Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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ou os Nazis – querendo controlar e punir o ego por não ser perfeito. Esta é uma manifestação do conflito primário, entre ego e superego, na psique. A princípio o ego é pequeno e indefeso, como o bebê; neste estado o ego necessita de um objeto que o ajude a sobreviver. Esse objeto necessário quase sempre recebe qualidades onipotentes para retificar os medos do ego, devido a sua falta de poder para valer-se por si mesmo. Como na teoria de Freud, Klein acredita que o ego cria sua visão inicial a respeito dos seus objetos sobre o brilho da onipotência. Ter um objeto onipotente, o superego, faz o ego acreditar que, mesmo ele não sendo o detentor desta onipotência, o seu superego é. Isto faz com que o ego elimine a sua própria existência separada e se fusione com o seu onipotente e fantasiado objeto interno, ou seja, que haja uma identificação projetiva com um objeto interno. O ego renuncia à sua independência para se sentir protegido de forma onipotente, como num trato Fáustico. Assim, o ego tenta resolver seu conflito entre os instintos de vida e morte, amor e ódio, onipotência e realidade, pela arte da magia da identificação projetiva. III. D. Wilfred R. Bion Enquanto Klein expandiu a noção de conflito em Freud, incluindo as relações de objeto – tanto internas quanto externas – Bion (1955) expandiu a teoria do conflito na área das funções mentais. No período inicial Bion (1957) teorizou um conflito inerente entre as partes sadias e psicóticas da mente , baseando-se, respectivamente, nos instintos de vida e morte. A parte psicótica da mente não quer conhecer a realidade, tanto a externa quanto, e mais importante, a interna. Onde Klein observou a mente lidando com o conflito por meio da cisão, Bion (1959) se referiu a um mecanismo mais primitivo e destrutivo, que ele nomeou de “ataques ao vínculo”. Os ataques ao vínculo entre dois objetos, ou duas partes da mente, é um método psicótico de lidar com o conflito, eliminando qualquer conexão que coloca em contato dois objetos separados. A teoria de Bion se baseia em sua concepção de conflito primário. Como ele diz: “O problema é a resolução do conflito entre narcisismo e social-ismo” (Bion, 1962a, p. 136), que é uma reformulação da tensão entre as relações de objeto narcísicas e a escolha saudável de objeto, de Freud, e a distinção entre as posições esquizoparonoide e depressiva, de Klein. O conflito implícito que gera os ataques ao vínculo é aquele entre fusão e separação. Esta ideia levou Bion (1963) a modificar o conceito de Complexo de Édipo. Para ele, tal complexo não evoca, primeiramente, um conflito entre sexualidade e instinto assassino, entre Laio e Édipo, por exemplo, mas entre a busca pela verdade e a ignorância da mesma, entre Tiresias – o vidente que sabe a verdade – e Édipo. Posteriormente, Bion desenvolve este conflito em seus livros Aprendendo com a Experiência (1962b) e Elementos da Psicanálise (1963), onde ele escreve que há três tipos de vínculo que podemos estabelecer com o objeto: L(love – amor), H(hate – ódio) e K(knowing – conhecimento). L e H são os aspectos tradicionais do Complexo de Édipo, K é a conceituação adicional de Bion. Aqui, ele pensa um mundo de anti-vínculos que está dominado pelo grande conflito das funções mentais entre K e menos K, entre desejo de estabelecer vínculos e saber, e o desejo de atacar os vínculos e não saber, que são correlatos dos instintos de vida e morte.

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