Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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psicologia social, Sullivan insistiu que um indivíduo sempre fez parte do campo social que o cerca. Embora ele nunca tenha usado o conceito de identificação projetiva per se , ele claramente via o processo analítico como um campo de duas pessoas com cada membro exercendo um efeito sobre o outro. Edgard Levenson (1972, 1995, 2017) apresentou uma visão interpessoal radical da interação analítica, insistindo que o par analítico é verdadeiramente indivisível e que o dado central de um tratamento é a interação estruturada de seus participantes. Ele observa que, em uma análise, "A pergunta principal para o paciente pode não ser 'o que isso significa?' mas 'o que está acontecendo por aqui'." Para Levenson, qualquer interação consiste em uma regressão infinita de mensagens e meta-mensagens, conscientes e inconscientes, de tal forma que "significado" no sentido psicanalítico convencional é elusivo. Maurice Apprey analisou as implicações das identificações projetivas decorrentes da concepção da mãe de seu bebê no útero. Em seu trabalho com mães em risco, Apprey (1987) sugeriu que os equívocos maternos a respeito do bebê no útero no terceiro trimestre deram origem a temores de separação, resultando em identificações projetivas violentas que destroem a capacidade da mãe de acomodar sua concepção de si mesma como mãe em seu próprio direito e sua concepção de seu bebê como uma pessoa separada. Para essas mães, o parto físico do bebê pode representar a perda de suas próprias mães, dando origem a uma regressão maciça, resultando em depressão pós-parto ou psicose, com confusão entre representações do self e do objeto. Essas confusões podem se estender por três gerações, sendo que grávidas aterrorizadas de alto risco podem sentir: "Estou grávida, mas não posso contar a minha mãe porque ela vai me matar"; ou, "isso vai matá-la." Se o bebê em si é usado como um recipiente das projeções violentas de sua mãe, ele pode ser visto como mau e se tornar o recipiente da violência de sua mãe durante a depressão pós-parto ou psicose. Esta transtornada mãe pode vir a acreditar que "o bebê precisa ser batizado", ou seja, afogado em uma banheira para “poupá-lo, assim como ao mundo, do mal". Apprey propõe que intervenções psicanalíticas, informadas pela compreensão desses processos transgeracionais, podem transformar identificações projetivas destrutivas em comunicação empática com o bebê. Mitrani (1993) delineou as formas como deficiências no objeto continente ou na capacidade do bebê de usar o objeto continente podem precipitar uma variedade de respostas patológicas. Limitações severas na capacidade de reverie da mãe (possivelmente devido ao medo de ser controlada, ser penetrada, absorção, lesão) podem resultar em temores não modificados devolvidos ao bebê. Essa rejeição da angústia do bebê pode levar a projeções maciças de partes de seu self infantil indefeso em uma busca frenética por um objeto continente, e restringir o desenvolvimento de uma mente para pensar e modificar a experiência. A experiência sensorial que tem o acesso negado a um aparelho psíquico materno não é transformada em alimento para o pensamento e permanece apta apenas para evacuação. Da mesma forma, limitações na função alfa da mãe (talvez devido à incapacidade da mãe de tolerar a dor do bebê e/ou sua própria dor, medos de morte e destruição, e/ou uma incapacidade de mentalizar o pavor doloroso e primitivo) podem resultar na reintrojeção no bebê não apenas de seus próprios medos não modificados, mas também dos medos de sua mãe. Pior ainda, se a função alfa necessária não está apenas ausente, mas é invertida, no caso de um objeto que não

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