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Nas diferentes perspectivas, interpessoal, intersubjetiva e relacional, desenvolvidas nas últimas três décadas, se tem prestado atenção na presença e função dos conflitos que podem ser intersubjetivos e inter-relacionais , derivados interna e externamente, e, em muitos casos, transgeracionais. Para as teorias relacionais a potência do conflito se baseia no encontro do indivíduo com a cultura em diferentes níveis. O conflito, provavelmente, irá emergir a medida que os indivíduos se relacionam, se tornam sujeitos ou resistem ao seu entorno cultural; especialmente quando eles habitam ou são habitados por alguma das muitas formas de identidades e personalidades não normativas (raça, classe, sexualidade, incapacidade, cultura e gênero). As formas de identificação conflitivas se encontram na vanguarda de inúmeras preocupações clínicas vistas no encontro com os pacientes, e são expressadas por meio de angústia e em dificuldades na matriz transferência-contratransferência. Em seu livro “Conceitos Relacionais em Psicanálise: Uma Integração”, Mitchell (1988) trabalhou o conflito dentro de diferentes configurações relacionais, resultado de experiências conflituosas com pessoas significativas. Manifestou-se contra a simplificação e declarou, anos mais tarde, em um “Comentário”: “retratar minha visão a respeito do conflito enquanto conflito entre a pessoa e outras pessoas em seu ambiente é um interpretação errônea desconcertante. De fato, um dos pontos centrais em meu livro de 1988 era distinguir as teorias relacionais centradas nos obstáculos ao desenvolvimento e teorias relacionais do conflito...” (Mitchell, 1995, p. 577). No trabalho de Dimen (2003), Layton (1998), Harris (2005), Corbett (2001a, 2001b), Goldner (2003) e outros, o conflito sempre se localiza dentro e entre sistemas, político e pessoal, social e psíquico. A partir desta perspectiva, influenciada pelo pós modernismo, feminismo e teoria queer , há um conflito inerente entre os regimes de vigilância e aqueles que defendem a individualidade e a saúde, e entre a normatividade e a liberdade. Estas contradições, que na teoria política são, as vezes, colocados como conflitos estruturadores de classe, etnia, cultura ou gênero são frequentemente experimentados pelo analista nos conflitos contratransfrenciais. Segundo o ponto de vista de Harris (2005), psicanalistas pós modernos se esforçam para alcançar um entendimento particular do paradoxo ou conflito, em que um número distinto, porém inter-relacionado, de estados do self podem coexistir – aqueles de curandeiro, policial psicanalítico, sujeito e objeto da teoria, e um que é produto de e está sujeito à culturas particulares, subgrupos e famílias. Para um certo número de perspectivas teóricas, o conflito (intersubjetivo, intrapsíquico e representado (N.T.: enacted no original)) está relacionado com o processo de mudança em si. O conflito é um aspecto inerente do desenvolvimento, e seus movimentos (macro e micro) estão carregados de poderosas experiências de desequilíbrio. Mudança em si é um estado conflitivo potencialmente complexo: com muitas direções e instável. Conflitos que emergem em condições de transformações relacionais ou psíquicas são produzidos por diferentes estados de afeto e vértices relacionais. Uma ideia central desta teoria é de que a pessoa em conflito se sente pega por duas ‘incumbências’ impossíveis (Apprey, 2015). O crescimento irá requerer separação, e a separação de objetos mortos ou moribundos pode ser sentida como intolerável. A mudança pode ser pensada como o momento no qual um conflito a respeito das tarefas psíquicas e
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