Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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III. E. Donald W. Winnicott Winnicott oferece uma alternativa de relação de objeto ao modelo de conflito da mente. No primeiro livro de coletânea de artigos, escritos em 1930 até meados de 1950, “Da Pediatria à Psicanálise” (1978), ele formula, de forma gradual, as suas contribuições a respeito das dinâmicas do desenvolvimento nos primeiros anos de vida e neurose infantil, juntamente com a preocupação materna primária , o trauma, a regressão, a transferência e a contratransferência. O seu modelo tem como ponto de partida o conceito que recebeu o nome de não integração , que é o primeiro estágio do desenvolvimento (Winnicott, 1945). Enquanto Klein tendia a considerar a mente primitiva como desintegrada, por conta da cisão, da identificação projetiva e de outras defesas, baseadas na onipotência infantil, Winnicott via essa mesma mente primitiva como ainda não integrada . Por esta razão, para Winnicott a mente não se encontra, no seu início, em uma situação de conflito, mas sim, em um estado de se integrar, o que, posteriormente, acaba produzindo os conflitos descritos por Freud e Klein. Para ele, até que a primeira integração aconteça, não há estrutura psíquica. Podemos entender o seu ponto de partida ao considerarmos que cada um, Freud, Klein e Bion, formulou uma teoria a partir do conflito instintual e emocional primário, que surge por meio das experiências de vida e morte, originárias do id. Esta ideia de conflito primário contrasta com a ideia de Winnicott de um estado ‘não integrado’, no qual os conflitos não estão presentes até que uma primeira integração aconteça. Então, pare ele “não existe id antes do ego” (Winnicott, 1962, p. 56); e o desenvolvimento do ego não se dá sem que exista uma mãe suficientemente boa, que oferece um ambiente de holding , que é o que vai permitir que o bebê comece a integrar as suas várias partes num ego rudimentar. Então, e só então, se dá início ao processo de formação de símbolos e de organização do “conteúdo psíquico pessoal”, que formam uma base para as relações vivas (Winnicott, 1960, p. 45). Como ele próprio diz, nesse estágio “o bebê ainda não é uma entidade que tem experiências” (1962, p. 56). Ao contrário, Klein acreditava que existia um ego rudimentar, com alguma consciência da realidade, bem como processos projetivos e introjetivos desde o nascimento. Para ela, o bebê nesse estágio está tendo experiências. Em seu segundo livro de coletânea de artigos, escritos no final dos anos 50 e início do 60 “O Ambiente e os processos de Maturação” (Winnicott, 1965), vê-se em todas as cores o foco nos processos de maturação que devem ser fomentados por um ambiente que facilite o seu desenvolvimento. Winnicott (1960), comparando o seu posicionamento ao de Klein, assinala que ela reconheceu a importância do ambiente nos primeiros estágios do desenvolvimento, no sentido de que “seu trabalho a respeito dos mecanismos de defesa de cisão, projeções, introjeções, é uma tentativa de estabelecer os efeitos do fracasso do ambiente para o indivíduo” (p. 50). Entretanto, para Winnicott, não existe um indivíduo sem um ambiente. Enquanto Freud, Klein e Bion desenterram as complexidades das situações Edípicas, ele estava pensando o estado de ser pré -Edípico, onde, inicialmente, a mãe e o bebê formam uma unidade. Ao invés de voltar-se para o conflito inato, Winnicott se volta para a privação do ambiente . O estado de ser do bebê (Pré-Edípico) é o centro de suas preocupações. Para ele, o desenvolvimento não se baseia no conflito e sua resolução, mas mais em ser e sua continuidade.

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