Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

Retornar ao sumário

atribuição versus natureza relacional nesses dois modos de processamento. Este corpo de pesquisa deu a Shevrin o Prêmio Sigourney em 2003. Villa, Shevrin, Snodgrass, Bazan e Brakel (2006) focaram na natureza do processamento da linguagem no inconsciente. Os resultados destacaram a importância de uma concepção conexionista de " ativação disseminada ", um equivalente neurofisiológico à concepção freudiana de "catexia não ligada", que caracteriza o processo primário. Comparável à clássica conceituação psicanalítica do processo primário, a explicação conexionista, encontrou que as catexias ligadas e não ligadas estão intimamente ligadas ao status da motivação e às defesas. Quanto mais instintiva e "pulsional" for uma motivação, mais provavelmente mediará uma "ativação disseminada" ou catexias não ligadas. Quanto mais as defesas falham e quanto maior a ansiedade, mais prevalecerão as catexias não ligadas. Outra área de intenso interesse na Europa e na América do Norte continua sendo a investigação da memória no contexto do desenvolvimento pré-edípico/pré-verbal. A neurociência delimitou não apenas a existência de uma memória explícita, verbalizável, de longo prazo, mas também de uma memória subterrânea implícita que não pode ser lembrada conscientemente, nem verbalizada. Tal descoberta nos permite supor que todas as experiências infantis dos dois primeiros anos de vida estão localizadas neste último tipo de memória, que é mediada pela amígdala em suas funções de processar as emoções. O hipocampo, estrutura indispensável para o sistema de memória explícita, de fato não atinge a maturação completa antes que o bebê tenha dois anos de idade. O estudo da memória implícita, subsequente a sua descrição por Warrington e Weiskrantz (1974), ampliou o conceito do inconsciente e o desloca para um novo lugar: do reino do reprimido para uma arena de “inconsciência” biologicamente determinada (Ginot, 2015), possivelmente relacionada às históricas referências de Freud a outros processos inconscientes reprimidos (Freud, 1923, 1930, 1940a, b). Dos estágios iniciais da vida intrauterina e pré-natal, as experiências sensoriais participam na formação de uma memória emocional e afetiva básica, pedra angular para a organização das primeiras representações (Mancia 1980; Le Doux, 1992). Este pode ser um mecanismo que envolve a neurofisiologia da memória e o conceito freudiano de inconsciente. Além disso, com a notável ampliação do conceito original do inconsciente em domínios “não conscientes”, outras convergências interdisciplinares substanciais com a ciência cognitiva, neurobiologia e neurociência também foram postuladas (Bucci, 2001). Os dados atuais, provenientes de pesquisas sobre o cérebro em processos e representações inconscientes, influenciaram o modo como o inconsciente é concebido dentro da própria psicanálise. Assim, quando os analistas lidam com um tipo de conhecimento que está fora da consciência, mas não causado pela repressão, eles usam cada vez mais expressões emprestadas dessas disciplinas: “conhecimento procedural implícito” (Clyman, 1991; Fosshage, 2005). Neste território conceitual - sobre procedimentos e representações relacionais, implícitas ou enativas - há um modelo de desenvolvimento (assim como um modelo de mudança terapêutica) que é coerente com as recentes descobertas das pesquisas sobre apego, interação precoce pais-bebê e neurociência afetiva e cognitiva (Gabbard & Westen, 2003; DN Stern et al., 1998). Também, o modelo de mudança terapêutica pode estar em parte cambiando da dependência na tradução das representações inconscientes para o conhecimento reflexivo e

177

Made with FlippingBook - Online catalogs