Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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oficialmente a psicanálise. A teoria do complexo de Édipo (Freud, 1900) define todos os parâmetros do conflito como um desenvolvimento evolutivo (Freud, 1905b) dentro do contexto das nossas primeiras relações de objeto com a mãe, o pai e o casal parental, bem como com os irmãos. Aqui, o amor e o desejo se chocam com a hostilidade e sentimentos de morte, os quais estão em conflito com a realidade familiar e social. Conflitos internos foram elaborados e entendidos como conflitos entre os instintos sexuais e de autoconservação (Freud, 1910a; Freud, 1911a; Freud, 1914; Freud, 1915a; Freud, 1915b; Freud, 1915c). Esse período foi crucial para a teoria de Freud a respeito do conflito. Em sua “Formulação dos Dois Princípios do Funcionamento Mental” (Freud, 1911), ele descreveu as vicissitudes do desenvolvimento dos princípios de prazer versus realidade. O ponto fundamental no qual repousa a distinção entre eles é a relação do sujeito com a dor. O princípio do prazer é entendido como o princípio do ódio a dor, que busca prazer para afastar e ocultar a mesma. Para ocultar a dor, a mente irá fantasiar ou alucinar a satisfação onde ela não existe. Quando a mente percebe que as alucinações não criam satisfação real, ela aprende a acomodar a realidade, mesmo que esta inclua dor: “Foi apenas a decepção a ausência da satisfação esperada, o desapontamento experimentado, que levou ao abandono desta tentativa de satisfação por meio da alucinação. Em vez disso, o aparelho psíquico teve de decidir tomar uma concepção das circunstâncias reais no mundo externo e empenhar-se por efetuar nelas uma alteração real. Um novo princípio de funcionamento mental foi assim introduzido; o que se apresentava na mente não era mais o agradável, mas o real, mesmo que acontecesse ser desagradável. Esse estabelecimento do princípio de realidade provou ser um passo momentoso.” (Freud, 1911a, p. 238, grifos do autor). A afirmação de Freud sobre a ‘mente que decide formar uma concepção da realidade’ será o ponto de partida para as teorias de Bion. Há uma mudança sutil na terminologia, que fica evidente nesse artigo, quando Freud se refere pela primeira vez ao conflito entre prazer e realidade como princípios e, posteriormente, como diferentes aspectos do ego. O foco no ego e na sua divisão entre duas orientações diferentes para o mundo define a inauguração do que Freud chamaria de sua ‘psicologia do ego’, antecipando a teoria estrutural de 1923. O que o ego não pode suportar, ele reprime, o que danifica a capacidade da consciência de entrar em contato com a realidade. No caso clínico do Homem dos Ratos, Freud (1909a) resume sua psicopatologia: “em toda a sua vida fora ele, inequivocamente, vítima de um conflito entre amor e ódio, tanto em relação a sua dama como em relação a seu pai” (1909a, p. 205). Quatro anos depois, em “Totem e Tabu” (1912-13), ele o chamará de conflito da ambivalência emocional, ao discuti-lo em termos de proibições tabus: “A principal característica da constelação psicológica que dessa forma se torna fixa é algo que poderia ser descrito como a atitude ambivalente do sujeito para com um objeto determinado, ou melhor, para com um ato em conexão com esse objeto. Ele deseja constantemente realizar esse ato (o tocar) [e o considera seu gozo supremo, mas não deve realiza-lo] e também o detesta. O conflito entre essas duas tendências não pode

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