Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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1987) . Freud considerava a mente do analista como instrumento, e seu bom funcionamento sendo obstruído pela contratransferência, pelas limitações impostas ao trabalho analítico pelos conflitos não resolvidos e pelos pontos cegos do analista. Desta maneira, a contratransferência era considerada como impedimento à liberdade do analista e à sua capacidade de entender o paciente. A contratransferência primeiramente deveria ser percebida e então superada. Ainda, em insinuações enigmáticas de contradições ou conflitos, totalmente verdadeiro ao seu auto-subversivo esforço teórico, que antecipa e modela uma multiplicidade de conceitualizações (Reisner,2001), em muitas de suas cartas e reavaliações de seu pensamento teórico, Freud também notou que seus pupilos haviam aprendido a tolerar uma parte de sua autoconsciência e autoconhecimento. O aprofundamento nesse conhecimento da contratransferência está de acordo com este princípio. Nesse contexto é importante ressaltar que o primeiro sonho reportado no texto que inaugurou a psicanálise, " A interpretação dos Sonhos” (Freud, 1900) é o sonho da injeção de Irma (1895): um sonho de contratransferência por excelência. Reconstruções históricas da vida de Freud durante sua autoanálise nos anos de 1895 a 1899 - coincidindo com seus escritos de "a Interpretação dos Sonhos” - por Harold Bloom (2008) e Carlo Bonomi (2015) revelaram a complexidade da transferência de Freud a Fliess, assim como a sua contratransferência à paciente em comum Emma Eckstein (Irma no sonho e mais tarde a primeira mulher psicanalista). Blum e Bonomi demonstram como essa contratransferência moldou o desenvolvimento teórico de Freud (entre outros assuntos: da bissexualidade à heteronormatividade, da teoria do trauma da sedução à conceitualizações psicanalíticas do desenvolvimento psicossexual, fantasia inconsciente e conflito intrapsíquico). Nesse contexto, o conceito de contratransferência exemplifica e ilustra a constante interação entre teoria e prática, do trabalho clínico e das conceitualizações, do nascimento da psicanálise até toda a sua posterior evolução. Freud introduziu o conceito, mas não deu o passo seguinte para explicitamente elaborar a contratransferência como uma ferramenta útil no trabalho analítico, um passo que ele deu com o conceito de transferência. A visão inicial explícita de Freud foi chamada de perspectiva “restrita" (específica) da contratransferência, e muitos de seus seguidores iniciais também aderiram a esta perspectiva “restrita”, como evidenciado nos textos primordiais de psicanálise, em apresentações e publicações em jornais (Stern, 1917; Eisler,1920; Stoltenhoff,1926; Fenichel, 1927, 1933: Hann-Kende,1936). A perspectiva restrita frequentemente usava uma formulação hifenizada de "contra-transferência" no inglês, enfatizando a resposta inconsciente (transferencial) do analista à transferência do paciente. Uma interessante especificação que surgiu dessa perspectiva foi realizada por Helene Deutsch (1926) quem introduziu a ideia de contra-transferência com uma ' posição complementar’ , que foi mais tarde elaborada na contribuição original de Henrich Racker. Ao observar o destino dessa definição restrita, pode-se perceber sua persistência, entre outros, nos trabalhos clássicos, dos defensores standard da técnica freudiana, tais como Annie Reich (Reich, 1951), como também, de uma outra perspectiva, nos de Jaques Lacan (1966/1977). Enquanto Reich enfatiza a ‘contra-transferência’ como obstáculo transferencial

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