Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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fim, então a parte se torna equivalente ao todo: é isso que acontece na lógica simétrica e na operação do Inconsciente. As estruturas bi-lógicas de Matte-Blanco estratificam toda a gama da vida psíquica em camadas, que são diferenciadas pela maior ou menor presença de processos de pensamento assimétrico-divisíveis e simétrico-indivisíveis. Este conceito inclui os trabalhos posteriores de Freud (1933) sobre inconsciente não reprimido, cujas "características primitivas e irracionais" marcam o funcionamento do Id (1923a, 1926) e possuem os mesmos atributos anteriormente atribuídos ao processo primário e ao inconsciente-como-sistema. Com base na evolução do pensamento de Freud sobre o inconsciente, Matte-Blanco seguiu reformulando - através das lentes da lógica matemática - as leis do Inconsciente e as contrasta com as leis da lógica científica Aristotélica, embutida na mentalização consciente (processo secundário). Em seu extremo, a lógica simétrica, do estrato mais profundo do Inconsciente estrutural não reprimido, constitui um modo simétrico indivisível de ser, caracterizado pela atemporalidade e falta de espaço. Assim, elaborou sobre o problema do espaço psicológico e a multidimensionalidade, no contexto da noção de objeto e mundo interno, passado, presente e futuro. Matte-Blanco viu os fatos psíquicos da atemporalidade e da falta de espaço como uma expressão da Lógica Inconsciente tornando igual qualquer das suas partes e vice-versa. Na mesma linha, em sua reanálise das Observações Psicanalíticas sobre um Caso de Paranoia de Freud (1911a), ele articulou os contrastes de Freud entre o dentro e o fora, e sobre realidade psíquica versus realidade física em termos de seus conceitos de bi- lógica e infinitização (Matte-Blanco1988). Em sua resenha do livro "O Inconsciente como Conjuntos Infinitos: um Ensaio em Bi- lógica", Henry Rey (1976) deu um exemplo clínico da utilidade das ideias de Matte-Blanco para uma compreensão mais profunda da construção do pensamento psicótico, descrevendo o exemplo de Matte-Blanco de uma mulher esquizofrênica. Depois de coletado sangue de seu braço, a mulher que sofria de delírios, queixou-se, às vezes, que o sangue tinha sido retirado de seu braço e, em outras vezes, que o braço dela fora arrancado. Esta foi uma expressão de um bem conhecido modo de pensar esquizofrênico, a identidade/equivalência e completa reciprocidade e permutabilidade das partes e o todo. O segundo livro de Matte-Blanco: "Thinking, Feeling and Being” (1988) apresenta uma nova evolução de suas ideias sobre o inconsciente, suas leis e sua aplicação ao trabalho psicanalítico. A infinitude do inconsciente, e a noção de combinações em diferentes proporções de pensamento assimétrico e simétrico, refletindo uma estratificação em camadas entre os níveis consciente e o inconsciente mais profundo, abre uma nova maneira de entender a psique. O inconsciente mais profundo , que Freud disse que seria insondável, contém apenas simetria , onde tudo é igual a tudo mais. Isto constitui o "modo indivisível" absoluto. O instinto de morte de Freud pode, assim, ser reformulado como a cessação do pensamento: se tudo é igual a tudo mais, não pode ser pensado. Por outro lado, se em um estado de absoluta assimetria, tudo é diferente de tudo e conexões ou associações não podem ser feitas e objetos são fechados em uma categoria de unicidade, nenhum processo de pensamento pode ter lugar. A conclusão de Matte-Blanco foi que os processos psíquicos só podem ocorrer quando ambos os processos de

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