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simbolizado (ou insight), ou da codificação procedural para a codificação simbólica (do processo primário para processo secundário, de formas de pensamento pré-verbais para verbais), para a nova ênfase no conhecimento alegadamente não conflituoso, não simbolizado, implícito ou procedural (Boston Change Process Study Group, 2007; Lyons-Ruth, 1998, 1999). Esse inconsciente não reprimido está conectado ao legado biológico da pessoa: traz desde as primeiras experiências infantis, que ainda não podem ser reprimidas até a estruturação de um self nuclear e do amplo domínio "subjetivo" do indivíduo. O recurso básico do sistema de memória implícita oferece conexões com os pressupostos básicos do trabalho clínico, salientando o papel central da experiência relacional em psicanálise (Barnà, 2007b, 2014), e tem modificado tanto a concepção do funcionamento da transferência/contratransferência como a transformação através da simbolização do sonho, enactments e a sintonia com a prosódia da linguagem (Mancia, 2006). Estes achados reafirmam os aspectos “construtivos” da relação analítica (Freud, 1937a): especialmente o trabalho relacionado com a verbalização de fantasias inconscientes que podem ser inferidas a partir da escuta empática e a sintonização do analista. Essa construção também pode ocorrer através do ajuste dos significados e a linguagem usada para expressá-los (Barnà, 1990, 2007a). Após a investigação de Le Doux, da interação implícita do sistema múltiplo de memória sob um trauma agudo em adultos, vários estudos longitudinais continuaram a expandir o conhecimento das consequências neurobiológicas das ligações iniciais, relatando experiências (Balbernie, 2001; Siegel, 1999; Schore, 2003, 2006, 2007, 2010) em crianças com e sem histórias traumáticas precoces. Em geral, os resultados foram consistentes com a afirmação de Bowlby de que o apego seguro facilita e o apego incerto reduz a resiliência ao estresse e ao trauma ao longo da vida. Experiências precoces danosas, com consequentes danos neurobiológicos ao sistema límbico estendido, que inclui o córtex Orbitofrontal, podem ocasionar que a criança desenvolva uma série de problemas cognitivos, emocionais e comportamentais, comprometendo seu ajustamento adolescente e adulto posterior. O córtex Orbitofrontal é significativo na formulação do mapa cognitivo-afetivo e relacional fundamental. Nesta área também são registradas as primeiras experiências relacionadas ao apego e memórias emocionais (Siegel, 1999; Balbernie 2001). A principal mensagem dos estudos neurocientíficos do desenvolvimento do cérebro é que “conexões humanas moldam as conexões neurais das quais a mente emerge” (Siegel 1999, p. 2). Durante os primeiros três anos de vida, três circuitos córtico-límbicos básicos para a autorregulação do afeto são ativados e moldados pela interação com os cuidadores, assim fornecendo a base do modo como futuras emoções significativas serão experimentadas e tratadas. Neste contexto, Schore (2003, 2007) também estudou os correlatos neurobiológicos do início precoce da dissociação entre crianças, em estudo onde era observada a concordância com a estrutura rítmica dos estados desregulados de suas mães, tanto de hiperexcitação quanto de hipoexcitação dissociativa. Na linguagem da teoria do Apego, as transações de apego são impressas em memória implícita-procedural, mediada pela amígdala (não pelo hipocampo, pouco desenvolvido no primeiro ano de vida, e implicado na repressão e simbolização inconsciente), assim formando "modelos de trabalho" duradouros de padrões codificados de resposta e estratégias de enfrentamento da regulação afetiva aos desafios ambientais (Schore, 2000, p. 35). Quando
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