Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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conhecimento) e propõe uma nova abordagem que enfatiza a relação entre Continente e Contido. Os três tipos de elos são agora caracterizados como comensais, simbióticos e parasitários. Por comensal, ele quer dizer uma relação na qual dois objetos compartilham um terceiro para a vantagem de todos os três, por exemplo, fundamentos da cultura à qual o continente e o contido pertencem. Por simbiótico, ele entende uma relação na qual um depende do outro para benefício mútuo. Encontramos esse tipo de relacionamento onde a identificação projetiva é usada como comunicação, e o continente transforma isso em um novo significado para ambos. Por parasitário, ele quer dizer uma relação na qual um depende do outro para produzir um terceiro que é destrutivo para todos os três. Nesse caso, a identificação projetiva é explosiva e destrutiva ao continente. O Continente também é destruidor do conteúdo. O Continente despe o Contido de sua qualidade de penetração, e o conteúdo despe o Continente de sua qualidade receptiva (Bion, 1970, p. 95). O vínculo destrutivo implica o fracasso do Continente/Contido: no sentido de desenvolvimento, quando o bebê tem uma predisposição a agressividade ou inveja muito forte, ou quando possui baixa tolerância à ansiedade e medo em uma experiência frustrante, há momentos em que a mãe não consegue incentivar o bom crescimento, mesmo se possuir uma simples função de Continente. As correspondências e ações que a mãe retorna não são suficientes para o bebê aliviar a ansiedade e o medo, tornando-se difícil para o bebê introjetar sua função de continente, identificando-se e encaixando em si mesmo. Ao contrário, mesmo que a predisposição do bebê seja normal, quando a função de continente da mãe é insuficiente, esta não consegue compreender e assimilar a experiência de ansiedade projetada pelo bebê. Em tal situação, o que a mãe retorna para o bebê não é integrado e o significado é confuso, pois o bebê não pode aceitá-lo como sua própria experiência significativa. Assim, ao lado de + K, que favorece o crescimento, há o –K indicando uma relação simbiótica ou parasitária entre o sinal continente ♂ e o sinal contido ♀, que seria uma outra maneira de lidar com a situação emocional em oposição ao pensamento e seu consequente crescimento. Ou seja, uma relação que poderia levar à destruição mútua. Ao aplicar o conceito de continência aos sistemas sociais, Bion descreveu o conflito entre o grupo (ou ordem social fixa, a instituição), com o do místico, o indivíduo trazendo uma nova ideia potencialmente desestabilizadora para o grupo. O indivíduo representando a nova ideia precisa estar contido dentro do grupo, mas isso pode resultar na ideia sendo comprimida pelo grupo, ou o grupo sucumbindo sob a pressão desta. Com o aparecimento de -K, existe a presença da inveja e do medo, que colaboram decisivamente para o não desenvolvimento de pensamentos e criatividade essenciais ao modelo Bioniano de vida mental. A configuração -(♀, ♂) (menos continente-contido) leva à moralidade crescente e ao surgimento de um "super-superego que impõe a superioridade moral de desfazer e desaprender, e a vantagem de encontrar falhas em tudo (Sandler, 2009, pp. 262- 263). Nesse contexto, é interessante notar que em seu texto de 1970 “ Atenção e interpretação”, Bion se refere ao Continente-Contido modificado, inicialmente apresentado como uma Mudança Catastrófica, na qual haveria expansão de ambos os elementos.

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