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acessível à linguagem convencional, outra parte denominada “lalangue”, termo Lacaniano para o tipo de linguagem que precede a linguagem da ordem do Simbólico. Assim, temos dois tipos de conhecimento; o conhecimento do le langage e o conhecimento do lalangue . O inconsciente-lalangue está fundamentalmente situado fora do Simbólico, mas nos afeta em um grau que excede nosso conhecimento enunciado. Evans define lalangue como “o substrato primário caótico da polissemia a partir do qual a linguagem é construída” (1996, p 97). Um grupo de analistas influenciado por Lacan tentou estender o conceito de significante para englobar significantes além da linguagem. Baseado em seu trabalho com psicóticos, Piera Aulagnier (2001) apontou para a insuficiência do conceito de significante. Introduziu o conceito de pictograma para se referir a um nível de “representação” não verbal inconsciente do encontro corporal do bebê com seu cuidador (zonas erógenas e seus objetos parciais), na total ignorância da dualidade da qual ela é composta. Guy Rosolato (1969) introduziu o conceito de significantes de demarcação com o mesmo objetivo de apontar para significantes fora da linguagem, e Didier Anzieu (1995) cunhou o termo significantes formais que sustenta sua teoria do eu-pele. Mesmo Jean Laplanche - um dos que se opuseram sistematicamente a ideia do inconsciente sendo estruturado como uma linguagem - introduziu os termos significantes enigmáticos e significantes designificados. Onde os analistas adotaram o conceito de significante de Lacan, eles ultrapassaram seu significado exclusivamente linguístico e, desta maneira, permaneceram mais próximos do conceito freudiano de inconsciente. Assim, em oposição a Lacan, Laplanche (1999a) sustentou que o inconsciente não é estruturado como uma linguagem, já que não existe nem código, nem mensagens no inconsciente. O inconsciente consiste em significantes isolados desprovidos de qualquer "referencial". Para marcar sua diferença do significante lacaniano, Laplanche mudou seus significantes enigmáticos para mensagens enigmáticas . Substituindo a ideia de repressão de Freud pela de "tradução", Laplanche (1999b, 2011) abriu caminho para uma explicação intersubjetiva da constituição do inconsciente . O adulto, pela ativação de sua sexualidade inconsciente, transmite mensagens enigmáticas no curso do cuidado normal da criança. A criança irá traduzir como pode essas mensagens. O que é perdido na tradução constitui o inconsciente da criança. Porque o inconsciente do adulto é sexual, um sexual infantil , este sexual é o que é transmitido à criança como enigma. Colocando-se à parte de Laplanche, e outros que favoreceram a primeira tópica de Freud, André Green tem, em suas numerosas publicações, apontado para a segunda tópica como sendo mais útil no trabalho com pacientes não neuróticos. Como consequência, sua abordagem ao conceito de inconsciente tomou um rumo ligeiramente diferente dos analistas franceses mencionados até agora. Também se referindo a Freud, Green (2005) argumenta que o inconsciente-como-sistema é composto de representações e afetos que “excluem a esfera da apresentação de palavras” e ele entende que “o inconsciente só pode ser constituído por uma psique que evade à estruturação da linguagem ” (grifo acrescentado, 2005, p. 99). Com a introdução de um ego inconsciente por Freud, o status do inconsciente foi modificado; já não se limitava ao conteúdo do recalcado, mas à sua própria estrutura. Este importante desenvolvimento da teoria de Freud abriu as portas para os modos de pensamento, como Green
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