Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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Nessa fase do desenvolvimento da teoria, o ego surge como o foco da ação clínica. Ainda sustentando firmemente seu foco no conflito intrapsíquico, Freud escreve, em 1937: “A missão da análise é garantir as melhores condições psicológicas possíveis para as funções do ego; com isso, ela se desincumbiu de sua tarefa” (Freud, 1937a, p. 284). O objetivo é modificar o ego do analisando, para que ele possa lidar melhor com as demandas instintivas que o pressionam para obter expressão e satisfação. Assim, é aperfeiçoada a metodologia para se alcançar insight por meio da reconstrução e construção interpretativa (Freud, 1937b). Os múltiplos papéis do ego como iniciador de defesas, tomador de decisões e executor de ações, sintetizador de elementos conflitantes na vida mental, avaliador e negociador das condições do meio ambiente o colocaram no centro do interesse analítico “tanto que a próxima fase da teoria psicanalítica Freudiana se tornou conhecida como psicologia do ego” (Abend, 2007, p. 1420).

III. DESENVOLVIMENTOS PÓS-FREUDIANOS NA EUROPA E AMÉRICA DO NORTE

A conceitualização do conflito também define as teorias psicanalíticas depois de Freud. Duas elaborações divergentes a respeito de sua obra entraram em conflito na Inglaterra e, posteriormente, nos Estados Unidos: psicologia do ego e relação de objeto, um conflito teórico fértil em psicanálise, que inspirou importantes desenvolvimentos no mundo todo. III. A. O papel do conflito no desenvolvimento: déficits do desenvolvimento e psicoses O debate ‘ conflito versus trauma’ foi expandido com o modelo de déficit estrutural. Aqui, hipóteses patogênicas não postulam conflitos motivados pela pulsão, mas trabalham com o conceito de um ego, a priori, enfraquecido (resultado de influências ambientais traumáticas ou predisposições). Termos relacionados são “falta básica” (Balint, 1968), “transtornos precoces da personalidade” e “distúrbios estruturais do ego” (Fürstenau, 1977). Defensores das hipóteses de déficit, com base na suposição de eventos causais e extremamente traumáticos na primeira infância – alguns deles não muito evidentes e mais frequentemente causados por um déficit em responder, conter, sustentar por parte dos cuidadores – argumentam que após a instalação da psicose, o trauma assume a função de um déficit. Isso sugere que pacientes estão submetidos aos eventos, que são vítimas de suas circunstâncias e que eles próprios não têm capacidade suficiente para influenciar esses processos. Consequentemente, o tratamento tem como objetivo principal a substituição e influência psico-educacional. Opondo-se a essa ideia de conflito do desenvolvimento , outros analistas supõem que inclusive os processos psicóticos são causados por conflitos intrapsíquicos. Dilemas internos essenciais, que excedem o conflito neurótico, se desenvolvem entre duas tendências mutuamente excludentes e levam a processos de cisão, dessimbolização e ação concreta. Em muitos desses casos, foi relatado trauma na primeira infância (Kapfhammer 2012a, 2012b). O

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