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“ Inibições, Sintomas e Ansiedade ” (1926), Freud postula que o conflito está entre as três instâncias id, ego e superego, e as demandas do mundo externo: o conflito está entre os impulsos do id (totalmente inconsciente), as defesas/repressão na porção inconsciente do ego, que responde à ansiedade sinalizadora do perigo, e o superego como o herdeiro do complexo de Édipo, com seus componentes auto-punitivos e ego-ideais, predominantemente inconscientes. Como a agressão do id alimenta o componente autopunitivo do superego, o id e o superego pressionam o ego de ambos os lados. Isso pode se manifestar na resistência transferencial [N.T.: “transference-resistance" no original], que está, dessa maneira, ligada à influência do id, mas também ao ataque interno realizado pelo superego. Este ataque está subjacente ao que Freud (1923) chama de “reação terapêutica negativa”, ou seja, uma piora no tratamento, onde a transferência é portadora de excesso e de destrutividade, como foi explorado posteriormente por autores como André Green em “O Trabalho do Negativo” (Green, 1993) e J.-B. Pontalis em “A Partir da contratransferência: o Morto e o Vivo Entrelaçados” (Pontalis, 1975) e em “Não, Duas Vezes Não” (Pontalis, 1979). Dessa forma, o papel central desempenhado pela repetição do reprimido na transferência não pode ser limitado às experiências vividas, pois estas pertencem à realidade psíquica, que compreende, por sua vez, desejos inconscientes e fantasias a eles associadas - estas últimas “indestrutíveis” enquanto repetição na transferência. Isso justifica a proeminência dada à compulsão à repetição, como já definida em “ Além do Princípio do Prazer ” (Freud, 1920). II. B. Édipo e Hamlet, duas faces da experiência humana em relação a transferência. Freud considera que o complexo de Édipo esteja profundamente enraizado na tragédia, um destino inevitável e mortal contemplado na experiência humana. Óedipus Rex é o que se conhece como uma tragédia do destino. Diz-se que seu efeito trágico reside no contraste entre a suprema vontade dos deuses e as vãs tentativas da humanidade de escapar do mal que a ameaça’ (Freud, 1900, p. 288). Os deuses representam os pais todos-poderosos, frente a quem a criança reconhece o seu próprio desamparo. A tragédia se refere aos sentimentos dos seres humanos quando experimentam esse complexo e descreve a essência de sua constituição. De acordo com Freud, o complexo de Édipo sugere a inclinação para ações incestuosas e parricidas às quais todos os indivíduos são propensos, como resultado de sua herança arcaica. Freud afirma que deve haver uma voz, dentro de nós, preparada para reconhecer o poder implacável do destino em Édipo. "Seu destino comove-nos apenas porque poderia ser o nosso— porque o oráculo lançou sobre nós, talvez, antes de nascermos, a mesma maldição que caiu sobre ele.’ (ibid., 289). A fábula de Édipo é uma resposta fantástica para esses sonhos típicos (matar o pai, casar com a mãe) e, da mesma forma com que os adultos os experienciam com desgosto, também a saga deve incluir horror e autopunição.
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