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inextricável entre o que chamamos de sujeito e objeto” (1970, p. 55). Nisso, ele estava em sintonia com a desconstrução filosófica pós-moderna da objetividade na ciência, uma tendência intelectual que influenciou, em última análise, todo o campo da psicanálise, especialmente a escola relacional (veja abaixo). Na visão de desenvolvimento de Loewald, “as relações de objeto… não [são] meramente regulativas, mas fatores constitutivos essenciais na formação da estrutura psíquica… O processo psicanalítico e… os processos iniciais do desenvolvimento revelam a origem e natureza interacional da realidade psíquica…” (1970, p. 67) Escrevendo sobre “a neurose transferencial” e sustentando a importância da centralidade da situação edípica, ele ampliou o sentido de um processo analítico enquanto cena co-criada de “transferência e contratransferência” (Loewald, 1971). Assim, ele usou a expressão “transferência” -- em geral relacionada a uma figura singular -- para também se referir às várias figuras transferencialmente influentes, aquelas que tiveram papel importante na formação da criança, codificadas na sua mente em crescimento, processo que incluiu o julgamento da criança sobre as relações emocionais de seus cuidadores uns com os outros - todos aqueles que foram internalizados, a serem novamente externalizados na análise, de modo verbal e não- verbal. Ele faz uma analogia da situação analítica e das transferências e contratransferências emergentes com uma peça teatral montada pelo paciente, onde o analista é co-criador do roteiro que está sendo escrito pelo paciente, e na qual, gradualmente, em crescente autonomia, o analisando vai assumindo a sua própria interpretação desse roteiro. (Loewald, 1975). VI. B. Influência de Heinrich Racker para ampliações adicionais ao conceito na América do Norte Enquanto a Psicologia Norte-Americana do Ego dominou grande parte da psicanálise da região, os estudos seminais do argentino Heinrich Racker sobre contratransferência encontraram uma recepção amigável na escola interpessoal norte-americana de Harry Stack Sullivan. As primeiras publicações de Racker (1953, 1957, 1958b) enfatizaram não apenas a ubiquidade da contratransferência e a sua natureza contínua, mas também os seus aspectos interpessoais e relacionais, possivelmente os mais importantes. Racker também acrescentou dimensões essenciais, desenvolvimentais e genéticas (isto é, individuais e históricas). Para ele, transferências e contratransferências na situação analítica são necessariamente diádicas, envolvem sentimentos, fantasias, impulsos e memórias interpenetrantes, tanto do paciente quanto do analista, bem como os seus impactos mútuos e as interações entre si. Ele concebeu a transferência-contratransferência em termos das relações de objeto, especialmente na repetição das relações mais precoces e introduziu os termos “complementar” e “concordante” para descrever os seus padrões típicos de reciprocidade. O trabalho de Racker e sua visão sobre a inseparabilidade da transferência/contratransferência foram sendo, lentamente, integrados ao pensamento norte- americano dominante, tanto que é difícil que um artigo clínico aceito para o Journal of the American Psychoanalytic Association não contenha, em sua ilustração clínica, alguma descrição da dimensão transferência/contratransferência. A integração do envolvimento das duas pessoas na transferência/contratransferência contribuiu para que houvesse algum grau de
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