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totalmente diferente: um que, através da “confiabilidade”, cria uma atmosfera que facilita a subjetividade do analisando – subjetividade em que o espaço está em conformidade com o sentido de ser do paciente e procura não interferir nele. “O setting da análise reproduz as mais precoces técnicas de maternagem. Ele convida à regressão por meio de sua confiabilidade” (Winnicott 1955, p. 286) (N. do T.: Citação traduzida para esta edição). A tese de Winnicott é de que, em alguns pacientes, existe um estado primitivo de “não integração” que requer regressão aos estágios mais precoces do desenvolvimento. Através dessa regressão, o analisando pode confrontar suas distorções e fixações de desenvolvimento em busca de outras soluções, com o analista criando um ambiente seguro e sensível. Há, portanto, “a provisão de um setting que dá confiança” (Winnicott, 1954, p. 287) (N. do T.: Citação traduzida para esta edição) ao analisando, permitindo “regressão do paciente à dependência” ( ibid ), uma dependência saudável que pode então reiniciar os processos precoces de desenvolvimento. Um paralelo interessante pode ser feito com o conceito de Laplanche de transferência “em oco”, que também regressa às origens, aos desejos enigmáticos dos cuidadores iniciais (Laplanche, 1997, 2010). Outros analistas, como Etchegoyen (1986), pensam que o setting não foi elaborado para criar a regressão, mas para descobri-la e contê-la. Para a metapsicologia kleiniana, a regressão é vista mais como uma forma de “refúgio psíquico” (Steiner, 1993); a regressão não é produto do setting , e sim a patologia do paciente evidenciada nas condições de trabalho específicas oferecidas pelo setting analítico.
VI. SETTING E PARÂMETRO
Nesta parte, é descrito o setting padrão necessário para atingir um processo psicanalítico. Contudo, há alguma controvérsia que também envolve outros elementos do setting . Em geral, tais parâmetros são considerados justificáveis quando se fala de pacientes com psicopatologia grave que podem não tolerar as condições padrão. Eissler (1953, p.110) foi o primeiro a definir o termo “parâmetro” em psicanálise da seguinte maneira: “o desvio, tanto quantitativo quanto qualitativo, do modelo técnico básico que requer a interpretação como sua ferramenta exclusiva” (N. do T.: Citação traduzida para esta edição). Essa modificação deve ser transitória e desaparecerá, com o retorno à técnica padrão ocorrendo o mais cedo possível. Embora Eissler se refira principalmente a fazer uso de outras intervenções que não a interpretação, o termo “parâmetro” pode ter um sentido mais amplo (outros termos já foram usados, como variação da técnica , Loewenstein, 1982). Isso significa qualquer modificação dos elementos do método psicanalítico, os quais, no setting padrão, envolvem a frequência das sessões, o uso do divã e a duração da terapia (de cada sessão e do processo como um todo).
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