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como um espaço no qual há duas pessoas em um campo bipessoal. Bass, entretanto, diferentemente de Langs, ressalta o caráter único: “um mesmo tamanho nunca serve a todos” (Ibid., p.12) (N. do T.: Citação traduzida para esta edição). O aqui e agora é infundido no passado relacional, uma forma de pensamento que carrega fortes afinidades com os Baranger e Bleger. O setting , no sentido de Bleger, está mais em sintonia com os modelos de duas pessoas do processo analítico, incluindo o pensamento de que questões sociais, institucionais e metateóricas também acontecem e operam no setting . De forma similar a Bleger, Peter Goldberg (2009) desenvolveu uma perspectiva na qual vê o setting /enquadre, em termos bionianos, como a estrutura em que ansiedades psicóticas são projetadas e contidas. Na visão de Goldberg, o enquadre se torna um local no qual tanto analista quanto analisando evacuam aspectos psicóticos ou danificados do self . Para entender todos os aspectos cindidos da dinâmica transferência/contratransferência em alguns casos, pode-se olhar para o enquadre, ou seja, para os elementos supostamente simples e compreensíveis do enquadre, ou para o setting , o qual foi distorcido e tornado tóxico via processos de evacuação e projeção. Os fragmentos perigosos do self podem ficar escondidos no enquadre, permanecendo indetectáveis e extra-analíticos até que o analista possa observar e devolver esses fragmentos cindidos às pessoas participantes da situação analítica. Grotstein, um dos primeiros e mais centrais proponentes de Bion nos Estados Unidos, desenvolveu um conceito de setting onde os dois participantes finalmente concordam em proteger a “solidão” analítica. Aqui, o conceito de setting , distinto do de enquadre, se torna um acordo “sagrado”: ao estabelecer as regras do enquadre, e em essas serem aceitas pelo analisando, analista e analisando estão estabelecendo um pacto que une cada participante à tarefa de proteger o terceiro – o procedimento analítico em si (Grotstein, 2011, p. 59). Tabakin (2016) recentemente fez uma distinção entre os termos “enquadre” e “ setting ”. Ele sugere que o conceito de “enquadre” implica estrutura, enquanto o “ setting ” implica relacionamento. A ideia de um enquadre-como-estrutura serve como guia para aferir e interpretar atuações contra tal estrutura. O setting , diferentemente do enquadre, indica a atmosfera que define o potencial efeito transformador do tratamento. O setting descreve o espaço compartilhado entre analista e analisando, o qual se torna um processo dinâmico de desenvolvimento entre os dois participantes. A evolução do conceito de setting /enquadre é uma história independente no que diz respeito aos analistas de língua francesa de Quebec, situados na confluência de três culturas psicanalíticas. Sua afinidade natural com os analistas de língua francesa da França é predominante, mas há uma influência das três escolas de pensamento da Grã-Bretanha, além da presença de aspectos dos desenvolvimentos que mudaram a paisagem psicanalítica da América. Quanto ao setting , a escolha de identificação dos analistas de língua francesa de Quebec foi clara: através do distanciamento deliberado tanto do modelo médico como da versão Eitingon de enquadre, eles se colocaram e se definiram explicitamente em oposição às pressões “canônicas” que se tornaram uma questão bastante divisora para muitos analistas dos Estados Unidos.
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