Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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compreender as circunstâncias do tempo presente com os modelos do passado e dentro do Princípio da Realidade (experiência), e os impulsos inconscientes que, submetidos ao Princípio do Prazer tomam o presente pelo passado, em busca de satisfação, de descarga (transferência). Ele enfatiza o papel repetitivo da transferência liderada pelos impulsos de morte e a resistência à transferência mobilizada pelo Princípio do Prazer, pela libido. Quanto à contratransferência, Etchegoyen aponta que H. Racker, na Argentina (e também, ao mesmo tempo, Paula Heimann em Londres) aqueles que chamaram atenção para o papel desempenhado pela contratransferência como um instrumento sensível. Etchegoyen sugere que os sentimentos e impulsos contratransferenciais surgem no inconsciente do analista como resultado da transferência do paciente. (p. 297). A transferência do paciente é o ponto de partida, enquanto a contratransferência é o seu contraponto, sendo, ambas, geradas dentro de um setting. O setting funciona como uma referência contextual que cria uma relação não convencional e assimétrica. “O analista poderia responder à transferência do paciente de uma forma absolutamente racional, mantendo-se, sempre, por assim dizer, a nível da aliança de trabalho, porém os fatos clínicos provam que o analista responde em princípio com fenômenos irracionais, onde são mobilizados conflitos infantis. Nesse sentido, trata-se claramente de um fenômeno transferencial do analista, mas esse fenômeno, se queremos preservar a situação analítica, tem que ser duma resposta ao paciente, senão teríamos que dizer que não estamos dentro do processo analítico, mas sim reproduzindo o que ocorre na vida corrente entre duas pessoas em conflito”. ( Etchegoyen, 1987, p. 149) A transferência é, ao mesmo tempo, passado e presente. O inconsciente é atemporal, salienta Etchegoyen, e a cura consiste em dar temporalidade a ele. Por essa razão, memória, transferência e história são inseparáveis. O analista deve ajudar o paciente a mesclar o passado e o presente em sua mente, deixando para trás os mecanismos de repressão e de splitting que tentam separá-los. Para Etchegoyen, não é suficiente relacionarmos a transferência ao passado; ao contrário, a situação somente poderá ser resolvida se nós reconhecermos o hic et nunc da transferência; ou seja, aquilo que está acontecendo no presente também precisa ser levado em conta. Considerando a interpretação da contratransferência, essa deveria ser feita de um modo capaz de prevenir que se transformasse em um mero ato de ‘nivelar-se com’ o outro. Portanto, para que a transferência se torne um instrumento técnico, é através da interpretação que ela deve ser assimilada. Dessa forma, a confiança do analista em sua própria capacidade para pensar se recupera. Baseado no conceito de transferência apresentado em dois textos freudianos: “ A interpretação de Sonhos” (1900) e no pós-escrito do caso Dora (1905), Etchegoyen diz que Freud discute duas ideias diferentes sobre a transferência, mas que são, apesar disso, conectadas: uma leva em conta a pessoa do analista (já nos “Estudos sobre a Histeria”, de 1895, ainda de modo rudimentar, mas, principalmente, em “Fragmentos de uma análise de um caso de Histeria” [Dora] de 1905), enquanto a outra (no capítulo sete da “Interpretação dos Sonhos”) descreve o mesmo fenômeno desde a perspectiva do trabalho dos sonhos. Como afirmamos acima, há dois

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