Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

Retornar ao sumário

A teoria psicanalítica considera a existência de um inconsciente, uma formação sepultada, ‘morta’, o ego ideal. Trata-se de uma estrutura inconsciente, que pode ser deduzida da letargia e de certas manifestações ‘atuais’, resultantes do trauma original: a castração fálica. Em sua constituição, encontramos o trágico, o complexo de Édipo, sepultado primariamente. Ela é ideal por conter uma parte do Id que não atingiu o ego pós-natal. Ela é o que jamais foi consciente e que, portanto, nunca foi reprimido. É o inconsciente sepultado, atemporal, infinito, ‘atual’ (N.T.: ’actual’ no original). Manifesta-se na neurose atual, sem palavras, silenciosa e com manifestações corporais como angústia, letargia e outras doenças somáticas. Tem por base as protofantasias edípicas que constituem o ego primário. Quanto ao conceito do ‘morto’, trata- se de uma construção formada a partir de elementos sepultados, que descobrimos na letargia e que se tornam conscientes através de representações de morte, dentre as quais, as representações de aborto são paradigmáticas, além de terrores noturnos, pesadelos, deus, vampiros, fantasmas, assombrações - e a neurose atual. Previamente, em 1956, Racker apresentou um caso clínico sobre reação terapêutica negativa, cujo aspecto essencial era a presença de objetos ‘mortos’ e a imobilidade do mundo interno do paciente. No ano seguinte, descreveu outro caso, em que ele lidava com o tédio e a sonolência do analista. (Racker, 1957). Cesio concorda com Freud e com Racker que, quando se fala em transferência e contratransferência, não há espaço para dilemas éticos ou morais, apenas para considerações sobre uma boa técnica. O analista, em sua resposta transferencial neurótica, toma as demandas sexuais de seu/sua paciente de modo a que sirvam às suas próprias finalidades e, nesse sentido, algumas vezes, o analista tenta, inconscientemente, seduzir o seu/sua paciente desamparado. Os pacientes sempre ficam gratos ao analista, quando ele mantém o seu desejo de analisar. O drama do analista é que a técnica, o setting abstinente, evoca transferências sexuais incestuosas, ao mesmo tempo em que as frustra. Essas são transferências ‘reais’, ou seja, nem uma encenação imaginária, nem a realidade. O progresso da análise é um balanço instável. Se ela permanece no imaginário, então, o inconsciente real cresce até que acabe transbordando, por fim, em um acting out : realidade. Freud emprega o conceito de ‘atual’ quando investiga as neuroses atuais, que ele considera a base de todas as psiconeuroses, uma vez que toda a produção mental é baseada em uma atual (N.T.: actual one no original). Para Cesio, este é o ‘real’ além do tempo e do espaço. Aquilo que se apresenta como ‘atual’ corresponde ao que foi sepultado, Untergang . A experiência transferencial que ocorre numa sessão entre analista e analisando é ‘atual’, sua natureza sexual é tão genuína como o foi a experiência que está sendo repetida, ao invés de ser lembrada. A inclusão do analista como um protagonista introduz a análise das neuroses atuais e das desordens com uma representação somática na sessão psicanalítica. Manifestações transferenciais ‘atuais’, como ansiedade, hipocondria, letargia e desordens físicas permitem que o analista lhes atribua um significado, e que ele possa definir

341

Made with FlippingBook - Online catalogs