no inconsciente e tendo as qualidades do pensamento de processo secundário. No entanto, a elaboração sistemática de tais observações de vários componentes do Ego teve que esperar até “O Ego e o Id” (Freud, 1923a), o texto que inaugurou a Teoria Estrutural/ Segunda Topografia. "O Ego e o Id" (1923a) é frequentemente visto como o último grande trabalho teórico de Freud. Aqui, ele postulou dois tipos de inconsciente: o latente e o dinâmico. O " inconsciente latente " é capaz de se tornar consciente (através de conexões com palavras) e deve ser considerado um termo estritamente descritivo. O " inconsciente dinâmico " é a parte do inconsciente que, por causa da repressão primária, não é capaz de se tornar consciente. Freud acrescenta que o termo " inconsciente " deve ser preservado para o " inconsciente dinâmico " ainda que, segundo ele, seja impossível evitar a ambiguidade entre o inconsciente descritivo e o dinâmico. O Ego, cujo conteúdo é predominantemente pré-consciente, tem duas faces, uma interna e outra externa. Em contraste com a sua associação original de Ego com consciência, no Modelo Estrutural apenas a face perceptiva externa, também chamada "o ego coerente" é consciente. Enquanto isso, a face interna, a superfície que enfrenta o Pcs é dinamicamente inconsciente. Aqui, Freud chegou à questão das resistências inconscientes , que se tornou um dos fatores mais importantes em sua mudança para o Modelo Estrutural, e foi central na abordagem da dificuldade de restringir o processo primário ao reprimido inconsciente. Ele escreveu: "Entretanto, visto não poder haver dúvida de que essa resistência emana do seu ego e a este pertence, encontramo-nos numa situação imprevista. Deparamo-nos com algo no próprio ego que é também inconsciente, que se comporta exatamente como o reprimido - isto é, que produz efeitos poderosos sem ele próprio ser consciente e que exige um trabalho especial antes de poder ser tornado consciente." (p. 29-30). Freud conceituou "a antítese entre o ego coerente e o reprimido que é expelido (split off) dele" (p.30), e acrescentou que o inconsciente não coincide mais com o reprimido; tudo o que é reprimido é inconsciente, mas nem tudo o que é inconsciente é reprimido. Além disso, como uma projeção mental da superfície do corpo, "O ego é, primeiro e acima de tudo, um ego corporal" (p.40) O Ego é o representante do mundo

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