Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

Retornar ao sumário

autor a estudar a Lógica Inconsciente foi Freud (1900) em A Interpretação dos Sonhos, onde ele descreve o que ele chamou de "Processo Primário", a lógica do inconsciente, caracterizada por: 1) ausência de contradição mútua entre as apresentações dos vários instintos; 2) deslocamento; 3) condensação; 4) atemporalidade, e 5) substituição da realidade externa pela psíquica. Freud seguiu este tópico em vários outros textos: Os Dois Princípios do Funcionamento Mental (1911c); Observações Psicanalíticas Sobre um Caso de Paranoia (1911a); O Inconsciente (1915c); O Ego e o Id (1923a) e nas Novas Conferências Introdutórias (1933). Matte-Blanco (1975) em "O Inconsciente como Conjuntos Infinitos", escreveu sobre sua visão do mérito da descoberta fundamental de Freud, observando que não era a descoberta do inconsciente per se, mas a descoberta de um mundo regido por leis completamente diferentes das que governam o pensamento consciente. Na visão de Matte-Blanco, o gênio de Freud foi a descoberta dessas leis precisas, que regem este estranho "Reino do Ilógico" (Freud 1940 a). Revisando o trabalho de Matte-Blanco, Henry Rey (1976, p.491) observou: "Matte- Blanco é extremamente interessado, e esta parece ser sua primeira preocupação, o desenvolvimento que a noção do inconsciente adquiriu nos escritos de Freud e entre os psicanalistas. De ser "o Inconsciente", um aspecto vivo da personalidade com atividades governadas por certas leis, ele foi rebaixado a ser meramente a qualidade de ser inconsciente". Combinando as concepções de Freud com proposições matemáticas, Matte-Blanco desenvolveu o conceito de Lógica Inconsciente (bi-lógica) que é regido por dois princípios: 1) O princípio da generalização, que explica que, ao contrário da lógica do sistema consciente, a lógica do inconsciente não considera os indivíduos como unidades, mas como membros de grupos sempre maiores (classes, conjuntos). O deslocamento ocorre de acordo com este princípio; 2) O princípio da simetria, que requer que o inconsciente sempre trate o contrário/oposto de cada relação da mesma forma, como se fosse sempre idêntica. A atemporalidade é uma consequência deste segundo princípio. Ambos os princípios operam com condensação e falta de contradição. Ele enfatizou que esse “Reino do inconsciente” era para Freud a verdadeira realidade psíquica. Neste reino, a mente trabalha através de uma bi-lógica, isto é, pelo funcionamento simultâneo do princípio da assimetria em termos de indivíduos e suas diferenças, que caracterizam a lógica cotidiana e as funções do pensamento científico, e tanto a consciência como o processo secundário de Freud; e o princípio da simetria, que governa o processo primário de Freud. Para Matte-Blanco, o deslocamento está na base da projeção, sublimação, transferência, do retorno do reprimido e da cisão de objetos. Quando um indivíduo desloca, ele trata o objeto primitivo original e o objeto para o qual ele desloca, como elementos de uma classe com um atributo específico, que pode não ser aparente para seu pensamento consciente, mas é assim para o seu inconsciente. Assim, se alguém experimenta seu chefe como um pai perigoso, podemos dizer que o seu Inconsciente, nos termos da lógica simbólica, trata seu chefe e pai como elementos de uma mesma classe: inconscientemente são idênticos. Qualquer estrutura ou qualquer sistema é um conjunto; uma classe é um conjunto de todos os indivíduos que possuem os atributos ou qualidades que definem a classe. Sempre que um conjunto é infinito no sentido de que a contagem de seus elementos não pode chegar ao

168

Made with FlippingBook - Online catalogs