Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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constituindo, assim, um campo dinâmico. Este obstáculo não envolve apenas a transferência do analisando, mas também a contratransferência do analista. Cada analista volta sua atenção para o ‘segundo olhar’, assim que ele tenha desistido da ‘atenção livremente flutuante’ e, esse momento do processo é marcado, dentre outras coisas, pelo surgimento de experiências corporais, movimentos imaginados ou o aparecimento de certas imagens. Todos são indícios de que novas estruturas - fantasias inconscientes compartilhadas pela dupla e que são, além disso, o resultado de um interjogo de identificações recíprocas - emergiram do setting analítico. As dinâmicas do campo são apresentadas pelas transformações dessas fantasias que, por sua vez, são aquelas que dão ao campo analítico marcos da ambiguidade do tempo e espaço e suas qualidades ‘como se’. Os Baranger foram influenciados pelas ideias de Merleau Ponty e de K. Lewin, para desenvolver a sua teoria do campo. O sujeito e o objeto funcionam como um campo, e um define o outro. Ou seja, não se está referindo a dois corpos diferentes, ou a duas pessoas diferentes, mas sim, a dois sujeitos divididos, divisão esta, resultante de uma triangulação inicial. O par analítico constitui uma tríade, onde um de seus membros está corporalmente ausente, mas está presente como experiência. Consequentemente, os Baranger substituem a noção de campo dinâmico por aquela de campo intersubjetivo. Eles privilegiam os aspectos corporais e emocionais da comunicação analítica e, além disso, estabelecem uma distinção entre os conceitos de setting e de processo. Como produto dessas dinâmicas, gera-se uma neoformação, uma estrutura cristalizada, estagnada, que obstrui o processo, a qual eles chamam de ‘baluarte’. Essa estrutura é formada em torno de uma organização fantasmática, envolve importantes aspectos da história pessoal de ambos os participantes e atribui um papel imaginário e estereotipado a cada um. O paciente tem a tendência de evitar referir-se a esse papel, que poderia ser conectado a sua ideologia, seu objeto de amor imaginário, fantasias aristocráticas, ou o estado de suas finanças. Para o analisando, o baluarte é um refúgio inconsciente para fantasias onipotentes. Ele não deseja abrir mão deste refúgio, porque isso significaria que ele entraria num estado de vulnerabilidade, de desamparo e de desesperança. Romper o baluarte significa redistribuir aspectos dos participantes envolvidos (analista e analisando). Portanto, constitui uma dessimbiotização. A forma mais extrema dessa simbiose indica um estado de parasitismo (o analista se sente como se estivesse sendo habitado pelo analisando, e como tal, fica preocupado com ele também fora das sessões). Isto pode terminar em uma ruptura violenta da situação analítica ou, em contraste, na continuação do processo somente se as identificações projetivas do paciente retornarem para ele. Dessa forma, o processo analítico parece ser constituído pela produção de resistências e de baluartes. Suas dissoluções, mediante a interpretação, criam insights e as indicações de insight, por sua vez, abrem uma visão de futuro, evidenciada pelo surgimento de novos projetos e de sentimentos de esperança. Os autores também salientam que, por vezes, alguns sinais positivos apresentados pelo paciente estão, de fato, apenas acobertando um não-processo, no intuito de ‘fazer o analista

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