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imagos infantis. O outro aspecto, que Laplanche chama de “transferência em oco”, é a reiteração do relacionamento com o outro como portador de mensagens enigmáticas (Laplanche, 1992). É “provocada” pelo analista, na medida em que ele/ela confronta o analisando com o seu enigma e sua “recusa a saber” - essa posição torna claro o relacionamento com os enigmas da infância do paciente. No coração da situação transferencial, um processo progressivo de “de-tradução” e “re-tradução” permite que o analisando “re-aproprie” mensagens excluídas (Laplanche, 1999). Desde essa perspectiva, “ o luto é o paradigma da simbolização”. A transferência como um processo – juntamente com o sonho – funciona na direção oposta à do luto. Repetir na transferência significa tentar recuperar o objeto perdido (ou o relacionamento), em vez de lamentá-lo e simbolizá-lo; portanto, a transferência funciona na mesma direção que o sonho: ambos tendem a negar a ausência; eles tendem a re-apresentar (apresentar de novo) aquilo que não pode ser simbolizado; sendo assim, ambos trabalham na direção oposta ao luto. Isso significa que a transferência e o sonho compartilham uma qualidade “alucinatória”, na medida em que tendem a moldar a experiência de acordo com os esquemas inconscientes, em vez de reconhecerem a realidade da ausência ou da perda. V. D. Laplanche e Freud: uma leitura Franco-canadense Uma linha de pensamento influente no Canadá francês mantém a transferência como sendo, de fato, a característica mais importante e mais distintiva do tratamento psicanalítico. A partir dessa perspectiva parcialmente inspirada pelos escritos de Jean Laplanche, levar em conta a transferência é o que torna um tratamento “psicanalítico”. Além disso, nenhuma reconstrução “genética” da história do paciente terá tanto peso quanto o que é trazido à vida dentro da transferência. A transferência é vista como uma das formas mais fortes de resistência — e o instrumento mais eficaz do trabalho de análise. Enquanto a transferência é uma forma de resistência, na medida em que tende à repetição dentro do relacionamento com o analista, em vez de “recordar”, o termo “recordar” deve ser entendido não como um processo de recuperação de memórias, mas como aquele de reconstrução da sua própria psique. (Scarfone, 2011) Scarfone reconhece dois tipos de transferência. A primeira é uma transferência básica e positiva em relação ao analista como um profissional de confiança, que se acredita estar a serviço dos interesses de longo prazo do paciente. Isso foi chamado por Freud de uma transferência “paterna”, mas isso não é o que mais importa. O importante é que sem essa transferência de base, a análise não é possível. (Essa é a base da aliança terapêutica e de trabalho, no vocabulário Norte-americano). Essa transferência positiva não é uma resistência e não deve ser interpretada. Uma vez não interpretada, deixa-se que ela trabalhe em favor do processo contínuo de análise. O segundo tipo é denominado “transferência propriamente dita”: que permanece como uma resistência, não importa se negativa (hostil) ou “positiva” (por exemplo, fortemente erótica ou apaixonada). Esta transferência propriamente dita se subdivide em duas subclasses que podem
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