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ilusões em forma de transferências tanto arcaicas quanto relativamente maduras, além de um interjogo de diferentes temporalidades. Robert Langs (1984) escreveu sobre o enquadre clássico ideal como uma provisão estrutural, a qual define o campo bipessoal onde comunicações inconscientes do paciente podem emergir com segurança (e cruzar com aquelas do analista). Dentro dessa abordagem “comunicativa”, “estabelecer, manejar, corrigir e analisar violações do enquadre constitui um grupo importante de intervenções consistentemente cruciais e relativamente não reconhecidas” (Langs, 1979, p. 12) (N. do T.: Citação traduzida para esta edição). Sua rica exposição das múltiplas facetas da comunicação inconsciente projetiva-introjetiva no campo bipessoal multivetorial, que ‘o enquadre estabelecido e mantido com segurança’ permite emergir – uma conexão com a capacidade para experiências em um espaço transicional com suas propriedades dinâmicas emergentes e com a contribuição do analista à transferência do paciente – contém muitos elementos fundantes dos ricos desenvolvimentos contemporâneos, seja isso reconhecido ou não. Arnold Modell (1988, 1989) amplia a tradição de explorar as forças dinâmicas intrapsíquicas e relacionais, que emana da centralidade do setting psicanalítico como “continente de múltiplos níveis de realidades” (Modell 1989, p. 9) (N. do T.: Citação traduzida para esta edição), tendo em vista a modificação dos objetivos do tratamento (Modell 1988). Dentro dessa visão, o setting em si inclui a qualidade do vínculo entre analisando e analista e apresenta o alicerce dinâmico do tratamento psicanalítico. Dando sequência e expandindo a ênfase de Spruiell (1983) na significância das “regras do jogo”, das “regras básicas” e do “enquadre” de Langs (1979, 1984), assim como a analogia de Milner da moldura de uma pintura (1952), Modell (1988) considera o enquadre não apenas como uma limitação (Bleger, 1967), mas também como “delimitando uma realidade separada” (Modell, 1988, p. 585) (N. do T.: Citação traduzida para esta edição), e a instituição de um exclusivo “arranjo comunicativo e contratual entre os dois participantes” ( Ibid. ) (N. do T.: Citação traduzida para esta edição) gerando a ilusão da transferência de forma análoga à criação da ilusão no teatro. (ver também J. McDougall, 1986) A atenção ao setting em si, concebido ampla e dinamicamente, evolui mais ainda na teoria norte-americana contemporânea, na abordagem bioniana e na teoria do campo (Goldberg, 2009; Peltz e Goldberg, 2012), na escola interpessoal (Levenson, 1987; Stern, 2009) e na escola relacional (Aron, 2001; Bass, 2007 e outros). Hoffman (2001), por exemplo, seguindo Gill e se juntando a Mitchell e ao grupo relacional, escreveu sobre o interjogo entre ritual e espontaneidade. Ele chamou atenção para a necessidade de regras e de suspensão das regras. José Bleger foi lido e conhecido apenas recentemente na psicanálise norte-americana, mas Racker (1968) foi traduzido há bem mais tempo e foi uma influência importante sobre o trabalho interpessoal e intersubjetivo desenvolvido no William Alanson White Institute por Sullivan, Thompson e, no período moderno, por Levenson, Mitchell, Daniel Stern e outros. Teóricos relacionais contemporâneos como Bass (2007) veem o trabalho analítico definido
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