Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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ansiedades, bem como aquelas adquiridas em relação ao seu bebê; uma mãe que tem uma capacidade bem desenvolvida para suportar a dor, contemplar, pensar e transmitir o que ela pensa de maneira significativa para seu bebê. Uma mãe que é separada, intacta, receptiva, capaz de reverie e apropriadamente doadora é, portanto, adequada para a introjeção como um objeto 'continente', e pouco a pouco, ao longo do tempo, a identificação de tal objeto leva a um aumento de espaço mental, o desenvolvimento de uma capacidade de fazer sentido e a evolução contínua de uma mente que pode pensar por si mesma. Isso é o que Bion passou a chamar de função alfa. Em “ Elementos de psicanálise”, 1963, Bion considera a relação dinâmica entre o Continente e o Contido, marcada por signos abstratos de ♂ e ♀, como sendo o primeiro elemento da psicanálise. O ♂ (Contido) aqui tem uma qualidade penetrante e o ♀ (Continente) uma qualidade receptiva/ receptora. Nesse contexto, ♀ e ♂ não se restringem ao significado sexual específico, não possuindo nenhuma conotação sexual específica. Eles representam variáveis ou incógnitas: as funções ♀ e ♂ presentes em todas as relações, independentemente de gênero. O ♂ (Contido) penetra no ♀ (Continente), que o recebe e interage com ele, levando à criação de um novo produto. O uso dos símbolos ♂-♀ destaca a natureza biológica da mente, incluindo os conceitos de Freud e Klein sobre sexualidade e configuração edípica. Em seus escritos posteriores, Bion enfatiza a reciprocidade entre as duas partes e o potencial de crescimento e intercâmbio entre elas. O paradoxo da relação dinâmica de Continente-Contido está em sua mutualidade recíproca: algo que contém e algo que está contido também desempenha as funções de continência e de estar contido, mutuamente. Em termos de desenvolvimento, isso significa que o seio, considerado um continente para as ansiedades do bebê, também pode ter função contrária: o bebê como continente para alguns aspectos da personalidade da mãe. Mais tarde, no contexto clínico, esta reciprocidade é destacada: “A indicação está na observação das flutuações entre o papel do analista ♀ e do analisando ♂ em um determinado momento, e que seguidamente invertem os papéis...” (Bion, 1970, p.108) (NT: Tradução livre a partir do texto em inglês). No todo, Bion enfatiza que “Conter” implica numa atividade e um processo que permite a formação do pensamento e da sua transformação em palavras; o que é oposto ao uso banalizado e restrito de conter e receber meramente como receptividade passiva. A descrição completa da complexidade e das muitas facetas e processos de transformação estão no centro de sua publicação de 1965 , “Transformações: do aprendizado ao crescimento ” Aqui, Bion introduz um conceito meta-teórico de "O", como o começo, mas também potencialmente o ponto final de processos transformadores multidirecionais. Ele engloba o impensável 'terror sem nome', 'elementos beta', 'coisas em si'; mas também a 'Realidade Última', 'reverência' e 'admiração' (Bion, 1965; Grotstein, 2011a, p. 506). Como o Continente-Contido faz parte do sistema científico dedutivo de Bion, a teoria do pensar (Bion, 1962a, 1962b, 1963, 1965, 1970), se faz importante nesse contexto. De acordo com essa ampla teoria, "pensamentos" e "aparato do pensamento" têm origens distintas, com "pensamentos" existindo independentemente de seu aparato de pensamento:

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