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III. F. Avanços na America do Norte III. Fa. O Resgate do Conceito por Arnold Modell: Recontextualização da Memória e Tempo e Expansão da Realidade Psíquica O conceito de Nachträglichkeit permaneceu em latência, para a maior parte da psicanálise norte-americana de língua inglesa por muito tempo, até que Arnold Modell, em uma série de publicações (1989, 1990, 1992, 1994, 1995, 1997, 2008), resgatou o conceito. Sua publicação de 1990 “Other Times, Other Realities” permanece como o texto mais amplo e representativo dos desenvolvimentos norte-americanos em torno de Nachträglichkeit. Por considerar a tradução de Strachey inexata, Modell prefere usar o termo original Nachträglichkeit e continua a vincular fortemente o conceito à memória, em termos de sua retranscrição (ou inúmeras retranscrições e recontextualizações intermediárias) em um momento posterior, dentro de contextos distintos: desenvolvimental, motivacional e emocional, e existencial. O resgate de Modell do Nachträglichkeit vem na esteira da descoberta independente de seu amigo e laureado com o Nobel Gerald Edelman de um mecanismo biológico semelhante no cérebro, da contínua recontextualização ou reconfiguração de mapas neurais, dentro Teoria da Seleção de Grupos Neurais (TSNG) de Edelman, evocando o modelo de Freud descrito no “Rascunho G” de dezembro de 1894. Obviamente, é possível encontrar uma ligação analógica entre os dois campos. O entendimento de Modell sobre o conceito e sua firme conexão com a memória remonta aos primórdios da formulação da teoria da “sedução”. “Freud e Breuer (1893-95) observaram”, escreve Modell (1994), “que a memória afetiva do trauma se aloja na psique como um corpo estranho que continua sua ação muito depois do evento traumático” (Modell,1994, pág. 92). Foi nesse artigo que Freud e Breuer escreveram: “Os histéricos sofrem principalmente de reminiscências” (Freud e Breuer, 1893-95, p.43). Freud, três anos depois, desenvolveu uma teoria mais sofisticada da recontextualização das memórias (Modell, 1990). Modell oferece uma tradução em inglês mais precisa de Nachträglichkeit - subsenquentiality- mas, por reconhecer sua estranheza, continua a usar o termo alemão de Freud, Nachträglichkeit. Ele observa que Freud manteve sua convicção da primazia da memória no processo terapêutico mesmo depois que desistiu de sua teoria da sedução na histeria e cita o artigo de Freud de 1914 “Recordar, repetir e elaborar”, onde ele reafirma que um dos objetivos da psicanálise é “preencher lacunas na memória...” (Modell, 1994, p.92). Modell (1994), em seu artigo “Memory and Psychoanaytic cure”, liga desenvolvimento e psicopatologia à Nachträglichkeit, retornando ao uso original de Freud do conceito, onde considerava a psicopatologia como resultante de uma interferência no processo de retranscrição da memória. Freud descreveu isso como uma falha de tradução da memória, que foi sua compreensão original do mecanismo de repressão (e a etiologia da histeria). Modell faz uma conjetura 'desenvolvimentista' de que mais tarde, após a formulação do Complexo de Édipo e dos estágios psicossexuais do desenvolvimento, Freud considerou os estágios do desenvolvimento psicológico como análogos a diferentes linguagens e que as experiências guardadas na memória são repetidamente retranscritas, retraduzidas e recontextualizadas
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