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liberdade mental cria um foco de luta perigoso ou mesmo um impasse. Se nomeamos isto como abismo ou o limite do caos, ou uma dramática jornada de separação carregada de medo, para alguns, talvez, de alguma forma, para todos os pacientes, é um ponto de máximo conflito e perigo. Podemos observar isto nos altos e baixos dos progressos em análises, bem como os reveses e pânicos quando mudanças psíquicas se iniciam ou são impulsionadas. O conceito de processo espiral da Teoria do Campo, de Willy e Madeleine Baranger (2006, 2009a, b), e a noção de catástrofe e de transformação de Bion (1965), são importantes raízes para o desenvolvimento do enfoque relacional. A catástrofe da mudança (Goldberg, 2008), e as formas do movimento e mudança psíquica são tanto o lugar do luto, bem como de seus impasses. Estas ideias estão relacionadas com um poderoso conjunto de conceitos que tem sido desenvolvido por J. Henri Rey. Em seu artigo “O que os pacientes trazem para a análise” (Rey, 1988), ele defende que os pacientes podem chegar ao tratamento com uma intenção oculta – com uma incumbência como diria Apprey (2015) – que é reparar os objetos danificados ao longo de sua história e que agora são parte de um mundo interno agonizante ou também danificado, ou seja: Curar o objeto (das fantasias internas) e então o paciente pode mudar. Esta é a enrascada conflitiva e impossível, na qual muitos tratamentos se desenrolam. A partir da perspectiva relacional sobre o poder do papel da contratransferência e da subjetividade do analista, podemos entender a concepção de Rey como o trabalho inconsciente do analista. Ao nos aproximarmos da questão sobre a resistência ansiosa à mudança e a determinação, colorida pelo conflito, em arruinar o processo de crescimento, devemos fazer as mesmas perguntas a respeito de tais medos e conflitos presentes na contratransferência do analista. Analistas da teoria relacional têm enfatizado a instrumentalidade da contratransferência e as poderosas formas em que o processo do analista interrompe e/ou facilita mudanças psíquicas no paciente. Examinando os escritos da teoria relacional com foco no lugar ou função do conflito, é importante notarmos que outras terminologias e outras preocupações conceituais preenchem os espaços teóricos onde, talvez, o mesmo surja. Dimen (2003) e Hoffman (1998), por exemplo, preferem o termo dialética . Ambos estão interessados nas tensões produtivas que aparecem sob certas contradições, principalmente entre analista e analisando, mas, internamente em cada um destes membros da díade. É importante salientar que contradição não é simplesmente não concordar ou pensar diferente, pelo contrário, por meio de várias interações o conflito intrapsíquico pode ser acionado e desenvolvido, e vice versa. Para Hoffman (1998), a principal fonte do conflito não é nem o sexo e nem a agressão, mas, a nossa profunda e conflituosa relação com a mortalidade. Ainda, por meio de outra importante analogia, o conflito – interno do analista, no início – entre “seguir as regras” e trabalhar de forma espontânea é comparado ao conflito vivido pela criança entre o rival Edípico e o objeto de amor. Esta analogia sugere como qualquer analista está inevitavelmente em dívida com uma visão de conflito centrada no sexo e na agressão, embora esses conflitos surjam por meio das mudanças de estados afetivos (Spezzano, 1998), espaço intersubjetivo (Benjamin, 1995, 1998) ou constelações relacionais (Davies, 1998, 2001). Benjamin (1998) defende uma visão nova e fluída, que enfatiza o intrapsíquico e interpessoal, onde motivação existe em ambos, em um nível interpessoal e a serviço da relação
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