Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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um trauma em si até que eventos subsequentes o convertam retroativamente em tal, este primeiro período mudo é assimilado na pulsão de morte. “Não se trata simplesmente de uma ação retardada nem de uma causa que permanece latente até ter oportunidade de se manifestar, mas sim de uma causalidade de ação retroativa do presente para o passado” (M. Baranger, W. Baranger, J. Mom, 1987 p. 750). Os autores enfatizam que “temporalidade e ação retroativa são o que possibilitam realizar a ação terapêutica específica da psicanálise, que seria impedida se permanecêssemos dentro das categorias de causalidade e temporalidade entendidas linearmente” (M. Baranger, W. Baranger, J. Mom 1987, p.750). Desta forma, eles articulam Nachträglichkeit com o que permanece inassimilável no processo analítico. Esses autores enfatizam que o primeiro período, que é mudo, inominável, irrepresentável como a pulsão de morte, precisa da permissão do Nachträglichkeit para se constituir em trauma. Haydee Faimberg , de formação argentina, residente na França há muitos anos, discute o conceito de temporalidade nos textos freudianos e reformula o conceito de Nachträglichkeit (Faimberg, 1981, 1993, 1995, 1998, 2005, 2012) criando uma formulação ampliada do termo, tanto diferente quanto congruente com o pensamento Freudiano. Essa conceituação ampliada também surgiu de seu trabalho clínico e leituras dos relatos clínicos de Winnicott e seus pressupostos subjacentes. Ela afirma (Faimberg, 2007) que a formulação ampliada é essencial tanto na atribuição retroativa de novo significado, por meio da interpretação, quanto na atribuição de significado da primeira vez, através da construção. Localiza dois momentos, um estágio antecipatório, que já está lá, e outro de atribuição de sentido retroativo, que dá existência psíquica à fase antecipatória. Faimberg (Faimberg, 2012) também ressalta a presença implícita do conceito de Nachträglichkeit na obra de Winnicott e define um tipo de presença intersticial do conceito em sua obra, uma presença que está em operação mesmo se não nomeada. Sua leitura dos textos de Winnicott “Fragmentos de uma análise” (1955) e “Medo do Colapso” (1971) é um elo entre a temporalidade psíquica e a própria experiência de cura. Ela avança um passo na formulação da temporalização e da significação (Faimberg, 2013), articulando-as não só com a compulsão a repetição, mas também com a função paterna. Descreve que Winnicott cria condições que permitem o advento daquilo que nunca aconteceu. Na situação que ainda não chegou ela localiza a possibilidade da instituição da função paterna no funcionamento psíquico. Essa criação de algo que não existe está implicitamente associada à operação do Nachträglichkeit. São operações que são realizadas e que constituem lugares psíquicos, permitindo o advento do sujeito.

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