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A transferência acontece em dois estágios, o primeiro corresponde à desestruturação de algo que pode ser o sintoma e o segundo, a reestruturação (ou a estruturação de algo novo) que substitui o sintoma desestruturado, o que chamamos transferência. Abadi (1980) enfatiza o primeiro estágio, que pode, algumas vezes, ter curta duração e que envolve não apenas a desestruturação de um relacionamento, como também a perda da realidade. O que é transferido, de fato, não é real: poderíamos chamá-lo de falo, de onipotência, de plenitude, de imoralidade. Em suma: a suspeita de que “tudo o que existe no outro é uma garantia de que, algum dia, me será dado, será uma parte minha” (Abadi 1980, p. 698). Ele estabelece uma comparação entre a transferência e o processo psicótico: ocorre uma certa perda da realidade e o objeto real é desconhecido. O fato de a transferência ser inconsciente favorece não somente o desencadeamento do processo primário (substituição ou deslocamento), mas também se torna a condição para a manutenção do relacionamento que foi transferido. Por outro lado, o paciente tem alguma suspeita, de natureza introspectiva, de que algo estranho está lhe acontecendo, mas ele não consegue entender o que é. A convicção delirante, geralmente induzida pela transferência, de que a pessoa é alguém que, de fato, não é, foi reprimida, mas brechas no processo de repressão geram uma formação de compromisso com a qual tendem a reprimir a convicção. Portanto, Abadi estabelece uma distinção entre a transferência típica do psicótico - para quem o outro é apenas um espelho distorcido no qual ele vê parte de seu próprio ego refletido, ou o precipitado de uma relação libidinal com o objeto - e um outro tipo de transferência, típica dos pacientes neuróticos, em que inferimos a transferência reprimida e da qual somente podemos ver um produto, um ‘híbrido’, típico de todas as estruturas características das formações de compromisso. Abadi entende que a transferência propriamente dita é inconsciente e que a assim chamada transferência neurótica é uma formação de compromisso semelhante a um sintoma. A tarefa psicanalítica nos casos de neurose será a de dissolver as falsas conexões, enquanto que nos casos de pacientes psicóticos tal observação se mostrará sem sentido e dispensável e “a única coisa a fazer é oferecer interpretações que aniquilem a transferência propriamente dita" (Abadi,1980, p. 700 ). VII. Ae. Willy Baranger and Madeleine Baranger Em 1946, Willy e Madeleine Baranger vieram da França para a Argentina, e se associaram ao movimento psicanalítico que estava se desenvolvendo. Mais tarde, eles se mudaram para Montevidéu, onde também ajudaram a constituir a Associação Psicanalítica Uruguaia. Em 1966, eles voltaram para a Argentina, onde ficaram até o fim. Os Baranger acreditam que o processo analítico é um movimento dialético no qual processo e não-processo coexistem. Quando o processo analítico para, é o analista quem deve descobrir o obstáculo que estaria atrapalhando o curso do processo. Então, eles sugerem que deva ser lançado ‘um segundo olhar’, que inclua tanto o analista quanto o paciente,
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