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processos psicológicos diferentes, embora conectados de algum modo: ambos têm suas raízes na infância, e em ambos o presente e o passado se confundiram. “A transferência é uma peculiar relação de objeto de raiz infantil, de natureza inconsciente (processo primário) e, portanto, irracional, que confunde o passado com o presente, o que lhe dá seu caráter de resposta inadequada, desajustada, inapropriada”. (Etchegoyen, 1987, p. 54) Etchegoyen descreve um fenômeno particular, no qual o processo analítico chega, insidiosamente, a um impasse que tende a se perpetuar, ao mesmo tempo em que o setting se mantém preservado. A existência desse fenômeno não é evidente, porém, ele é arraigado na psicopatologia do paciente e envolve a contratransferência do analista. Etchegoyen cunhou o termo ‘impasse’ para este fenômeno, que consiste em um grupo de estratégias adotadas pelo paciente no intuito de atacar e obstruir o desenvolvimento da cura. As estratégias do paciente podem incluir: acting out , reação terapêutica negativa e reversão da perspectiva. Essa última consiste em um tipo particular de pensamento, que visa a evitar a dor mental a qualquer custo: o sujeito, habilmente, ‘rearranja as coisas’, de modo a ajustá-las ao que ele pensa. É assim que a interação se torna estagnada. Aqui, Etchegoyen utiliza o conceito bioniano de splitting forçado (N.T.: static splitting no original ). Embora em um nível manifesto o paciente pareça concordar com o analista, ele, de fato, permanece fixado em suas próprias premissas as quais, no entanto, ele não comunica, ou talvez nem mesmo delas tem conhecimento, já que são inconscientes. Assim sendo, o paciente reinterpreta as interpretações do analista, de modo a que combinem com suas próprias premissas. Deve-se salientar que, em geral, o analista só se dá conta disso quando o processo já alcançou um completo impasse. Segundo Etchegoyen, a reversão da perspectiva, que põe em cheque o contrato analítico, costuma aparecer desde o começo. Nos casos mais sérios, como destaca Bion, isto constitui um fenômeno semelhante à alucinose. Fenômenos mnemônicos e perceptivos, tais como interpretações delirantes costumam aparecer quando a tarefa analítica ameaça balançar a própria estrutura do paciente. No entanto, o que não deve ser esquecido jamais é que esses pacientes chegam à análise porque eles querem ser curados. VII. Ad. Mauricio Abadi Em sua publicação “A transferência”, Abadi (1982) afirmou: “Se antes de Freud a psicologia era uma ciência que se desenvolveu dentro de uma dimensão de tempo, como a música, com Freud a psicologia se tornou uma disciplina que se desdobra como numa pintura, nas dimensões de um espaço virtual” (p.4) Todo o ser humano é um agente ativo de transporte (uma noção conectada ao termo transferência) em direção a um objeto, um agente de substituições. Transferência (Übertragung), de acordo com Abadi, é a substituição e o deslocamento (Verschiebung) de afetos de um objeto para outro objeto, substituto. Não apenas a transferência é responsável pelo amor do analisando, mas qualquer tipo de amor é um amor transferencial. Dentro da transferência um ‘processo de presentificação’ é
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