Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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importante para a organização da estrutura psíquica. Do ponto de vista das relações objetais, o indivíduo é pensado em termos de suas imagens internas, baseadas em experiências da infância, isto é, em função dos objetos que entram em jogo em cada nova experiência. O conflito, nessas abordagens, diz respeito ao mundo intrapsíquico, bem como interpsíquico e interpessoal do sujeito. A validade do conflito versus déficit continuou a ser motivo de controvérsia nas últimas décadas do século XX. As raízes dessa controvérsia remontam à uma interpretação específica dos conceitos de autonomia do ego e área livre de conflitos, de Hartmann. A teoria do Conflito vista a partir dessa controvérsia, segundo Blum (1985) e Murray (1995), afirma que ao longo do desenvolvimento o ego utiliza mecanismos de defesa como ferramentas poderosas, protetoras e adaptativas em resposta aos perigos externos, internos, reais ou imaginários. O uso excessivo das defesas pode prejudicar as funções não defensivas da personalidade. Então, as defesas podem interferir no desenvolvimento da personalidade, podendo levar à constrição e a alterações patológicas do ego. No entanto, o desenvolvimento prossegue com ou sem experiências relacionais traumáticas. A afirmação de Freud sobre o ego fazer um ajuste, quando sob condições externas traumáticas pode ser reformulada como o conflito intrasistêmico dentro do ego . O conflito se dá entre as funções defensivas e não defensivas (Papiasvili, 1995). O conteúdo do conflito intrapsíquico investigado, descoberto e analisado pelo método psicanalítico abarca desde questões pré-genitais até Edípicas e pós-Edípicas. Com a expansão do conhecimento clínico e teórico ao longo dos anos, se considera que todos os níveis de desenvolvimento são vistos como presentes e operantes em todos os casos. E, por outro lado, também se vê amplamente envolvida a patologia da auto-representação dentro do ego. Uma atividade conflitiva específica, que gira em torno do déficit, foi descrita por Axel Hoffer (1985) a partir de seu conceito de Conflitos de Autoproteção . Este conceito descreve conflitos intrapsíquicos específicos, que se desenvolvem em torno de esforços para ocultar os ‘déficits do ego’ e a carência intensa que, frequentemente, os acompanha. “Sentimentos de vergonha e desprezo por si mesmo não só se associam ao ‘déficit’ percebido, mas também, aos esforços desesperados, muitas vezes vingativos, para obter uma compensação por isso...” (Hoffer, 1985, p. 773). Muitos teóricos contemporâneos, com diferentes orientações, concebem o desenvolvimento e a psicopatologia por meio de uma lente com múltiplas perspectivas, incluindo ambos, conflito e déficit. Algumas teorias privilegiam o modelo de déficit; por exemplo, a Psicologia do Self enfatiza os déficits no self como o resultado de uma criação insuficientemente empática, e compreende o entendimento empático do analista, bem como a interpretação do conflito, como o componente central da ação terapêutica (Kohut, 1984). Outras escolas, como a Relacional e Interpessoal, modificaram o foco, enfatizando não mais o déficit interno e o conflito (Auchincloss e Samberg, 2012), mas sim, o fato de que o domínio intrapsíquico se molda a partir da relação com outros, dentro da cultura mais ampla (Ingram, 1985). Os editores da recente publicação da Associação Psicanalítica Americana, “Termos e Conceitos Psicanalíticos” (Auchincloss e Samberg, 2012), refletem sobre a crescente

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