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criativas similares. As noções clínicas contemporâneas sobre “transferências escondidas” e “ciclos de transferência” (abaixo) são exemplos da atual complexidade desta escola: Abend (1993), expandindo a noção da ubiquidade da fantasia inconsciente, com suas manifestações em camadas, identificou transferências sutis, idiossincráticas, “escondidas” na situação total. Ele escreveu; “minha própria experiência clínica fez com que eu me tornasse crescentemente mais atento ao idiossincrático, aos momentos bastante sutis em que os pacientes constróem a situação analítica em conformidade com suas necessidades emocionais. Isto se constitui, em geral, de contínuas experiências de gratificação transferencial, que podem ser muito difíceis para o analista detectar e ainda mais difíceis para que o paciente delas desista. Há algumas variedades do desejo transferencial que não estão tão sujeitas ao desapontamento e frustração, pelos limites da situação analítica, como outras tais como o desejo de ser levado a sério por um ouvinte atento. Isso coloca um problema técnico que merecerá estudo, mais adiante. Creio ser vantajoso procurar pelas transferências escondidas em cada caso, em uma base individual, sem empregar qualquer fórmula potencialmente restritiva, derivada do esquema de desenvolvimento preferido pelo analista…” (Abend, 1993, p. 644). Ellman and Moskowitz (2008) conectam o caráter repetitivo da transferência à uma visão do tratamento em termos de ciclos transferenciais, relacionados à confiança analítica, ao self verdadeiro, a conflitos e a relações de objeto: “... cada novo ciclo envolve, pelo menos, uma renovação da confiança na análise. A confiança é bidirecional e a confiança que o analista tem no paciente inclui sua ajuda e permanência ao lado do paciente até que ele encontre a sua própria voz e construa a realidade ao seu próprio modo. Desta forma, a realidade é experienciada à medida em que é construída … Não obstante, os conflitos do paciente e o seu self verdadeiro são vistos como essencialmente contidos dentro do paciente. A forma com que a relação é construída dependerá da particularidade do par analítico, mas nós acreditamos que existe um verdadeiro self que não é uma construção. Cada ciclo transferencial dá início a um novo aspecto de uma relação de objeto em que a confiança é, ela mesma, reforçada a partir de duas direções diferentes. Inicialmente, o analista entra no mundo do paciente e, quando uma separação natural surge e é tolerada, cada membro do par começa a expressar suas visões do relacionamento. Estar apto a utilizar o outro em nossa mente é um aspecto crucial dos benefícios do insight na situação analítica…” (p. 825). VI. D. Foco Interpretativo: Transferência versus Extra-transferência Como se pôde observar na introdução, foi questionado em que medida a análise da transferência, com o seu corolário, é a única forma efetiva de interpretação e se a atividade interpretativa do analista deveria se limitar apenas a intervenções relacionadas à transferência. Ainda que exista uma minoria dentre os analistas norte-americanos atuais que acreditam serem as interpretações transferenciais as mais efetivas, a maioria acredita que existem muitos problemas na vida do paciente que podem chamar a atenção do analista, já que seus afetos predominam nas comunicações da hora analítica e eles estão vinculados à transferência. Consequentemente, esses analistas sustentam que a interpretação do conflito inconsciente enfocada em relações extra-transferenciais pode ser conveniente, pois ali está o afeto predominante. No entanto, a maioria dos conflitos inconscientes patogênicos tende a se ancorar
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