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“A Interpretação dos Sonhos” (1900), que fala da transferência proveniente de ideias inconscientes transferidas para representações pré-conscientes; e aquela apresentada no caso Dora (1905), referente à transferência para a pessoa do analista, que, de acordo com Freud: “(...) são reedições, reproduções das moções e fantasias que, durante o avanço da análise, soem despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica (própria do gênero) de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico. Dito de outra maneira: toda uma série de experiências psíquicas prévia é revivida, não como algo do passado, mas como um vínculo atual com a pessoa do médico". (Freud, 1905, p.111). A primeira versão da transferência é aquela encontrada no discurso do analisando, a regra da associação livre e que, graças à forma particular da escuta analítica, diz muito mais do que poderia aparecer no nível manifesto: em função da nossa capacidade como analistas, escutamos o discurso latente nas palavras que o analisando escolhe, do mesmo modo como pensamos que, nos sonhos, a ideia reprimida é transformada e representada por imagens: pensamentos de uma natureza mais primitiva. Cesio dá ênfase especial à contratransferência, que revela a totalidade da contribuição feita pelo analista, que forma com o analisando um par indissolúvel no processo desenvolvido na intimidade da sessão. Ambos estão envolvidos em um setting abstinente, sem o qual a sessão analítica não poderia acontecer. Tanto a transferência quanto a contratransferência ameaçam vir a se tornarem resistências à cura - enquanto elas mesmas são, de fato, resistências -, a menos que se tornem conscientes, e, dessa forma, se transformem em ferramentas essenciais na análise. Cesio realçou o conceito do ‘atual’ (N.T.: actual no original) e fez contribuições pessoais sobre isto. (Cesio, 2010). Cesio examina a sessão desde a perspectiva da teoria dos sonhos e, dessa forma, entende que o analista funciona como um resíduo diurno: compartilhando os traços do recente e do insignificante, ele pode receber adequadamente a transferência dos objetos internos do paciente. O seu modo de escutar as palavras do paciente lhes concede um significado de ‘associação livre’. Através da transferência intrapsíquica, as palavras do paciente mostram a experiência emocional que está presente na sessão. A abstinência em que a análise se desenvolve inclui, implicitamente, a proibição contra qualquer atividade sexual direta, e, assim, ela se torna um tabu, ou seja, incestuosa. À medida em que a análise progride, vão surgindo diversas experiências mentais, que se caracterizam por sua ‘atualidade’ (N.T.: ’actuality’, que pode também ser traduzida por ‘realidade’), sua atemporalidade, pois elas constituem um eterno presente, um ‘agora’ que, demanda, peremptoriamente, uma satisfação impossível. O analista assume o lugar do superego - o casal parental - e as correntes incestuosas que estavam reprimidas encontram expressão, agora, na relação inconsciente do paciente com o analista, modelando as transferências fundamentais. Mantendo o paralelo com o trabalho dos sonhos, Cesio afirma que, sem a intervenção do analista, a sessão seria como um sonho de angústia, que poderia vir a se tornar um pesadelo, o que, consequentemente, acarretaria a interrupção do processo.
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