Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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semelhante, levando em conta a qualidade da presença dos pais na construção do inconsciente, vem de Christophe Dejours (2001). Quando o cuidador ataca o processo de pensamento da criança, a capacidade de repressão é desorganizada, argumenta Dejours, resultando no que ele chama de inconsciente (sem pensamento) "amental" que não possui a produção associativa e elaborativa do inconsciente reprimido. Outra reviravolta na conexão entre o inconsciente e a representação veio recentemente do analista Franco Canadense Scarfone (2016a no prelo, 2016b in press) que tem apontado que a língua inglesa tem duas palavras: consciousness e awareness . A etimologia mostra que o «ware» em «awareness» está relacionado a não perder de vista alguma coisa. Mas awareness parece ser apenas um primeiro passo para consciousness, em que um pode estar ciente de alguma coisa e ainda não entender completamente o que é essa coisa. Para ser totalmente consciente requer awareness + o significado do que se tem ciência. De acordo com Wittgenstein, significado é uso . Portanto, pode-se dizer que estar consciente é ter algum uso, em palavras ou atos, do que se sabe. Por outro lado, «inconsciente» designa aquilo que habita dentro ou fora da consciência, mas do qual não se tem uso deliberado seja em pensamentos ou em ações. Outro objeto de estudo entre os analistas franceses é a temporalidade característica do inconsciente. Pontalis (2001) descreveu o inconsciente como "este tempo que passa e não passa". Na mesma linha, Green também escreveu sobre múltiplas temporalidades residindo dentro do mesmo sujeito e, em particular, sobre «estados nos quais a consciência (e não apenas o inconsciente) parece não ter conhecimento do tempo - vivendo em um eterno presente, incapaz de usar sua experiência passada» (2002, p 64). Outra contribuição nesta área vem do Franco Canadá, onde Scarfone (2006, 2014a) argumenta que a psicanálise não é uma atenção para o passado, mas sim para o " não passado " do indivíduo, um tempo "real " onde o que ocorre são " presenças ao invés de re-presentações , atos (Agieren) ao invés de pensamentos " (Scarfone, 2006, p 827; ênfase original). III. E. Desenvolvimentos Latino-Americanos e Conceitos Relacionados A forte tradição kleiniana da psicanálise latino-americana, facilitada pelo contato próximo com o grupo Kleiniano Britânico do início da década de 1940, em conjunto com o acesso às traduções para o espanhol da obra de Freud na década de 1920 (López-Ballesteros, 1923), conduziu a conceituações sintéticas originais do inconsciente, como a Lógica Inconsciente e a Comunicação Inconsciente, cuja influência é sentida nas três culturas psicanalíticas. III. Ea. Lógica Inconsciente A compreensão da lógica do inconsciente é uma ferramenta fundamental para o psicanalista em todos os momentos. Pertence à essência da psicanálise. Esta ferramenta é indispensável para compreender qualquer expressão psicótica de qualquer paciente. O primeiro

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