Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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(“holding") fisico e emocional e “continência" mental da mãe com a superfície do corpo do bebê como um órgão sensorial. Essa noção é aquela a que Freud (1923) se referiu quando sugeriu que "o ego é, primeiro e acima de tudo, um ego corporal; não é simplesmente uma entidade de superficie, mas é, ele próprio, a projeção de uma superfície" (Freud S. O Ego e o Id, Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Edição Standard brasileira, 2a. Edição, Rio de Janeiro, Imago, 1987, p. 39). Mais adiante Ester Bick(1968) hipotetizou que "posteriormente a identificação com esta função (pele psíquica) do objeto suplanta o estado não integrado e dá origem à (ph)antasia (N.do T.: optou-se por manter como no original em inglês no sentido de preservar a diferenciação, dado que em português há apenas uma forma de escrita para os termos phantasy e fantasy) dos espaços internos e externos" (p. 484). Ela transmitiu a ideia de que essa fantasia do espaço é a base essencial para a c isão e projeção adaptativas normais, necessárias aos processos de idealização e separação descritos por Klein. No entanto, Bick alertou que: “… até que a função de continência tenha sido introjetada, o conceito de um espaço dentro do self não pode surgir... [e] a construção de um objeto [interno continente] ... [será] prejudicada... O desenvolvimento inadequado desta função primária de pele pode ser visto tanto como resultado de falhas na adequação do objeto real ou de ataques na fantasia sobre ele, que impedem a introjeção. A perturbação desta função primordial da pele pode levar ao desenvolvimento de uma formação de "segunda pele", através da qual a dependência do objeto é substituída por uma pseudo-independência, pelo uso inadequado de certas funções mentais, ou talvez talentos inatos, com o objetivo de criar um substituto para esta função de pele continente” (p. 484) O trabalho de Donald Meltzer com as teorias de Bion levou-o a propor uma classificação da patologia da identificação projetiva, de acordo aos transtornos estarem principalmente no campo da projeção ou principalmente no da identificação (Meltzer, 1986). A patologia da projeção tem a ver com o modo que o mundo interno do objeto é fantasiado; aqui estamos no campo das fobias, especialmente agorafobia e claustrofobia. As fantasias sobre a natureza e a qualidade da atmosfera que poderiam prevalecer dentro do objeto também são encontradas em alguns estados psicóticos de confusão, especialmente aqueles observados durante a adolescência. Meltzer também menciona a síndrome da percepção distorcida, a qual nomeia de "ilusão de clareza de Insight”, ou seja, a convicção de saber exatamente o que outra pessoa está pensando. A patologia mais comum da identificação consiste em uma apropriação imediata das qualidades do objeto. A conversão histérica é o exemplo clássico disso, mas também está presente na psicose maníaco-depressiva, na hipocondria e em estados de pseudo-maturidade, onde o sujeito pode estar preso em sua identificação projetiva com um objeto idealizado, sem desenvolver posteriormente um trabalho de luto desse objeto, a fim de construir, em primeiro lugar, um estado intermediário de hiper-amadurecimento heterogêneo, para então alcançar um equilíbrio ideal do Ego.

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