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No final de sua vida, Freud retorna à essa ideia e amplia a sua importância. Ele, finalmente, vê o conflito entre os instintos de vida e morte como fundamentais para a conceitualização de todo comportamento e pensamento humano: “Somente pela ação concorrente ou mutuamente oposta dos dois instintos primevos – Eros e o instinto de morte –, e nunca por um ou outro sozinho, podemos explicar a rica multiplicidade dos fenômenos da vida” (Freud, 1937a, p. 276).
II. C. A teoria estrutural (segunda teoria topográfica) (1923-1937)
A próxima etapa do desenvolvimento da teoria, conhecida como Teoria Estrutural (ou fora dos círculos Norte-Americanos, como Segunda Teoria Topográfica), publicada em 1923, foi uma exposição da estrutura tripartida da personalidade: Id, Ego e Superego (Freud, 1923). Nesse período da sua teo’ia, Freud ampliou a ideia de conflito ao situar o ego em um jogo de xadrez tridimensional. Em “O Ego e o Id”, Freud (1923a) integra todas as suas ideias a respeito do conflito em um único sistema de grande complexidade. Aqui o ego deve lidar com várias relações conflitantes . Em primeiro lugar, deve lutar com seu próprio conflito com os impulsos do id que, por sua vez, estão em conflito entre os instintos de vida e de morte . Em segundo lugar, o ego deve controlar o conflito entre esses impulsos e o mundo externo . E em terceiro lugar, o ego, ao se identificar com seus objetos, cria outro grau dentro de si mesmo, que Freud denominou como o Superego , para abrigar os objetos agora internalizados. E assim, o ego criou outro conflito entre si mesmo e seu Superego. De fato, pode-se antecipar a natureza complexa da participação do Superego no conflito se ele for entendido como um grau especial dentro do ego – o ego ideal (Freud, 1921), e por ele ser constituído de forma evolutiva como um herdeiro do Conflito Edípico (1924b). A Teoria da Angústia Sinal (Segunda Teoria da Angústia), onde Freud reformula o Conflito Estrutural, surgiu pouco depois (Freud, 1926). A partir dessa teoria os mecanismos de defesa foram definidos e localizados (na parte inconsciente) do Ego. Além da repressão previamente definida, formação reativa, regressão, identificação e projeção, o conceito de “negação” passa a ocupar um lugar cada vez mais notável (Freud, 1923b, 1924b). A repressão é reconhecidamente uma das defesas. Angústia passou a ser o motivo (fator desencadeante) para a defesa, não o seu resultado. Os sintomas psiconeuróticos foram entendidos como formações de compromisso surgindo do conflito entre instintos e defesa, com a participação de proibições morais internalizadas (Superego) e pressões externas percebidas. O conflito estrutural dessa época é, algumas vezes, chamado de conflito intersistêmico , para diferenciá-lo dos conflitos intrasistêmicos no ego, que Hartmann propôs posteriormente. Considerados em termos de desenvolvimento, “os motivos para a repressão foram agora concebidos como sucessões de temores, bastante convincentes para a criança, envolvendo desaprovação e punição dos pais que, no curso do desenvolvimento, foram internalizados e subordinados a influência da agência moral conhecida como superego, ela mesma ativa em um modo amplamente inconsciente” (Abend, 2007, p. 1420). Dentro da teoria estrutural, o Superego se torna o herdeiro do complexo de Édipo.
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