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oposições binárias em ambos os sistemas e normalmente funcionando cooperativamente (Bion, 1962, 1963, 1965). A partir do conceito de barreira de contato, surge a “ visão binocular ”: uma habilidade baseada numa dupla focalização que fomenta a cooperação entre as funções mentais conscientes e inconscientes (Reiner, 2012). Bion se refere a isso quando escreve que “precisamos de um tipo de visão binocular mental - um olho cego [para o mundo sensual], o outro olho com visão boa o suficiente ” (Bion, 1975, p.63). A visão binocular dá profundidade e ressonância às experiências e é vista por Grotstein (1978) como uma “pista dupla” que permite a apreensão dos fenômenos que ocorrem no curso de uma análise. “ Sistemas Ics e Cs podem ser considerados como dois olhos ou dois hemisférios cerebrais que são receptivos às interseções do sempre em expansão 'O' a partir de seus respectivos pontos de vista ” (Grotstein 2004a, p.103). Essa visão binocular permite ao analista prestar atenção e tentar compreender o que ele vê de uma dupla perspectiva: consciente e inconsciente que, por sua vez, promove uma maneira de olhar as coisas de diferentes pontos de vista (De Bianchedi, 2001). Segundo Grotstein (1997), Bion (1970) postulava que, como analistas, nós devemos usar ambas as nossas mentes, consciente e inconsciente, a fim de sermos receptivos ao "O" como "a Verdade Absoluta sobre a Realidade Última ”. A partir deste conceito, deriva a teoria do inconsciente como um sistema que coincide parcialmente com "O", incognoscível e desconhecido, que permanece fora da consciência reflexiva. A única maneira de acessá-lo é por ressonância em "O". Ao introduzir o conceito de "O" e vinculá-lo com a coisa-em-si e "infinito", Bion coloca o conceito de inconsciente numa era pós-moderna de compreensão: está assim "ligado ao infinito, à teoria do caos e da complexidade, à teoria da catástrofe e à espiritualidade" (Grotstein 1997, p.84). Deve-se destacar que uma forte correlação entre ambiente e a possibilidade de encontrar "O" existe: é a qualidade dos objetos primários e interlocutores (e, em análise, a qualidade da postura analítica do analista) que determina a possibilidade de que o bebê/paciente possa suportar o encontro com "O" (Gaburri & Ambrosiano, 2003) e com a realidade emocional que nele reside. Para Bion, “O” é o domínio do “objeto psicanalítico”, o verdadeiro norte em direção a qual a investigação analítica deve ser direcionada, mesmo que nunca possa ser totalmente "conhecido". Esta visão de algo que está lá, mas que só pode ser intuído ou "tornar-se", porque não é "dos sentidos”, é epistemologicamente reminiscente do pensamento de Platão, Kant e de vários místicos. Na medida em que os elementos ou "ocorrências" do “O” na existência de um indivíduo nunca podem ser totalmente conhecidos ou verbalizados, então essa dimensão inefável do ser é, por definição, " inconsciente ". No entanto, a parte incognoscível "inconsciente" de “O” não é o inconsciente dinâmico Freudiano da repressão. É mais parecido com as camadas mais profundas do id Freudiano , algo que é emergente, não estruturado, ainda não formado. Se alguém pode falar de "elementos" no domínio de “O”, pode-se afirmar que eles consistem em distúrbios sensoriais ou turbulências que ainda não são psíquicas (" pré- psíquico" ou "protopsíquico "). Bion nunca designou o conteúdo de “O”, mas descreveu fenômenos prépsíquicos, protomentais que denominou de elementos Beta , que são inadequados para serem pensados ou para se pensar sobre, a menos que, ou até que, eles sejam transformados por um tipo de “ trabalho de sonho ” psíquico. Ele atribuiu o nome de “ função
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