Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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concentração da atenção em sua própria atividade anímica” (Freud, 1904, p.237). E para o analista: “Tendo em vista que, enquanto estou ouvindo o paciente, também me entrego à corrente de meus pensamentos inconscientes, não quero que minhas expressões faciais deem ao paciente material para interpretações ou influenciem o que ele me diz” (Freud, 1913, p.134). Após cem anos, a experiência acumulada nos permite considerar válidas tais recomendações. O uso do divã para facilitar o foco do paciente em sua atividade mental implicitamente abre espaço para regressão psíquica, a qual permite que a expressão de conflitos e fantasias inconscientes emirja em meio à rede de associações. Winnicott (1955) entende o setting analítico como provedor de condições nas quais perturbações do desenvolvimento oriundas de traumas e falhas do desenvolvimento podem ser manifestadas, encontradas e interpretadas, de forma a abrir espaço para a progressão do desenvolvimento (Ver abaixo, Setting e regressão ). Tempo. Consiste em sessões de 45 a 50 minutos; uma alta frequência de sessões, entre três e cinco por semana; e, embora a duração do tratamento seja difícil de determinar, já que cada paciente vai necessitar um período particular, sabe-se que geralmente envolve vários anos. Conforme foi sendo atingida maior compreensão da vida psíquica, especialmente no que diz respeito ao nível psicótico e primitivo de todos os pacientes, a duração da psicanálise foi se estendendo. Atualmente, a frequência das sessões é um tema polêmico. Para alguns analistas, o número de sessões é irrelevante; para outros, é importante. Os primeiros consideram que o que importa é a atitude e a função analítica do analista – ou seja, o “ setting interno”. Já outros analistas pensam que, para desenvolver a função analítica e um setting adequado para cada paciente, uma relação intensa é necessária e, dentro disso, a frequência das sessões é fator essencial. Eles também consideram a alta frequência fundamental para que o paciente seja capaz de explorar sua mente nos níveis mais profundos através das associações livres e, acima de tudo, elaborar a partir das interpretações do analista. No que diz respeito à frequência das sessões, Freud disse: “Trabalho com meus pacientes todos os dias, exceto aos domingos e feriados oficiais – isto é, geralmente seis dias por semana. Para casos leves ou continuação de um tratamento que já se acha bastante avançado, três dias por semana bastarão. Quaisquer restrições de tempo além destas não trazem vantagem, quer para o médico quer para o paciente [...]. Quando as horas de trabalho são menos frequentes, há o risco de não se poder manter o passo com a vida real do paciente e de o tratamento perder contato com o presente e ser forçado a utilizar atalhos” (Freud 1913, p.143). Embora a alta frequência das sessões não seja condição suficiente, para muitos analistas é fator necessário. Entretanto, isso deve ser acompanhado por outros elementos do método psicanalítico: atenção à transferência e à contratransferência, incluindo os níveis psicóticos e primitivos tanto no paciente como no analista, em paralelo à interpretação do analista. Outras condições externas. O consultório do analista tem características específicas (mobiliário, decoração, clima da sala etc.) que mostram algo da personalidade do analista. O corpo do analista também é parte do setting . Enid Balint (1973), ao escrever sobre a análise de uma mulher por uma analista mulher, sugeriu que, para a paciente, em um nível inconsciente, a sala de análise adquire o significado do corpo da mãe. Lemma (2014), seguindo a ideia de

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